Bolsa: com risco de epidemia no radar, Ibovespa recua 0,96% e anula ganhos da semana, após recordes (Paulo Whitaker/Reuters)
Guilherme Guilherme
Publicado em 24 de janeiro de 2020 às 18h27.
Última atualização em 24 de janeiro de 2020 às 19h43.
O avanço do coronavírus tem feito as bolsas do mundo todo recuarem. Nesta sexta-feira (24), o Ibovespa caiu 0,96% e encerrou em 118.376,36 pontos, fechando a semana em queda de 0,09% - apesar de ter batido o recorde nominal por duas vezes no período. Nos Estados Unidos, onde um segundo caso da doença foi confirmado, o S&P 500 fechou em baixa de 0,9%.
A doença também chegou à Europa, com o dois casos de infecção reportado pela França nesta sexta. Para o economista-chefe do banco digital Modalmais, Alvaro Bandeira, o risco de uma epidemia deve continuar ditando o ritmo das negociações na próxima semana. “O coronavírus vai pressionar se ele se espalhar para outros países, mas notícias no sentido de que o vírus está sendo controlado podem ser positivas para o mercado”, disse.
Com dúvidas sobre até que ponto vão os estragos causados pelo coronavírus, os investidores têm optado por uma postura mais defensiva. O preço do ouro negociado no mercado internacional se encaminha para a maior alta semanal desde a morte do general iraniano Qassem Soleimani. O índice de volatilidade VIX, também conhecido como “índice do medo” acumulou alta de 20% desde segunda, quando os primeiros casos da doença começaram a ser noticiados.
Por outro lado, as commodities têm perdido forças com os temores de que o coronavírus represente uma ameaça à economia mundial. No mercado internacional de futuros, o petróleo se encaminha para o quinto dia de desvalorização, acumulando depreciação de mais de 7%.
“Por enquanto, você tem o surto. Se passar a ter uma epidemia, uma pandemia, começa-se a pensar que o PIB global pode encolher. Ainda é cedo para chegar a essa conclusão, mas o investidor está atento”, comentou Bandeira.
Na Bolsa, empresas com maior dependência da economia externa registraram forte queda. Esse foi o caso da Vale. A um dia da tragédia de Brumadinho completar um ano, os papéis mineradora caíram 3,06% e fecharam em 53,8 reais - abaixo da cotação de 56,15 reais registrada no dia anterior ao rompimento da barragem. As ações da Usiminas e da CSN, que passaram por forte valorização com aumento do preço do aço, recuaram 3,74% e 2,61%, respectivamente.
A desvalorização das commodities, principalmente do petróleo, também não foi favorável para a Petrobras. Na semana, os papéis ordinários da estatal recuaram 2,32% e os preferenciais, 1,01%.
Outro setor que passou por forte depreciação nesta sexta foi o de frigoríficos. Tendo no radar a renegociação de contratos de fornecimento de carne com a China, as ações ordinárias da Minerva - fora do Ibovespa - despencaram 8,20%. Dentro do índice, a BRF caiu 2,9%, a JBS, 1,74% e a Marfrig, 0,33%.
Entre os papéis com grande participação no Ibovespa, somente os da Ambev e os da B3 fecharam no azul. Enquanto a companhia de bebidas foi positivamente impactada pela fala de Jair Bolsonaro, que descartou o imposto sobre cervejas (sugerido pelo ministro da Economia Paulo Guedes), a administradora da Bolsa segue sua tendência de alta com a chegada de novos participantes no mercado de ações.
Nem mesmo os bancos, que impulsionaram a Bolsa ao recorde nominal de quinta-feira, tiveram um dia positivo. Nesta sexta, os papéis do Banco do Brasil, Itaú, e Bradesco tiveram respectivas quedas de 1,32%, 0,75% e 0,75%.