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Ibovespa perde os 117 mil pontos e tem pior sequência de quedas em um ano

Falas de Bolsonaro e Guedes sobre fiscal não foram suficientes para segurar bolsa; dólar caiu mais de 3%

 (Germano Lüders/Exame)

(Germano Lüders/Exame)

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Guilherme Guilherme

Publicado em 26 de janeiro de 2021 às 09h27.

Última atualização em 26 de janeiro de 2021 às 20h06.

O Ibovespa virou para queda na tarde desta terça-feira, 26, e perdeu a marca dos 117.000 pontos com o aumento das preocupações em torno do cenário fiscal do país -- o mercado segue preocupado com a extensão do auxílio emergencial conforme a pandemia avança. O principal índice da bolsa brasileira encerrou o dia em queda de 0,78%, aos 116.464 pontos. Este é o quinto dia consecutivo de perdas para o Ibovespa, o que configura a pior sequência de resultados desde janeiro de 2020.

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O índice passou parte do dia em leve alta impulsionado pelas recentes falas do ministro da Economia Paulo Guedes e do presidente Jair Bolsonaro, que descartaram a renovação do auxílio emergencial sem a contrapartida de uma redução de custos em outras áreas.

Nesta terça-feira, Guedes afirmou que o auxílio emergencial poderia ser renovado, mas sem que houvesse aumento de verbas automático para setores como  educação e segurança pública. Na véspera, Bolsonaro afirmou que pode não haver a extensão do auxílio para 2021 porque o “endividamento está no limite”.

As declarações, no entanto, não foram suficientes para acalmar os ânimos. Os investidores continuaram monitorando e especulando sobre estímulos, mesmo com o governo confirmando compromisso com o teto de gastos, principal âncora fiscal do país.

“As falas de Guedes e Bolsonaro trouxeram um alívio pela preocupação com o quadro fiscal, mas as soluções ainda são incertas e investidores gostariam de maior previsibilidade desse cenário de estímulos”, afirma o analista Régis Chinchila, da Terra Investimentos. 

Chincila acrescenta outras incertezas à lista que pesa sobre o Ibovespa: inflação batendo à porta, cenário de alta nos juros e o problema em incentivar o consumo sem ter ferramentas para estímulos. “Alguns especialistas já apontam um PIB negativo logo no primeiro trimestre”, diz.

Além disso, nesta tarde a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística (CNTTL) apoiou a greve caminhoneiros prevista para 1º de fevereiro, e orientou os 800 mil motoristas da sua base a aderirem, adicionando mais uma preocupação.

Os investidores locais também ficaram cautelosos com o andamento das pautas econômicas do governo após o presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Jr., renunciar por falta de empenho político para a privatização da companhia.

Na bolsa, as ações ordinárias da Eletrobras (ELET3) e as preferenciais de classe B (ELET6) lideraram as perdas do Ibovespa, com quedas de 10,09% e 6,805 respectivamente.Na ponta positiva, os papéis da BR Distribuidora (BRDT3) subiram 9,52%, com a possível contratação de Ferreira Jr. para a presidência da empresa.

“A saída do presidente da Eletrobras mostra que ele claramente estava cansado do governo, que pouco se moveu para conseguir a privatização. O mercado percebe que o governo é avesso a qualquer coisa que não seja consenso ou gere impopularidade. A privatização da Eletrobras nunca será consenso porque é um cabide de empregos para aliados de diversos estados”, comenta Victor Hasegawa, gestor da Infinity Asset.

Segundo Hasegawa, a agenda de privatização e reformas estão interligadas. “A reforma administrativa vai trazer benefícios de longo prazo, mas é impopular e o governo sabe disso. Então, o presidente não apoia. A questão é que não tem como continuar sem aprovar algumas reformas.”

Copom e taxa de juros

No cenário interno, investidores também repercutem nesta terça a ata do Copom, que sinalizou que a elevação da taxa Selic pode ocorrer em um horizonte próximo -- assim como já havia feito no comunicado posterior à decisão da última semana.

“Apesar da decisão unânime [de manter os juros em 2% ao ano], a ata revelou que alguns membros ‘julgam que o Copom deveria considerar o início de um processo de normalização parcial [dos juros], reduzindo o grau extraordinário os estímulos monetários'”, avaliam em nota analistas da Exame Research.

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“Esse comentário aumenta a necessidade de se avaliar o balanço de risco até a reunião de março, quando já teremos dois resultados do IPCA, PIB, dados de emprego e definição das eleições para a presidência da Câmara e do Senado.”

Com os novos sinais do Banco Central, os juros futuros com vencimentos de curto prazo avançam na bolsa ao passo que os de longo prazo recuam. “A expectativa é de que tenha aumento de juros antes [do que o esperado]. Para o mercado, quanto antes o BC agir, melhor. Se deixa para agir muito mais para frente é capaz de perder o controle da inflação e ter que subir muito os juros lá na frente”, diz Hasegawa.

Embora a alta da inflação tenha aumentado a pressão para a elevação de juros, nesta manhã, o IPCA referente aos primeiros 15 dias de janeiro deu um alento, ficando em 0,78%, abaixo da alta de 0,82% esperada pelo mercado.

Dólar despenca e real se recupera

No mercado de câmbio, o dólar teve um dia de forte desvalorização contra o real e recuou 3,3%, encerrando o dia negociado a 5,3259 reais. 

“Como foi feriado ontem em São Paulo, tem muitas operações represadas que estão entrando hoje. Então, o fluxo está derrubando o dólar. Ontem teve captação externa, além de IPO [da gestora Pátria nos Estados Unidos]”, afirma Jefferson Ruik, diretor de câmbio da Correparti.

Segundo ele, a expectativa de alta de juros também contribui para a apreciação do real, mas sem ter um papel determinante na alta da moeda. “Todo mundo sabe que uma hora vão subir os juros, ainda mais agora que o forward guidance foi retirado” O instrumento vinha sendo usado para sinalizar que não haveria elevação de juros tão cedo.

Mercados globais em alta

Apesar dos balanços corporativos positivos nos Estados Unidos, o mercado americano teve um desempenho misto, próximo à estabilidade. O índice Dow Jones recuou 0,07% enquanto o S&P 500 teve queda de 0,15%, e o índice de tecnologia Nasdaq registrava perdas de 0,06%. Mais cedo, o S&P 500 atingiu um novo recurde intradiário impulsionado pelos bons resultados de eneral Electric e Johnson & Johnson.

Já as ações europeias subiram, apesar da turbulência política na Itália. O índice  pan-europeu STOXX 600 avançou 0,63% impulsionado pelo aumento no lucro líquido trimestral do banco suíço UBS. Fortes resultados também no setor das montadoras e das empresas industriais favoreceu o índice alemão DAX, que registrou a maior valorização do continente: 1,66%.

 

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