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Bolsa reduz perdas da primeira semana do ano após governo ajustar discurso

Ibovespa sobe em três pregões consecutivos após cair 5% nos dois primeiros da semana; dólar cai a R$ 5,23

Painel de cotações da B3 (Germano Lüders/Exame)

Painel de cotações da B3 (Germano Lüders/Exame)

GG

Guilherme Guilherme

Publicado em 6 de janeiro de 2023 às 10h44.

Última atualização em 6 de janeiro de 2023 às 18h29.

Em seu terceiro dia de alta consecutivo, o Ibovespa conseguiu manter o clima de correção na bolsa. As negociações no principal índice da B3 avaliaram o risco fiscal do novo governo Lula, que diminuiu ao longo da semana à medida que o presidente e sua equipe de ministros ajustaram o tom das comunicações.

A bolsa acompanhou ainda o pregão de rali em Wall Street, com investidores digerindo os dados do mercado de trabalho americano divulgados pela manhã. 

Porém, o índice não conseguiu apagar a derrocada de 5,07% dos dois primeiros pregões do ano. No acumulado da primeira semana de 2023, o Ibovespa caiu 0,7%.

Nesta sexta, o dólar acompanhou o viés positivo para o mercado brasileiro e fechou a sessão em forte queda contra o real, recuando à cotação de R$ 5,23. A moeda acumulou queda de 0,80% na primeira semana do ano.

  • Ibovespa: + 1,23%, 108.964 pontos
  • Dólar comercial: - 2,16%, a R$ 5,236

No cenário local, as atenções se voltaram para a primeira reunião ministerial da gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Depois de uma semana marcada por contradições nas falas dos ministros, Lula afirmou hoje que seu governo não é de "pensamento único", mas composto de "pessoas diferentes" que precisarão fazer esforço para "construir" de forma igual.

A leitura da reunião é de que a equipe ficará mais alinhada, evitando os ruídos que derrubaram o índice no começo da semana. “De agora em diante, assuntos de maior peso político deverão passar pelo crivo presidencial, para evitar a cacofonia que se estabeleceu durante esta semana”, avaliou a Levante em nota.

Vale lembrar que, na quarta-feira, o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, desautorizou o ministro da Previdência, Carlos Lupi, que propôs uma revisão da reforma previdenciária aprovada na gestão Bolsonaro em 2019. 

Já o indicado para presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, mudou de discurso e afirmou que a empresa não irá abandonar a paridade internacional de preços – declaração que vai contra suas falas nas últimas semanas.

As mudanças de posicionamento ajudaram o mercado a se recuperar no final da semana. A elas, se somou a declaração da véspera da ministra do Planejamento, Simone Tebet, que é vista como a mais liberal dentro dos quatro ministros que compõem a frente da Economia. 

A equipe econômica do governo Lula, segundo Tebet, é “um quarteto a favor do Brasil”. O diálogo com Fernando Haddad (Fazenda), Esther Dweck (Gestão) e Geraldo Alckmin (MDIC) será “produtivo” e focado nas convergências, afirmou a ministra ontem durante sua posse.

Maiores altas e baixas do Ibovespa

A diminuição do risco fiscal levou à queda dos juros futuros que, por sua vez, ajudaram as empresas ligadas à economia local. Papéis que vinham sofrendo no início da semana, como a Americanas, mais uma vez ficaram entre as maiores altas do dia.

Dia de alta também para os papéis ligados ao minério de ferro com indicação de novos incentivos ao setor imobiliário na China. O destaque do setor foi a CSN Mineração, que saltou mais de 6%. 

  • Americanas (AMER3): + 7,43%
  • CSN Mineração (CMIN3): + 6,67%
  • Qualicorp (QUAL3): + 6,24%

Na ponta negativa, Copel, Embraer e Hapvida ficaram com as maiores baixas do índice.

  • Copel (CPLE3): - 1,96%
  • Embraer (EMBR3): - 1,62%
  • Hapvida (HAPV3): - 1,31%

Leia também: Ações de commodities disparam até 6% com nova alta do minério de ferro

Wall Street tem mini rali com payroll

O clima positivo no exterior também foi responsável pelo bom dia do Ibovespa. Lá fora, os principais índices de ações americanos saltaram mais de 2%, contribuindo para o viés comprador. 

A alta foi tão forte que ajudou os principais índices americanos a fecharem a semana no azul. O Dow Jones e o S&P 500 subiram 1,5% no acumulado da semana, enquanto o Nasdaq avançou 1%.

Apesar do saldo final, a semana foi de volatilidade nos Estados Unidos, com investidores receosos com a possibilidade de juros altos por mais tempo que o esperado. Na quarta-feira, foi divulgada a ata da última reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), mostrando que nenhum membro do comitê vê cortes de juros ainda este ano.

Investidores, no entanto, acreditam que o cenário pode mudar com a divulgação de dados do mercado de trabalho americano. Nesta sexta-feira, o relatório de empregos urbanos do Estados Unidos, o chamado payroll, mostrou a criação de mais 220.000 empregos urbanos em dezembro, ficando acima do consenso de 200.000. Porém, a variação de salário médio por hora trabalhada nos Estados Unidos encerrou 2022 com alta anual de 4,6%, 0,4 ponto percentual menor que o consenso de mercado.

Leonel Mattos, analista da StoneX, pontuou que os dados desta manhã aumentaram a percepção de altas de juros mais brandas nos Estados Unidos. "A desaceleração da renda média contribui com essa interpretação, mas ainda há sinais de que o mercado de trabalho segue muito apertado, com baixa disponibilidade de mão de obra", afirmou.

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