Painel de cotações da B3 | Foto: Germano Lüders/Exame (Germano Lüders/Exame)
Guilherme Guilherme
Publicado em 25 de novembro de 2020 às 09h09.
Última atualização em 25 de novembro de 2020 às 18h16.
O Ibovespa bateu os 110.000 pontos nesta quinta-feira, 25, com a continuidade do fluxo de capital estrangeiro para a B3 em meio ao apetite por ativos emergentes. A marca havia sido perdida na quarta-feira de cinzas, dia que marcou o início dos impactos da pandemia no mercado financeiro brasileiro. A pontuação simbólica foi atingida minutos após a divulgação dos dados econômicos dos Estados Unidos, quando bateu 0,20% de alta. O índice fechou em terreno positivo, aos 110.132 pontos, alta de 0,32%.
Em NY, os índices seguiram direções mistas após as grandes altas da véspera. Dois dos três principais índices americanos encerraram o pregão em baixa: S&P 500 com queda de 0,16% e Dow Jones com recuo de 0,58%, após atingir o patamar recorde de 30.000 pontos ontem embalado pelo otimismo com a transição no governo dos Estados Unidos e a promessa de uma vacina contra a Covid-19. O índice Nasdaq subiu 0,47%.
Na bolsa brasileira, as ações dos grandes bancos e da Ambev (ABEV3) recuam após apresentarem fortes altas nas últimas sessões e pressionam negativamente o Ibovespa. Por outro lado, os papéis da Vale (VALE3) têm sua oitava alta em nove pregões e renovam mais uma vez seu recorde histórico na Bolsa. Em variação, as três maiores altas ficavam com CVC Brasil (CVCB3), PetroRio (PRIO3) e Usiminas (USIM5), com ganhos entre 9,79% e 5,96%. Acompanhe os principais destaques de ações aqui.
Divulgados nesta manhã, os dados americanos saíram mistos. Os pedidos de bens duráveis tiveram alta mensal de 1,5% e ficaram acima das expectativas de 0,9% de expansão. No entanto, os pedidos de seguro desemprego e o PIB do terceiro trimestre decepcionaram. Com as novas medidas de isolamento no país, os pedidos de seguro desemprego voltaram a subir pela segunda semana consecutiva, enquanto o mercado esperava por queda. Já o PIB americano sofreu sua primeira revisão, passando de 33,2% de crescimento para 33,1%.
Para os analistas da Exame Research, ainda que os números sugiram um momento de fragilidade da economia americana, o calendário mais positivo para vacinas sustenta a expectativa de retomada no médio prazo.
Ao final da tarde, o Federal Reserve (Fed), banco central americano, divulgou a ata de sua última reunião. Na avaliação dos dirigentes, a atividade econômica nos Estados Unidos continuou se recuperando, mas ainda segue abaixo dos níveis de antes da pandemia. Os participantes concordaram que as compras de ativos estão proporcionando acomodação para a economia americana depois que as condições do mercado se estabilizaram. Alguns disseram esperar que o Fed eventualmente prorrogue o prazo de vencimento dos títulos adquiridos, de acordo com as deliberações.
Na Europa, as ações fecharam em queda, com os operadores realizando lucros após ganhos acentuados mais cedo neste mês e repercutindo o aumento de casos de coronavírus no continente. O índice pan-europeu STOXX 600 perdeu 0,08%.
O mercado de câmbio ainda guarda certas doses de otimismo guiadas por notícias positivas em relação a vacinas e à transição de poder nos EUA. No mundo, o dólar apresentou leve queda contra seus pares e recua contra algumas moedas emergentes, como o peso chileno e o real. Por aqui, o dólar recuou 1,03%, a 5,320 reais, registrando o menor patamar do mês de novembro.
A despeito do ambiente externo relativamente positivo, o mercado financeiro doméstico segue desconfiado diante da falta de empenho do governo na direção de reformas estruturantes. Caso a situação continue, existe um "grande risco" do país entrar em estado de dominância fiscal, disse Gilberto Kfouri, responsável por renda fixa e multimercados da BNP Paribas Asset Management.
"A gente não vê empenho em aprovar reformas estruturantes. Não adianta esperar que as coisas melhorem por si só. Isso não acontece", afirmou Kfouri. A dominância fiscal é uma situação de excesso de dívida e de deterioração na perspectiva para sua trajetória. Em caso extremo, a combinação de ambos acaba retirando da política monetária a capacidade de ação de controlar a inflação - ou seja, o fiscal dominará o monetário.
A importância da disciplina fiscal também foi reforçada hoje pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. "Ponto superimportante, talvez ponto chave, é conquistar credibilidade com continuação das reformas e com plano que indique clara percepção para investidores que país está preocupado com trajetória da dívida", disse ele, em evento organizado pelo Sicoob Engecred.
(Com Reuters)