Bolsa: Ibovespa abre em alta, mas reverte movimento com piora do cenário externo (NurPhoto/Getty Images)
Guilherme Guilherme
Publicado em 10 de setembro de 2020 às 10h38.
Última atualização em 10 de setembro de 2020 às 17h36.
O Ibovespa, principal índice da B3, caiu 2,43% nesta quinta-feira, 10, e fechou em 98.834,59 pontos. Esta foi a primeira vez que o índice fechou abaixo dos 99.000 desde 13 de julho. O movimento seguiu as quedas do mercado americano, onde as ações das principais companhias de tecnologia dos país tiveram uma nova rodada de realização de lucros. No radar dos investidores, esteve a rejeição de um novo pacote de estímulo no Senado americano, dados de desemprego nos Estados Unidos, decisão de juros na Europa e vendas no varejo brasileiro.
O Banco Central Europeu decidiu, nesta quinta, por manter a taxa de juros em 0% e a taxa de facilidade de depósito negativa, em -0,5. Os estímulos econômicos também permaneceram inalterados, e devem manter assim até 2021, de acordo com a autoridade monetária. No mercado, havia grande expectativa sobre anúncio de novas medidas de estímulo, como recentemente feito pelo Federal Resereve, o que não ocorreu.
Os pedidos semanais de seguro desemprego ficaram quase em linha com as expectativas nos Estados Unidos, em 884.000 ante 846.000 pedidos esperados. Por lá, os índices acionários abriram em alta, ainda em tom de retomada, mas reverteram o movimento no início da tarde. O índice S&P 500 fechou em queda de 1,76% e o Nasdaq, de 1,99%. "O mercado de Nova York está volátil, com os investidores assumindo maior cautela com sinais de que a pandemia continua afetando a economia global. Além disso, os dados mostraram rachaduras na força recente do mercado de trabalho e o Congresso americano segue distante de um novo projeto de lei para alívio dos efeitos da pandemia", afirma Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos.
O movimento negativo foi acentuado após o Senado americano rejeitar uma proposta de estímulo mais enxuta. "Isso contribuiu para a baixa das ações, mas não foi o principal driver, até porque as ações de tecnologia já vinham em queda mesmo antes da notícia", comenta Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos. Por lá, os papéis da Apple, Amazon e Microsoft caíram cerca de 3%.
Depois de registrar leve valorização na véspera, o petróleo voltou a ser negociados no campo negativo, caminhando para a segunda semana consecutiva de depreciação em meio às incertezas sobre a demanda. Nesta semana, o petróleo WTI e brent acumulam perdas de mais de 4%, depois de terem caído cerca de 5% na semana passada. A queda do preço da commodity impacta diretamente as empresas do setor na bolsa, com PetroRio e Petrobras que caíram cerca de 5,3% e 3,8%, respectivamente. Por outro lado, a queda do preço do petróleo ajuda as companhias aéreas, que dependem do querosene de aviação. Com isso, os papéis da GOL conseguiram encerrar positivo em 2% de alta. A desvalorização da commodity ocorre após os EUA apresentar volume de estoques de petróleo maior do que o esperado.
Além das companhias aéreas, os frigoríficos também figuram entre as principais altas da bolsa, com BRF, JBS, Marfrig e Minerva subindo mais de 2%. No radar dos investidores está o maior volume de exportação de carne suína, que cresceu 54,5% entre janeiro e agosto, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal. As exportações de frango também cresceram, enquanto a expectativa é a de que setembro seja o melhor mês da história para as exportações de carne bovina.
Divulgado nesta manhã, os dados do varejo brasileiro voltaram a superar – e muito – as expectativas do mercado, que esperavam um crescimento anual de 2,2% em julho. O aumento, porém, foi de 5,5% - bem acima do registrado no pré-crise. “O comércio varejista é o primeiro setor que reflete o auxílio emergencial”, comentam analistas da Exame Research. Mais cedo, as ações da Magazine Luiza, Hering e C&A chegaram a ser negociadas em alta, mas inverteram o sinal, com a piora do mercado americano.
Mas, no setor, o grande destaque ficou com as ações do Pão de Açúcar, que dispararam 14,8% e lideraram as altas do Ibovespa, após a companhia afirmar que pretende fazer separar seus negócios com os do Assaí para registrá-lo no novo mercado. "A cisão das operações do GPA e Assaí possibilitará as companhias de seguirem uma estratégia independente de crescimento, com bancos conseguindo analisar o risco de crédito de cada negócio de forma separada. Ainda, a atuação do Assaí deve ter estratégias mais focadas, com equipes próprias", afirma analistas da Guide Investimentos em relatório.