Ibovespa: bolsa superou os 158 mil pontos nesta terça-feira, 11 (Nilton Fukuda / Agência Basil/Agência Brasil)
Repórter de finanças
Publicado em 11 de novembro de 2025 às 14h15.
Última atualização em 11 de novembro de 2025 às 14h15.
O Ibovespa não para de bater recorde atrás de recorde. O principal índice acionário da B3 alcançou o feito, nesta última segunda-feira, 10, de 11 pregões consecutivos de recorde de fechamento — e nesta terça-feira, ultrapassou os 158 mil pontos caminhando para um 12º recorde. A última vez que o benchmark havia se comportado assim foi em 1994, quando o índice bateu 14 recordes consecutivos de fechamento. Apesar de momentos bem distintos, há semelhanças no movimento de alta, explicam especialistas.
Naquela época, o Brasil vivia um momento de hiperinflação, que quase chegou a 5.000% ao ano. “Quem é mais velho lembra, cada dia era um preço em todos os lugares, no mercado, em lojas de roupas. Era uma coisa de fato assustadora, só quem viveu realmente sabe”, relembra Marcelo Boragini, especialista em renda variável da Davos Investimentos.
Em 1º de julho daquele ano, foi adotado o Plano Real, que fez com que a inflação despencasse para os dois dígitos nos meses seguintes e o dólar em R$ 0,84 em agosto. “A estabilização da moeda e o controle da hiperinflação criaram um ambiente de confiança que impulsionou a bolsa brasileira naquele período. Trouxe a previsibilidade que o mercado gosta de ter”, complementa Boragini.
A possível eleição de Fernando Henrique Cardoso, que veio a se concretizar no ano seguinte, também impulsionava a bolsa. “Os investidores anteciparam o que estava por vir. Inflação baixa, dólar baixo e a eleição do FHC — que traria privatizações principalmente no setor de telecomunicações, como aconteceu em 1997 — foram os motivos do rali na época”, diz Flávio Conde analista da Levante Investimentos.
Fernando Henrique Cardoso foi eleito em 1994, mas antes de se candidatar à presidência era ministro da Fazenda do governo Itamar Franco e foi um dos arquitetos do Plano Real. Ele liderava as pesquisas eleitorais e era visto como uma possível continuidade na agenda reformista de seu antecessor. Tudo isso, explica Boragini, levou a uma entrada do capital estrangeiro.
“Investidores internacionais passaram a olhar o Brasil com uma oportunidade dentre os emergentes.”
Atualmente, o que impulsiona a bolsa por aqui é uma combinação de expectativa de queda de juros, corte das taxas nos Estados Unidos (que impulsiona a migração de capital estrangeiro para países emergentes, incluindo o Brasil) e expectativa de queda de inflação — assim como em 1994. Segundo Conde, naquela época tinha a questão da queda de hiperinflação para uma inflação mais “civilizada” e agora também é esperado uma inflação mais baixa — o IPCA de hoje confirmou isso, o que inclusive pode adiantar o corte de juros.
Ibovespa: Os 5 motivos para entender por que a bolsa está subindo tanto“Aprendemos que sempre que tem um pessimismo forte, como aconteceu em 1994 e anos meses de julho deste ano, com o tarifaço do Trump, tem um período de queda forte da bolsa, seguido por fortes altas quando muda o cenário, que é o que está acontecendo agora”, explica Conde.
Mas, a depender do cenário, depois pode vir a volatilidade.
Como explica Matheus Amaral, especialista de renda variável do Inter, ainda em 1994 houve a crise no México sobre a falta de reservas internacionais (crise chamada de “Efeito Tequila"), que afetou o apetite do investidor estrangeiro a emergentes e o Ibovespa chegou a passar por uma correção no final daquele ano e início de 1995. Nos dois anos seguintes, o índice conseguiu se recuperar, com estabilização e privatizações.
Para Amaral, a lição que fica é se atentar ao ambiente macro, às preocupações quanto ao risco fiscal e à dinâmica de juros que influencia bastante os movimentos do mercado brasileiro, além de saber surfar diante de oportunidades como as atuais na bolsa.
“Mesmo diante de máximas históricas, os lucros das companhias seguem resilientes, mas o valuation segue mais descontado diante de pares emergentes. Se a expectativa de corte de juros para o ano que vem se concretizar, podemos continuar a ver a bolsa em um ciclo positivo”, finaliza.
Para Boragini, se a combinação de expectativa de queda de juros, inflação sob controle e resultados corporativos fortes se mantiverem, o rali pode continuar — e quem sabe até repetir o feito de 1994. “O mercado precifica o futuro e quando o futuro parece menos incerto, o presente se valoriza. Acho que se os fundamentos se mantiverem, a tendência continua."