Painel de cotações da B3 | Foto: Cris Faga/NurPhoto via Getty Images (Cris Faga/NurPhoto/Getty Images)
Guilherme Guilherme
Publicado em 6 de agosto de 2021 às 10h24.
Última atualização em 6 de agosto de 2021 às 17h25.
O Ibovespa ignorou a turbulência no cenário político e fechou a sexta-feira, 6, em alta, acompanhando o movimento de alta de bolsas internacionais, após os dados do mercado de trabalho americano saírem melhores do que as expectativas.
O principal índice da B3 avançou 0,97%, aos 122.810 pontos. O Ibovespa também conseguiu fechar a semana em alta, apesar da alta volatilidade. Contribuíram para o movimento os balanços da Vale (VALE3) e do setor bancário divulgados nesta semana.
Nos Estados Unidos, o relatório oficial de empregos não agrícolas, o payroll, revelou a criação de 943.000 postos de trabalho em julho, superando as estimativas de mercado que giravam em torno de 845.000 e 870.000.
A surpresa com o dado foi ainda maior, tendo em vista que, no meio da semana, a "prévia do payoll" divulgada pelo ADP havia desapontado economistas ao revelar a criação de 330.000 empregos privados, enquanto o consenso era de quase 700.000. Também saiu nesta manhã a taxa de desemprego americana, que caiu de 5,9% para 5,4%, a mínima desde o início da pandemia. O esperado era uma queda para 5,7%.
Os dados melhores do que o esperado reacenderam o otimismo com a recuperação da economia americana, mas aumentaram as preocupações sobre a retirada de estímulos por parte do Federal Reserve.
Em Nova York, o índice Dow Jones, mais ligado à economia tradicional, subiu 0,41%, enquanto o Nasdaq, mais dependente de uma política expansionista, registrou queda de 0,4%. O S&P 500 avançou 0,17% e registrou um novo recorde. Já os títulos americanos de 10 anos, atrelados às expectativas de inflação e à recuperação econômica, subiram 1,3%.
Destaques de ações
No Brasil, a alta do Ibovespa foi impulsionada pelas ações da Vale (VALE3), que subiram 0,57%, recuperando parte das perdas da véspera, quando o papel fechou em queda de mais de 3% repercutindo a queda do minério de ferro.
Entre as blue chips, as ações do setor bancário também se destacam como suporte para a alta do índice nesta sessão. As units do Santander (SANB11) avançaram 3,97%, liderando as altas entre os grandes bancos. Itaú (ITUB4) subiu 2,8%, Banco do Brasil (BBAS3) registrou alta de 3,05% e Bradesco (BBDC4) avançou 2,2%.
“Os bancos apresentaram resultados fortes esta semana, com exceção do Bradesco, que sofreu com a divisão de seguros. Vemos com bons olhos o setor considerando o ciclo de alta de juros e spreads voltando a crescer”, explica Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos.
O setor é beneficiado pela alta da Selic, que foi elevada de 4,25% ao ano para 5,25% ao ano, segundo a última decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), tomada nesta quarta-feira.
Já as ações da Petrobras (PETR3/PETR4), que dispararam na última sessão após o resultado trimestral, apresentaram resultados mistos. PETR3 recuou 0,55% e PETR4 subiu 0,14%.
Voltando à temporada de balanços, as ações da JHSF (JHSF3) avançaram 2,12%, após a empresa ter apresentado resultado do segundo trimestre. No período, a empresa teve lucro de 321,4 milhões de reais, batendo as expectativas de 254,3 milhões de reais. A receita líquida ficou em 662 milhões de reais, quase o triplo dos 252 milhões de reais.
"O resultado veio muito bom na parte de vendas de lotes e na de shopping centers. O próprio resultado da Multiplan já tinha sinalizado que viria bom, mas o patamar de receita da JHSF já está superior ao do pré-pandemia", avalia Bruno Lima, analista-chefe de ações do BTG Pactual Digital.
Já os papéis da JBS (JBSS3) avançaram 1,94%, após a empresa anunciar a entrada do mercado de peixes com a compra da australiana Huon em uma operação de 1,6 bilhão de reais.
Fora do índice, as ações da Marisa (AMAR3) foram o grande destaque da sessão, subindo 6,79%, em meio a rumores sobre uma possível operação com as Americanas (AMER3), cujas ações caíram 2,41%, liderando as perdas do dia.
Na última noite, a Americanas soltou um fato relevante informando que foi identificado o "vazamento de informação" sobre um possível operação com Marisa. Ambas as empresas negaram a existência de "qualquer acordo concreto". A Marisa, contudo, informou ter contratado serviços da consultoria americana Lazard para "avaliar alternativas de otimização de sua estrutura de capital". Entre as especialidades da Lazard estão processos de fusão e aquisição.
Dólar reage à Brasília
Embora não tenha atingido o Ibovespa nesta sexta-feira, o cenário político e fiscal continua a impactar o câmbio. O dólar comercial registrou valorização de 0,4%, a 5,23 reais.
No campo político, seguem as tensões entre o presidente Jair Bolsonaro e o STF. Ontem à noite, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, cancelou uma reunião que ocorreria entre os chefes dos Poderes, rebateu ataques do presidente Jair Bolsonaro a ministros da corte e afirmou que o chefe do Executivo reitera inverdades.
Nesta sexta-feira, Bolsonaro afirmou que não faz ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF), mas em seguida afirmou que parte da corte "quer a volta da corrupção e da impunidade". As preocupações do mercado são que os atritos tirem o foco do governo da agenda de reformas.
No campo das reformas, o Senado aprovou na véspera o novo Refis (parcelamento de débitos com o governo federal), que adicionou mais uma camada de preocupação ao cenário fiscal. O projeto permite o parcelamento de dívidas de empresas e pessoas físicas em até 12 anos, com perdão de até 90% de juros e multas. Investidores também temem que o governo fure o teto de gastos para financiar um aumento no Bolsa Família.