Painel de cotações da B3 (Germano Lüders/Exame)
Guilherme Guilherme
Publicado em 13 de dezembro de 2022 às 10h20.
Última atualização em 13 de dezembro de 2022 às 18h40.
O Ibovespa engatou em trajetória de queda nesta terça-feira, 13, descolando do cenário internacional de olho no quadro político. O principal índice da bolsa vinha operando entre perdas e ganhos, mas fechou em queda de 1,7% após o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) confirmar o ex-ministro da Casa Civil de Dilma, Aloizio Mercadante, no comando do BNDES.
O índice chegou a subir 1,3% mais cedo, de olho no exterior, mas virou para queda e atingiu a mínima de 103.409 pontos logo após Lula anunciar Mercadante no comando do banco nacional do desenvolvimento. O Ibovespa encerrou o dia em seu menor patamar em quatro meses, e virou para queda no acumulado do ano, com baixa de 1,22%.
Na véspera, o Ibovespa já havia recuado 2% com o rumor de que Mercadante seria colocado no comando do banco nacional do desenvolvimento. O temor dos investidores é que a chegada de Mercadante represente uma volta da política adotada no governo Dilma, quando o BNDES concedia empréstimos subsidiados pelo Tesouro, inibindo o desenvolvimento do mercado privado de crédito.
"O mercado vê com maus olhos a insistência do Mercadante, um nome político e não técnico. São sinais de ampliação de gastos. O governo [eleito] se aproxima mais do governo Dilma, de um cenário de excesso de gastos, do que o primeiro mandato de Lula”, avalia Rodrigo Moliterno, diretor de renda variável da Veedha Investimentos.
Analistas alertam ainda que a indicação do petista vai contra a Lei das Estatais. Aprovada na gestão de Michel Temer, a lei estabelece parâmetros de governança para empresas estatais, exigindo qualificação técnica e vedando, entre outros pontos, nomeações políticas.
A lei também veda a indicação para presidência de quem atuou em estrutura decisória de partidos políticos nos últimos 36 meses, o que inibiria a indicação de Mercadante – que participou da campanha de Lula.
Ontem se aventou a possibilidade de que Lula estaria considerando mudar a Lei das Estatais. Nesta terça, no entanto, a possibilidade levantada na imprensa é de usar o precedente de 2019, quando Fábio Almeida Abrahão foi nomeado diretor do BNDES mesmo tendo participado da campanha eleitoral de Jair Bolsonaro. Na época, o comitê de elegibilidade afirmou que a relação foi de “contribuição intelectual”, o que não se encaixaria na vedação da Lei das Estatais.
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O anúncio de Mercadante teve impacto reduzido no dólar, uma vez que a confirmação foi feita logo perto do fim da sessão. A moeda encerrou o dia perto da estabilidade.
Mais cedo, o Ibovespa chegou a operar em alta de olho nos Estados Unidos, onde as bolsas subiram pelo segundo dia consecutivo após novos dados da inflação americana terem saído abaixo das expectativas do mercado nesta manhã.
O Índice de Preço ao Consumidor dos Estados Unidos (CPI, na sigla em inglês) ficou em 0,1% em novembro ante consenso de 0,3% de alta. Já o CPI acumulado de 12 meses recuou de 7,7% para 7,1%, sendo que projeção mediana de economistas era de uma queda para 7,3%. Novembro foi o quinto mês de desaceleração da inflação americana, após ter batido 9,1% em junho. Os núcleos do CPI também saíram abaixo do esperado.
"O CPI mostrou que o pior da inflação americana já passou, especialmente na parte de bens. É uma leitura bem positiva. Os mercados animaram", afirmou Victor Candido, economista-chefe da RPS Capital.
Os números abaixo das expectativas alimentam as esperanças de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) não precisará ser tão duro no combate à inflação. Após a divulgação do CPI, os rendimentos dos títulos do Tesouro americano apresentaram firme queda, como reflexo das expectativas de juros mais brandos.
"A única coisa que falta para o Fed terminar o movimento de alta é o mercado de trabalho, que ainda pode exercer pressão de salários", disse Raone Costa, economista-chefe da Alphatree Capital.
Para o curtíssimo prazo, os dados abaixo do esperado reduziram ainda mais as apostas de que mais uma alta de 0,75 ponto percentual para a decisão desta quarta. A probabilidade implícita nas curvas de juros, segundo o monitor do CME Group, caiu de acima de 25% para próximo de 20% nesta manhã.
"Amanhã teremos a decisão de alta de juros. O consenso do mercado é de que eles irão subir em 0,50 p.p, diante de dados melhores do que o esperado. Não vejo motivo algum para o Fed agir de forma diferente ou que pegue o mercado de surpresa", comentou Rodrigo Cohen, analista CNPI e co-fundador da Escola de Investimentos.
Perspectivas de uma política monetária mais branda também tiveram impacto significativo no mercado de ações. Nos Estados Unidos, os principais índices de Wall Street apresentam firmes altas, com o Nasdaq chegando a subir mais de 1,5%.
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Apesar das firmes altas no exterior, investidores ainda seguem receosos com a dinâmica fiscal do próximo governo. Nesta manhã, o Banco Central voltou a citar "elevadas incertezas fiscais" em ata da última reunião do Copom e alertou para os potenciais riscos de uma política expansionista no momento atual.
"Para o BC, uma expansão fiscal muito agressiva poderia gerar dúvidas sobre a sustentabilidade da dívida e fazer a inflação voltar a subir. Se a inflação voltar a subir, o BC vai ter que reagir e ter que subir juros. É um alerta para o governo que vai assumir", afirmou Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset.
"A ata saiu mais hawkish [favorável a juros altos] do que pensávamos. O discurso foi bastante direto. Estamos na mão da PEC de Transição e do que mais o Ministério da Fazenda anunciar em termos de políticas econômicas. Também temos que ver o efeito do que será feito com as estatais e se o corte de impostos sobre combustíveis será mantido. Se não for, isso puxará a inflação de janeiro para cima, mas tem um impacto de arrecadação positivo, que reduz o efeito da PEC", disse Kautz.
Apenas 7 das 92 ações do Ibovespa encerraram o dia em alta. Nesta terça-feira, Petz (PETZ3), Braskem (BRKM5) e 3R Petroleum (RRRP3) ficaram com os maiores ganhos do pregão.
Na ponta negativa, as maiores quedas ficaram com os papéis da Suzano (SUZB3), Rumo (RAIL3) e Marfrig (MRFG3).