Painel de cotações da B3: Americanas desaba quase 80% no acumulado semanal (Cris Faga/NurPhoto/Getty Images)
Guilherme Guilherme
Publicado em 20 de janeiro de 2023 às 10h51.
Última atualização em 20 de janeiro de 2023 às 18h44.
O Ibovespa encerrou esta sexta-feira, 20, em um tom diferente do restante da semana. O principal índice da B3 caiu 0,8%, na contramão das bolsas internacionais, com investidores ajustando posições após três altas consecutivas.
Esta foi a segunda semana consecutiva de alta para o Ibovespa, que subiu 1% no acumulado dos últimos cinco pregões. O índice foi impulsionado pela alta nos papéis das commodities, que só não trouxeram maiores ganhos à bolsa brasileira devido a dois fatores de risco domésticos: os ruídos fiscais e a crise na Americanas (AMER3).
A alta desta semana foi sustentada pelas ações das commodities, que passam por um rali de valorização na expectativa de reabertura da China. Os papéis das petroleiras 3R Petroleum e Petrobras ficaram entre as maiores altas do Ibovespa na semana, com valorização de até 10%.
O otimismo acompanhou o desempenho do petróleo, que se encaminha para fechar sua segunda semana seguida de ganhos, com alta de mais de 1% no caso do petróleo Brent.
A expectativa da Agência Internacional de Energia (IEA) é que a suspensão das restrições da China contra a covid deve aumentar a demanda global de petróleo para um recorde este ano. A Opep, Organização dos Países Exportadores de Petróleo, também alertou esta semana para uma recuperação da demanda chinesa em 2023.
Alta também no mercado de minério de ferro. Apesar de uma queda semanal de 1,6%, o minério subiu hoje na bolsa de Dalian, encerrando a última sessão da semana em alta de 1,8%. As siderúrgicas Usiminas (USIM5) e CSN (CSNA3) subiram mais de 5% na semana.
As altas poderiam ter sido maiores, não fossem os chamados ruídos fiscais: sinalizações do governo sobre as contas públicas que preocupam o mercado. Nesta semana o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a autonomia do Banco Central em entrevista à GloboNews.
"É uma bobagem achar que um presidente do Banco Central independente vai fazer mais do que fez o Banco Central quando o presidente [da República] é quem indicava. Eu duvido que esse presidente do Banco Central [Roberto Campos Neto] seja mais independente do que foi o [Henrique] Meirelles. Duvido. Por que, com o banco independente, a inflação está do jeito que está? Os juros estão do jeito que estão?", questionou.
A crítica foi mal recebida na bolsa mas acabou não fazendo preço ontem, após o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, colocar panos quentes na situação. Padilha afirmou, em rede social, que não há “nenhuma predisposição” por parte do governo de fazer qualquer mudança na relação com o BC.
Hoje, em dia de agenda esvaziada, as falas de Lula voltaram a repercutir. O presidente falou ainda sobre mudanças na faixa do imposto de renda e até nas metas de inflação.
Chances de mudanças na Lei das Estatais também preocuparam os investidores. Sinais de que a lei será mudada, segundo o Valor, chegou a levar à renúncia de conselheiros do BNDES. Alterações na lei chegaram a ser aprovadas pela Câmara no fim ano passado, com o intuito de viabilizar a ida de Aloizio Mercadante para a presidência do BNDES, mas a pauta não avançou no Senado.
"Há uma combinação de fatores que elevaram a percepção dos riscos fiscais sobre ativos brasileiros e mantêm o investidor em modo cautela", disse Leonel Mattos, analista da StoneX.
O grande efeito veio sobre o dólar, que avançou quase 2% contra o real na semana. Nesta sexta-feira, a moeda subiu 0,71% e encerrou a sessão cotada a R$ 5,207.
Incertezas fiscais são as principais preocupações de investidores, disse Cristiane Quartaroli economista do Banco Ourinvest. "Imprevisibilidade sobre pontos que podem afetar o fiscal, como o aumento do salário mínimo e mudança na tabela de isenção do IR, continuam incomodando investidores e não vemos fluxo para o Brasil. Sem fluxo, o dólar acaba se valorizando", afirmou.
Outro destaque que dominou as atenções dos investidores nesta semana foi a continuação do derretimento da Americanas. As ações da varejista caíram 29% hoje, em seu último dia como participante do Ibovespa.
Os papéis serão excluídos de todos os índices da B3 após o pregão de hoje porque a companhia entrou em recuperação judicial nesta semana. O pedido, registrado e aceito na última quinta-feira, veio após a empresa ter descoberto inconsistências contábeis da ordem de R$ 20 bilhões.
Somadas as inconsistências às demais dívidas da Americanas, o valor declarado à Justiça pela empresa é de aproximadamente R$ 43 bilhões. Constam da petição inicial pelo menos 16.300 credores.