Painel de cotações da B3: Ibovespa recua puxado por papéis da Vale (VALE3) (Germano Lüders/Exame)
Guilherme Guilherme
Publicado em 7 de dezembro de 2022 às 10h38.
Última atualização em 7 de dezembro de 2022 às 18h21.
O Ibovespa fechou esta quarta-feira, 7, em queda puxado para baixo pelas ações da Vale – ação com maior peso na carteira teórica do índice. O mercado também ficou em compasso de espera, buscando entender qual será o rumo das negociações da PEC da Transição no Senado. Tudo isso em dia de decisão de política monetária do Copom – a última do ano.
As ações da Vale caíram mais de 3% e foram a principal influência negativa do Ibovespa nesta quarta-feira. Um dos motivos para a queda vem da China, principal importador de minério de ferro.
O gigante asiático divulgou dados piores que o esperado para sua balança comercial. O volume de importação da China teve uma queda anual de 10,6% em novembro, mais que o dobro da queda esperada de 5% para o período. Já a exportação caiu 8,7% ante o consenso de 3,6% de queda.
Além das pressões da China, as ações da Vale ainda sentiram os efeitos da revisão de projeção (guidance) feita pela companhia e divulgada nesta manhã.
A nova projeção considera que a produção de cobre deste ano ficará próxima de 260 mil toneladas ante a estimativa anterior de que ficasse entre 270 e 285 mil toneladas. Para o minério de ferro, a Vale espera encerrar o ano com a produção de 310 milhões de toneladas, no menor patamar da banda anterior, de 310 a 320 milhões de toneladas.
Investidores também digeriram o encontro anual de investidores da Vale, realizado nesta quarta.
Leia também: Vale vai separar metais básicos e vender fatia até meados de 2023
Apesar da maior cautela na bolsa, o câmbio refletiu alguma melhora da percepção fiscal. O dólar caiu para R$ 5,20, em seu segundo dia consecutivo de queda acompanhando, também, o movimento internacional da moeda.
Na véspera, o mercado brasileiro teve dia positivo, com a desidratação da PEC da Transição ainda na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. O texto chega ao plenário do Senado nesta quarta com o valor para o Bolsa Família reduzido de R$ 175 bilhões para R$ 145 bilhões e com prazo estabelecido para a apresentação de uma nova âncora fiscal para substituir o teto de gastos.
"O mercado ainda deve reagir muito às negociações da PEC. Sinalizações de que os valores serão reduzidos devem levar o mercado a reagir positivamente", disse Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos.
Das 92 ações do Ibovespa, mais da metade encerrou o dia em queda. As maiores baixas ficaram com varejistas e papéis ligados ao minério de ferro e ao petróleo.
No caso do petróleo, a commodity chegou a atingir seu nível mais baixo desde o início do ano depois que dados dos EUA mostraram um aumento inesperado nos estoques de combustível.
A notícia alimentou temores de que a demanda pelo petróleo pode cair, derrubando as ações. Vale lembrar que as quedas também foram fortes na véspera. Prio, por exemplo, já havia recuado 3,5% na véspera e nesta quarta ficou entre as maiores baixas do Ibovespa. Petrobras e 3R Petroleum também fecharam em queda.
“Com guerra entre Ucrânia e Rússia e preocupações em relação à recessão, existe previsão de petróleo cair até 50%, então vemos a commodity caindo fundo hoje”, avalia Rodrigo Cohen, analista e co-fundador da Escola de Investimentos.
Na ponta positiva, Azul ficou entre os maiores ganhos do dia, assim como CVC e Gol. Nesta quinta, a Azul realizou seu “investor day”, encontro com analistas e investidores. A empresa projetou que, no próximo ano, seu principal indicador de caixa, o Ebitda, teve chega a R$ 5 bilhões contra R$ 3 bilhões projetados para este ano.
A liderança das altas, no entanto, ficou com a BRF. Na véspera, o setor de frigoríficos recuou em bloco com temores de reversão do ciclo da pecuária nos Estados Unidos. Hoje, os papéis de BRF e JBS se recuperaram.
“Temos um movimento de correção das últimas quedas no setor e também redução das restrições na China, país que é grande consumidor de carnes e derivados do Brasil”, completa Cohen.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil toma hoje sua última reunião de política monetária do ano. A decisão será divulgada após o fechamento do mercado, e deve indicar os próximos passos para a trajetória da taxa básica de juros da economia, a Selic.
A expectativa dos agentes financeiros é que o Copom mantenha a Selic em 13,75% ao ano. Embora o quadro fiscal ainda esteja indefinido, os agentes do mercado estimam que os riscos não são fortes o suficiente para que o Copom reveja o curso de manutenção da taxa de juros. O BC, no entanto, deve endereçar a alta dos riscos fiscais em seu comunicado.