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Ibovespa cai acompanhando turbilhão nas bolsas globais

Segunda-feira foi marcada por liquidação no Japão e nos papéis de big techs

Ibovespa: bolsa brasileira recua em linha com cenário externo (Germano Lüders/Exame)

Ibovespa: bolsa brasileira recua em linha com cenário externo (Germano Lüders/Exame)

Publicado em 5 de agosto de 2024 às 10h07.

Última atualização em 5 de agosto de 2024 às 17h37.

O Ibovespa registrou seu terceiro dia seguido de perdas e fechou esta segunda-feira, 5, com desvalorização de 1,24% aos 124.306 pontos, contaminado pelo tombo das bolsas globais.

Ibovespa hoje

  • IBOV: - 1,24% aos 124.306 pontos

A liquidação de hoje nos mercados foi uma continuação do movimento da última sexta-feira, 2, quando os mercados engoliram mal os dados do payroll. O relatório de empregos não-agrícolas dos Estados Unidos mostrou dados abaixo do esperado pelo mercado, e se tornou combustível para a grande preocupação do momento: que a maior economia do mundo possa estar entrando em uma recessão.

A bolsa do Japão, que ainda não tinha reagido aos dados na semana passada, hoje confirmou a tendência vendedora e amargou queda de 12,4% – maior tombo desde 1987 – reagindo também a um dos maiores desmontes de operações de carry trade da história recente.

O movimento também impactou o dólar, que chegou a bater a marca dos R$ 5,826 às 9h13, maior alta desde 15 de maio de 2020, quando fechou em R$ 5,838. A moeda americana encerrou o dia em alta de 0,56%, cotada a R$ 5,741.

Para Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, o dia hoje foi de mais estresse nas bolsas do que no dia do anúncio da pandemia, com o índice VIX atingindo uma alta histórica. O índice VIX, conhecido como "índice do medo", chegou a subir 181% pela manhã, a 65,73 pontos, próximo também dos 72 pontos verificados durante a crise financeira de 2008. A alta do VIX indica que o mercado está esperando uma grande volatilidade nos próximos 30 dias.

Por que o mercado está com medo de uma recessão?

O que colabora para a tese de que os EUA podem passar por uma recessão de sua economia são os dados do payroll (relatório de empregos não-agrícolas), que mostrou que a taxa de desemprego nos EUA em julho cresceu novamente atingindo 4,3% (frente a 4,1% em junho e 3,6% em julho de 2023). 

É a maior taxa desde novembro de 2021, superando o consenso de mercado, que esperava manutenção. Na mesma direção, os dados sobre novos postos de trabalho ficaram muito abaixo das expectativas ao registrar a criação de 114 mil novas vagas, enquanto o consenso da Reuters previa 176 mil vagas.

Além disso, o relatório Jolts, publicado na última terça-feira, 30, mostrou que o número de vagas de emprego nos setores não-agrícolas dos Estados Unidos caiu de 8,230 milhões em maio (dado revisado), para 8,184 milhões em junho, em leve recuo.

Com o mercado de trabalho desacelerando mais do que o esperado, investidores questionam que talvez o Federal Reserve (Fed, banco central americano) esteja demorando demais para cortar os juros. Na última reunião, o BC dos EUA manteve a taxa de juros entre 5,25% e 5,50% ao ano.

Alta do iene e dos juros no Japão também impactam

O aumento dos juros pelo Banco do Japão (BoJ) na semana passada também foi um driver que ajudou no tombo do mercado asiático. O BoJ elevou sua taxa de juros de 0,10% para 0,25% ao ano, o que tornou o cenário econômico do país ainda mais incerto, segundo Alex Carvalho, analista CNPI da CM Capital. A taxa, embora pequena, é a maior desde 2008, o que também ajuda a migrar o fluxo de capital de renda variável para renda fixa.

“Embora a taxa ainda seja bem baixa, os investidores do Japão ficaram boa parte dos últimos anos com taxa negativa ou zero, então dá para entender o porquê da saída da renda variável para renda fixa", acrescenta Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.

Já em relação ao iene, Yuri Alves, economista da Guide Investimento, explica que a moeda japonesa vem se valorizando devido às intervenções do BoJ e à elevação da taxa de juros. Como a divisa é conhecida por ser usada em operações de carry trade (estratégia que consiste em investidores tomarem dinheiro de um país com taxa de juros baixos para aplicá-lo em outro país com taxa de juros maior), quando a taxa de juros aumenta, há um encarecimento do custo desse capital.

Consequentemente, isso afeta o mercado japonês porque quanto mais depreciado estava o iene, melhor era para os traders fazerem esse tipo de estratégia, explica Alves. Com os temores de que os investimentos financiados por um iene barato estão sendo desfeitos, a moeda japonesa atingiu, nesta segunda-feira, o maior nível em relação ao dólar desde janeiro. Na máxima do dia, o iene chegou a subir 3,17%. O movimento impacta diretamente o real, porque a moeda brasileira também é visada para fazer carry trade.

Big techs adicionam dose de preocupação

Mas para além dos dados do payroll, Gala explica que a "correção tech" é um fator que também pesa para o temor de recessão. Por lá, houve continuidade no movimento vendedor nas ações de tecnologia e inteligência artificial – que até pouco tempo eram as queridinhas do mercado. 

Uma grande baixa veio da Apple: as ações da companhia caíram 4,82% hoje depois que o megainvestidor Warren Buffett reduziu a participação da Berkshire Hathaway na empresa em quase 40% durante o segundo trimestre de 2024. A decisão criou uma onda de especulações entre investidores e analistas do mercado financeiro que alimentou a queda do setor.

Para completar o fraco desemprego das big techs, Nvidia (Nasdaq: NVDA) caiu 6,36% nesta segunda-feira. A gigante de semicondutores amarga duras perdas após um relatório de que o lançamento de seus próximos chips de inteligência artificial (IA) pode ser adiado em três meses devido a falhas de design, o que poderia impactar clientes como Meta, dona do Facebook, Google, da Alphabet, e Microsoft.

Com o turbilhão, as bolsas americanas fecharam no negativo. O índice Dow Jones teve sua pior queda em dois anos: baixa de 2,60%, aos 38.703 pontos. Já o S&P 500 caiu 3%, para 5.186 pontos. A pior baixa, no entanto, foi do índice de tecnologia Nasdaq: recuo de 3,4%, aos 16.200 pontos.

Como é calculado o índice Bovespa?

Principal índice de ações da bolsa brasileira, a B3, o Ibovespa é calculado em tempo real, com base na média do desempenho dessa carteira teórica de ativos, cada uma com seu peso na composição do índice.

Funcionando como um termômetro do desempenho consolidado das principais ações para o mercado, cada ponto do Ibovespa equivale a 1 real. Por isso, se o Ibov está em 100 mil pontos, isso quer dizer que o preço da carteira teórica das ações mais negociadas é de R$ 100 mil.

Que horas abre e fecha a bolsa de valores?

O horário de negociação na B3 vai das 10h às 17h. A pré-abertura ocorre entre 9h45 e 10h, enquanto o aftermarket ocorre entre 17h25 e 17h45. Já as negociações com o Ibovespa futuro ocorrem entre 9h e 16h55.

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