O viés negativo vindo do exterior derrubou as ações que possuem maior participação no Ibovespa (Germano Lüders/Exame)
Beatriz Quesada
Publicado em 12 de maio de 2021 às 17h24.
Última atualização em 12 de maio de 2021 às 17h29.
O Ibovespa registrou sua maior baixa em dois meses nesta quarta-feira, 12, após os dados do índice de preço ao consumidor americano (CPI, na sigla em inglês) aumentarem as preocupações sobre a alta da inflação nos Estados Unidos. O principal índice da B3 encerrou o dia em queda de 2,65%, aos 119.710 pontos.
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Divulgado nesta manhã, o CPI de abril subiu 0,8% na comparação mensal, enquanto o CPI anual passou de 2,6% para 4,2%. Os números ficaram muito acima das expectativas de alta mensal de 0,2% e de 3,6% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Com a inflação subindo nos Estados Unidos, o mercado teme que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) tenha que subir os juros antes do esperado para controlar a alta de preços.
"Estamos em uma fase em que o bom é ruim. Em teoria, a inflação é devido ao crescimento. Mas dados de inflação mais fortes vão fazer com que o Fed inicie sua política de cortes de estímulos e também repense sua paciência [sobre a inflação]", diz Jefferson Laatus, estrategista-chefe e sócio-proprietário do Grupo Laatus.
A autoridade monetária tem garantido que as taxas de juros devem se manter baixas até que os EUA alcancem o pleno emprego e que a inflação ultrapasse a meta de 2% por algum tempo. Os novos dados do CPI, no entanto, aumentam as pressões para a elevação de juros.
Após a divulgação do CPI, o rendimento dos títulos públicos americanos de 10 anos, que ajuda a mensurar a expectativa de inflação no país, avançou para o maior patamar em um mês, chegando a 1,695%. Em entrevista recente à Bloomberg, o ex-presidente do Fed de Nova York William Dudley chegou a afirmar que já poderá ser tarde quando o Fed começar a subir juros.
Com o aumento das preocupações sobre o nível da inflação americana e a possibilidade de os Estados Unidos subirem a taxa de juros, investidores do mundo inteiro aumentaram posições em dólar, com o índice Dxy (que mede a variação da moeda americana frente a seus pares) subindo para a máxima do dia. No Brasil, a moeda americana chegou a quase 0,8% de alta, antes de resfriar a valorização.
Na bolsa americana, ações com múltiplos elevados foram as que mais sofreram neste pregão. Isso porque se espera que, com o financiamento mais caro, essas empresas demorem mais para entregar o crescimento esperado. Esse é o caso, principalmente, das companhias com grandes investimentos em tecnologia.
Com participação majoritária de ações do setor, o índice Nasdaq voltou a registrar o pior desempenho do mercado americano, encerrando o dia em queda de 2,67%, enquanto o Dow Jones, com menor presença de empresas de tecnologia, caiu pouco menos de 1,99%.
Por aqui, o viés negativo vindo do exterior derrubou as ações que possuem maior participação no Ibovespa. A Vale (VALE3), que representa 13,11% da carteira teórica do Ibovespa, recua 3,70%, devolvendo parte dos ganhos da sessão da véspera, em que avançou 3,51%.
A Petrobras foi outra que recuou após alta da véspera: as ações preferenciais (PETR4) caíram 1,47% enquanto as ordinárias (PETR3) tiveram recuo de 1,26%. O setor financeiro também enfrentou perdas, com B3 (B3SA3) e Bradesco (BBDC3; BBDC4) recuando 2,55%, 2,15% e 2,03%, respectivamente.
A movimentação do Ibovespa também repercutiu a divulgação de resultados corporativos do primeiro trimestre de 2021. Liderando as perdas do índice estão as unitis do Banco Inter (BIDI11), que recuam 7,76% mesmo após o banco ter informado lucro de 20,8 milhões de reais nos primeiros três meses do ano -- alta de 95% da receita total.
“Apesar do resultado em linha com as expectativas do mercado, as units do Banco Inter vão caindo, com investidores embolsando os ganhos acima de 20% apresentados no último mês”, destacam, em nota, analistas da Ativa Investimentos.
O mesmo aconteceu com os papéis da Marfrig (MRFG3), que recuaram 7,72% -- maior queda em 14 meses -- após a empresa divulgar o balanço do primeiro trimestre de 2021. Embora a companhia tenha revertido prejuízo e lucrado 279 milhões no período, o papel caiu em resposta ao acúmulo de fortes altas nos últimos meses. Mesmo com a queda de hoje, a companhia registra alta de 31, 63% no acumulado do ano.
Na ponta positiva, as ações da BR Distribuidora (BRDT3) chegaram a disparar quase 9% pela manhã e encerraram o dia em alta de 5,06%. Como pano de fundo também está o resultado do primeiro trimestre, em que a companhia conseguiu dobrar seu lucro líquido na comparação anual de 234 milhões de reais 492 milhões de reais. Um dos pontos de destaque do balanço foi o aumento de margem com ganhos de estoque.
"As margens sozinhas seriam apenas metade da história se fossem acompanhadas por uma perda de participação de mercado. No entanto, a empresa ganhou 0,5 p.p. de quota de mercado no trimestre. Sua proposta de valor também parece sólida, com 36 adições líquidas de postos de serviço no trimestre e 240 nos últimos doze meses", avaliam em relatório analistas do Credit Suisse.
Maiores altas |
Maiores quedas | |||||
BR Distribuidora | BRDT3 |
5,06% | Banco Inter | BIDI11 |
-7,76% | |
IRB | IRB3 |
1,44% | Marfrig | MRFG3 |
-7,72% | |
Ultrapar | UGPA3 |
4,64% | Localiza | RENT3 |
-7,23% |
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