Painel de cotações da B3 | Foto: Germano Lüders/Exame (Germano Lüders/Exame)
Guilherme Guilherme
Publicado em 26 de fevereiro de 2021 às 09h22.
Última atualização em 26 de fevereiro de 2021 às 09h57.
Apesar de todo o otimismo do mercado para este ano, 2021 tem se mostrado traiçoeiro para os investidores brasileiros. Desde o início de janeiro, o Ibovespa acumula queda de 5,68%% - a pior performance entre os principais índices de ações do mundo.
Sem conseguir acompanhar as altas do mercado americano e afundando junto quando o cenário internacional piora, o desempenho do Ibovespa já está quase 8 pontos percentuais abaixo do S&P 500, que acumula alta de 1,95%. Em 2020, foi de 13,3 p.p. a diferença entre os dois índices.
O pior desempenho se deve, principalmente, a dois fatores. Um deles, que já estava presente em 2020, é a preocupação sobre a sustentabilidade das contas públicas, em especial, com a possibilidade de um rompimento do teto de gastos.
No início de fevereiro, quando os candidatos do governo às presidência da Câmara e do Senado saíram vitoriosos, o Ibovespa subiu 4,5% em uma única semana, com investidores otimistas com o avanço de reformas necessárias para controlar os gastos.
Mas o tom positivo não durou muito. Pouco tempo após a vitória do governo no Congresso, a bolsa brasileira sofreu outro baque, agora provocado pela interferência do presidente Jair Bolsonaro na Petrobras.
Visto por muitos investidores como um sinal de abandono da agenda liberal com a qual o Bolsonaro foi eleito, a troca de presidentes da Petrobras gerou uma crise de desconfiança entre os investidores, com corretoras e casas de análise recomendando a venda de ações de estatais - não só da Petrobras.
Com as empresas do governo em queda livre na bolsa, o Ibovespa teve o pior desempenho em um único pregão desde abril de 2020, caindo 4,87% na última segunda-feira, 22.
Mesmo com tentativas de Bolsonaro aliviar a tensão dos investidores na última quarta, 24, com a entrega da MP da privatização da Eletrobras, o Ibovespa acumulava queda de 5,21% na semana até o início do pregão desta sexta-feira, 26, caminhando para a terceira perda semanal consecutiva.
Com a provável renovação do auxílio emergencial exercendo pressão sobre o teto de gastos e com a possibilidade de haver troca de comando no Banco do Brasil, o Ibovespa tem grandes riscos de fechar mais um ano atrás do mercado americano.
Ainda em janeiro, o presidente do Banco do Brasil, André Brandão, chegou a ter o cargo ameaçado por Bolsonaro, insatisfeito com o plano de demissão voluntária e redução de agência para reduzir as despesas do banco.
E embora a equipe econômica do governo tenha conseguido sua manutenção, segundo o colunista Lauro Jardim, o comando do banco segue na mira do capitão Bolsonaro, que não deve renovar o contrato de Brandão, previsto para encerrar no próximo mês.