Painel de cotações na B3 | Foto: Germano Lüders/EXAME (Germano Lüders/Exame)
Guilherme Guilherme
Publicado em 28 de outubro de 2021 às 10h32.
Última atualização em 28 de outubro de 2021 às 17h26.
Em dia volátil, o Ibovespa voltou a cair ao longo da tarde desta quinta-feira, 28, e recua 0,69%, aos 105.590 pontos, às 16h15, com a nova alta de juros no país se sobrepondo ao cenário internacional positivo e à temporada de balanços.
Na última noite, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa básica de juros em 150 pontos-base (bps), com a Selic passando de 6,25% para 7,75% ao ano. A alta do juro representou uma aceleração no ritmo do ciclo de ajustes, que vinha sendo de 100 em 100 bps.
Para a próxima reunião foi sinalizado um novo ajuste de “mesma magnitude”, ou seja, de novos 150 bps, levando a Selic para 9,25% ao ano.
Após a decisão, os juros futuros negociados na B3 operam em leve alta, com investidores reajustando suas projeções para um aperto monetário mais duro.
"O comunicado apontou que a Selic vai 'para território ainda mais contracionista', a dúvida é qual será esse território. Para 2022, ainda estamos digerindo a decisão, mas parece que 11,5% é uma taxa razoável para o ano que vem", diz Leonardo Paiva, economista do BTG Pactual Digital em Abertura de Mercado desta quinta-feira.
Embora visto como necessário por parte do mercado, a alta de juros tende a arrefecer o nível da atividade econômica local, pressionando, principalmente, empresas de consumo cíclico. Apesar do BC mais contracionista, o dólar volta a subir contra o real, que tem o pior desempenho entre as principais moedas emergentes. Às 16h15, a moeda avança 1,25%, a 5,625 reais.
Nos Estados Unidos, os principais índices de ações sobem embalados pela agenda de resultados, mesmo após o PIB americano do terceiro trimestre, divulgado nesta manhã, ter saído abaixo das expectativas. No período, a economia americana cresceu 2% contra as estimativas de expansão de 2,7%. Por outro lado, os pedidos de seguro desemprego renovaram a mínima desde o início da pandemia, ficando em 282.000, abaixo dos 290.000 previstos.
Na bolsa, a agenda de resultados impulsiona as ações da Ambev (ABEV3), que sobem mais de 9,66%, após a empresa surpreender no balanço do terceiro trimestre. Enquanto analistas esperavam por uma queda do volume de vendas no Brasil, a empresa aumentou em 7,5%. No início do pregão, a alta dos papéis chegou a superar 10%.
Em relatório sobre o resultado, analistas do BTG classificaram o crescimento como "impressionante" e o resultado como "excepcional", embora tenham mantido cautela sobre o nível de margem, que caiu em relação ao mesmo trimestre de 2020.
Além da Ambev, as ações da Multiplan (MULT3) e Telefônica (VIVT4) avançam mais de 1%, na esteira de seus resultados.
Em balanço divulgado na última noite, a administradora de shoppings apresentou números melhores acima das expectativas, com lucro líquido de 99,4 milhões de reais, cerca de 6 milhões superior do trimestre anterior, mas bem abaixo dos 810 milhões de reais do terceiro trimestre de 2020, quando o resultado sofreu impactos dos efeitos extraordinários de venda de imóveis. Já a Telefônica, que também anunciou uma parceria com a Ânima Educação (ANIM3), aumentou seu lucro líquido em 8,5% na comparação anual para 1,315 bilhão de reais.
Entre as maiores altas ainda estão os papéis da BRF (BRFS3), que sobem 7,17%, descolada de outras ações do setor de frigoríficos.
Na ponta negativa, estão ações de empresas ligadas ao consumo, como Americanas (AMER3), que caem 8,45% e as da Getnet (GETT11), 6,02%. "Alguns setores tendem a sofrer um pouco mais com a alta de juros, como o varejo e o imobiliário. Ao mesmo tempo, os bancos podem se beneficiar desse movimento", diz Paiva. Entre as construtoras, a Cyrela lidera as perdas, recuando 3,42%. Também entre as maiores quedas, a PetroRio (PRIO3) recua 7,06%, acompanhando a desvalorização do petróleo no exterior.