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Ibovespa cai com PEC, mas ameniza as perdas com renúncia de Mantega

Proposta não incluiu prazo para gastos extra-teto e nem valores; estimativa é de impacto fiscal próximo de R$ 200 bilhões

Painel de cotações da B3: Bolsa desaba em reação à PEC (Germano Lüders/Exame)

Painel de cotações da B3: Bolsa desaba em reação à PEC (Germano Lüders/Exame)

GG

Guilherme Guilherme

Publicado em 17 de novembro de 2022 às 10h33.

Última atualização em 17 de novembro de 2022 às 18h55.

O Ibovespa fechou esta quinta-feira, 17, com o mercado reagindo negativamente à PEC da Transição. A proposta foi entregue na última noite ao Congresso, e prevê retirar completamente as despesas com o Bolsa Família do Teto de Gastos, que é a principal âncora fiscal do País.

Após cair 2,7%, atingindo 107.245 pontos na mínima do dia, o Ibovespa reduziu o ritmo de desvalorização. O motivo foi a renúncia do ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, à equipe de transição

  • Ibovespa: - 0,49%, 109.703 pontos

O nome de Mantega vinha causando repercussão negativa no mercado após a política econômica de aumento de gastos públicos adotada pelo ex-ministro nos governos de Dilma Rousseff.

A saída deu certo alívio à bolsa e também ao dólar, que chegou a subir mais de 1%, superando a marca de R$ 5,50 pela manhã. 

  • Dólar: + 0,37%, R$ 5,402

Ainda assim, o mercado segue preocupado com o nível de endividamento do governo diante da PEC da Transição. A estimativa é de que, com a medida, o próximo governo possa gastar até R$ 200 bilhões a mais do que o estipulado no orçamento para o ano que vem. 

Com as contas de programas sociais apartadas do resto do orçamento, haverá um espaço extra de mais de R$ 100 bilhões dentro do teto de gastos para serem remanejados pelo novo governo.

Para ter uma noção de grandeza, o gasto extra-teto estimado ao ano seria maior que o valor de mercado do Bradesco, segundo maior banco privado do País, que ronda os R$ 150 bilhões.

Vale lembrar que esta seria a sexta vez que a âncora fiscal é furada desde sua criação em 2016. Segundo cálculos do economista Bráulio Borges, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre), publicado em reportagem da BBC, o governo Bolsonaro gastou R$ 794,9 bilhões fora do teto entre 2019 e 2022.

Leia também: Entenda de uma vez por todas o que é o teto de gastos

"Há um estresse fiscal enorme, com a PEC de Transição. O mercado sabia que o montante estipulado no orçamento era muito abaixo [do factível], mas os gastos da proposta estão muito acima [do esperado] -- e ainda sem um prazo. O mercado já coloca uma alta de juros para o ano que vem", afirmou Paulo Gala, economista-chefe do banco Master, em morning call. 

"Existe uma grande tensão sobre o que vai acontecer com a regra fiscal, já que não há nem nome de ministro [da Fazenda], mas já tem essa PEC de Transição, que aumenta os gastos."

A piora dos principais indicadores do mercado brasileiro representa uma continuidade do movimento de ontem, 16, quando investidores já vinham precificando o maior risco fiscal, ainda à espera da entrega da PEC. Em dois dias, a bolsa já caiu mais de 3%.

"A exclusão do Bolsa Família do teto de gastos causa uma apreensão grande no mercado. O gasto fora do teto aumenta a possibilidade de o Brasil ter uma relação dívida/PIB expansiva. Vale ressaltar que a equipe de transição tem economistas extremamente reconhecidos, que [aparentemente] não foram consultados para a PEC. Isso sinaliza que a opção do próximo governo é política, e não técnica, o que preocupa ainda mais", disse Mauro Morelli, estrategista da Davos Investimentos.

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