Bolsa: Ibovespa avança 4,69% e encerra em 81.194,29 pontos (Jesada Wongsa/Getty Images)
Guilherme Guilherme
Publicado em 18 de maio de 2020 às 17h20.
Última atualização em 18 de maio de 2020 às 17h51.
A bolsa brasileira iniciou a semana em forte alta, com o otimismo sobre a possibilidade de a vacina desenvolvida pela companhia americana Moderna ser eficaz contra o coronavírus covid-19. De acordo com a empresa, os testes em humanos tiveram sucesso. O mercado também repercutiu a reabertura das economias e as últimas declarações do presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell. O Ibovespa, principal índice de ações, subiu 4,69% e encerrou em 81.194,29 pontos – maior pontuação em quase três semanas. As ações da Petrobras, que subiram quase 10%, deram sustentação à alta.
Segundo a Moderna, os testes foram feitos em 45 voluntários, mas novas avaliações ainda precisam ser feitas para confirmar a eficácia de sua possível vacina. “Sem a vacina, há o temor de que uma segunda onda de contaminação faça com que as quarentenas sejam retomadas e a gente fique parado por mais tempo. A vacina não vai sair amanhã. Mas, o mercado já reduz esse risco e faz um ajuste no preço”, disse Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos.
Para Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, a confirmação de uma vacina contra a doença poderia servir de gatilho para um intenso movimento de recuperação. “Estamos em um dos piores cenários históricos, que fica cada vez pior conforme o lockdown se estende. Com a vacina, seria o fim da quarentena. Isso muda muita coisa em termos de perspectiva econômica. Daria para subir uns 30% até o final do ano”, afirmou.
A entrevista de Jerome Powell ao programa da CBS 60 Minutes, realizada no domingo, também agradou os investidores. O presidente do Fed voltou a dizer que não está “sem munição”, sinalizando que novos estímulos podem ser feitos para atenuar os danos da pandemia. Powell também disse que espera uma recuperação da economia americana no segundo semestre.
Na semana passada, Powell chegou a derrubar o preço dos ativos ao dizer que a recuperação da economia seria lenta. "Ele tinha deixado o mercado bem assustado, mas acabou amenizando o tom", comentou Franchini.
Apesar do cenário externo positivo, a política brasileira segue como uma das principais preocupações dos investidores. No fim de semana, a crise do governo ganhou novos contornos, após as declarações do empresário e ex-aliado da família Bolsonaro Paulo Marinho ao jornal Folha de S. Paulo.
no foco das preocupações dos investidores locais a crise política brasileira, que ganhou novos contornos, após as declarações do empresário e ex-aliado da família Bolsonaro Paulo Marinho ao jornal Folha de S. Paulo.
Segundo o empresário, Flávio Bolsonaro, o filho do presidente Jair Bolsonaro, teve informações privilegiadas sobre a Operação Furna da Onça, que atingiu seu ex-assessor Fabrício Queiroz.
Para Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus, esse novo capítulo da política nacional “ainda vai dar o que falar”. “O mercado só vai começar a dar bola depois de ele confirmar para a Polícia Federal a versão que deu para a Folha. Se confirmar, é porque tem prova. Aí o mercado vai pegar pesado. Mas, por enquanto, vai esperar”, disse.
“O mercado não precifica um impeachment porque, politicamente, está longe de acontecer. Mas cada vez que surgem notícias negativas sobre o governo e crises são instaladas, aumenta a dificuldade para aprovar as reformas”, disse Franchini.
Na bolsa, as ações ordinárias da Petrobras subiram 9,72% e as preferenciais, 8,1%. A alta tem como pano de fundo a apreciação do barril de petróleo, que já se valorizou cerca de 80% no mês. Nesta segunda, o petróleo brent, referência para a política de preço da estatal, avançou 9,42%. Na sexta-feira passada, após divulgar o resultado do primeiro trimestre, as ações da Petrobras haviam ensaiado uma forte alta, chegando a subir mais de 5% durante a sessão. No entanto, o pessimismo com a notícia sobre a saída de Nelson Teich do governo, recaiu sobre as ações da estatal, que chegaram a reverter os ganhos.
Neste pregão, a ação da Vale, que tem o maior peso no Ibovespa, também sua parte, subindo 6,68% e impulsionando o índice para cima. Os papéis da companhia são beneficiados pela alta do minério de ferro, que subiu 5,4%, tendo em vista os baixos níveis de estocagem da China, que segue demandando a commodity.
Mas, quem liderou as altas do Ibovespa foram as ações da Azul, que dispararam 29,87%. Outra companhia aérea, a Gol, subiu 14,46%, com uma maior expectativa de volta à normalidade e com a queda do preço do dólar, visto que o setor tem parte dos custos dolarizados. A agência de turismo CVC, que tem viagens para Disney como um de seus principais pacotes, subiu 19,24%.
Por outro lado, as ações de empresas com receitas dolarizadas, como frigoríficos e o setor de papel e celulose, figuraram entre as maiores desvalorizações do Ibovespa. Com desvalorização de 9,94%, os papéis da Minerva lideraram as perdas. Suzano e Klabin vieram logo atrás, com baixas de 8,55% e 7,96%, respectivamente.