Painel de cotações da B3 (Germano Lüders/Exame)
Beatriz Quesada
Publicado em 12 de abril de 2021 às 12h30.
Última atualização em 12 de abril de 2021 às 18h11.
Quadro geral do dia:
O Ibovespa subiu nesta segunda-feira, 12, puxado pela alta das ações dos bancos, Vale (VALE3) e da Petrobras (PETR3;PETR4) e contrariando o movimento negativo das bolsas nos Estados Unidos. Enquanto isso, o dólar comercial, que chegou a bater 5,74 na máxima do dia, avançou 0,8%, com notícia de que o governo estuda uma PEC para ações contra a covid-19 que poderia abrir espaços a emendas parlamentares do Orçamento de 2021, segundo informações do Broadcast. As despesas da Saúde seriam bancadas com créditos extraordinários e ficaram fora do teto, de acordo com a agência de notícias.
O mercado ficou atento também à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19, que foi instalada a pedido do STF para investigar eventuais omissões do governo federal no combate à pandemia. O julgamento sobre a instalação da CPI foi marcado para quarta-feira, 14.
Como resposta, o presidente Jair Bolsonaro pediu para que a CPI apure também a ação de prefeitos e governadores e pediu a abertura de impeachment contra ministros do STF.
“Sem conseguir retirar assinaturas [para abertura da CPI], o governo apela para duas estratégias. De um lado implicar governadores e prefeitos, o que é um risco político alto, e de outro obter maioria na comissão para arrastar o funcionamento”, comenta em nota Alvaro Bandeira, sócio e economista-chefe do banco digital modalmais.
Segundo Álvaro Frasson, economista do BTG Pactual digital, apesar do DXY, índice que mostra a relação do dólar contra uma cesta de moedas de países desenvolvidos, ter ficado perto do zero a zero hoje, o real se desvalorizou hoje por conta do aumento da tensão política, como reflexo do impasse no Orçamento, que se estende desde a semana passada e que ganhou um novo ator com a CPI da covid.
"Enquanto não tivermos uma solução entre o Executivo, Legislativo e Tribunal de Contas da União, vamos permanecer com o ambiente interno mais arriscado, com o risco-país mais elevado e isso vai ter reflexo na taxa de câmbio mais desvalorizado. Para termos uma retomada do dólar para a casa dos R$ 5,40/R$ 5,30, precisamos não somente de uma melhora no mercado internacional e juros mais elevados no Brasil, como também um ambiente político menos arriscado", disse Frasson.
Além disso, por aqui, segue no radar o avanço da pandemia. No pior domingo desde o início da crise, o Brasil registrou 1.824 mortes por Covid-19 em 24h.
Já no exterior, os índices americanos passaram por uma correção após os recordes de altas da última semana, que foram impulsionados pela expectativa de recuperação econômica. Agora, os investidores voltam a avaliar o risco de inflação nos Estados Unidos.
A alta da inflação é um movimento natural que acompanha o ritmo de vacinação acelerado e a enxurrada de estímulos. Existe a preocupação, no entanto, de que a elevação súbita nos preços pressione o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) a subir a taxa de juros antes do programado.
Neste domingo, o presidente do Fed Jerome Powell reiterou, em entrevista à CBS, que a inflação deve subir acima de 2% por um período prolongado antes que as autoridades aumentem a taxa de juros.
O mercado também observa as discussões sobre o pacote de infraestrutura de 2 trilhões de dólares apresentado pelo presidente Joe Biden. Nesta segunda-feira, Biden se reúne com um grupo bipartidário de congressistas para tentar convencê-los a apoiar o plano.
Na Europa, o índice pan-europeu STOXX600 fechou em baixa, assim como a maioria das bolsas do bloco, seguindo a influência negativa dos EUA.
Em variação, as maiores altas do Ibovespa ficaram por conta de Pão de Açúcar (PCAR3), que disparou 9,8% com mercado avaliando a ação como "barata" após forte queda desde a cisão da rede de atacarejo Assaí (ASAI3), seguido por Braskem (BRKM5) e Minerva (BEEF3), com ganhos de 7,8% e 5,2%, respectivamente.
Em relação ao Pão de Açúcar, Henrique Esteter, da Guide Investimentos, comenta que não há aparentemente nada novo sobre o Pão de Açúcar, mas a alta pode ser explicada pelo fato de que a ação está “demasiadamente descontada” em relação aos pares do setor.
Além disso, há expectativa de que o Casino, controlador do Pão de Açúcar (GPA), venda fatia considerável da Cnova, braço de e-commerce do grupo, do qual o GPA tem 34% de participação. "Com essa venda, os investidores esperam que o GPA se desfaça da sua posição equivalente a um terço na Cnova. Também é rumores de que a participação da GPA no grupo Éxito (que fica na Argentina e Uruguai) esteja em negociação", comentou Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos.
Sobre Braskem, a alta ocorre em meio a notícias sobre venda de fatia da Odebrecht na empresa, comenta Bruno Lima, head de renda variável da EXAME Invest Pro. Em reportagem do Brazil Journal desta segunda, executivos e empresários do setor petroquímico apontam que, pelo tamanho da companhia, a melhor forma da Odebrecht monetizar sua participação na companhia seria com a formação de um grande consórcio de empresas internacionais, nacionais e investidores financeiros.
Em quarto lugar no ranking do Ibovespa, apareceu Eneva (ENEV3), com alta de 4,6%, após o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovar venda da totalidade de sua participação de 50% na usina termelétrica São Marcos para a Golar Power.
Segundo analistas da Ativa Investimentos, a notícia da aprovação do Cade para a Eneva é positiva, uma vez que eleva as condições de liquidez da companhia para que finalize seus próximos projetos sem maiores complicações. Entre eles, a operacionalização de Jaguatirica II ainda neste ano, Parnaíba V até 2022 e Parnaíba VI até 2024, comentaram.
Já entre as maiores contribuições em pontos para a alta do índice, apareceram os papéis da Petrobras, que avançaram mais de 1% na esteira da alta do petróleo no exterior. Os contratos do petróleo Brent, negociados em Londres e usados como referência pela estatal, subiram 0,54%.
Investidores também ficaram atentos à assembleia geral extraordinária (AGE) da companhia, que começou às 15h para eleição do novo conselho de administração. A votação foi solicitada pelo governo federal quando decidiu demitir Roberto Castello Branco da presidência da empresa como consequência de desavenças entre o comandante da estatal e o presidente da República, Jair Bolsonaro, sobre a política de preços de combustíveis da empresa.
No início de março, quatro dos onze integrantes do conselho escolheram deixar a companhia após a troca do então presidente Roberto Castello Branco pelo general Joaquim Luna e Silva. Os conselheiros que abandonaram os cargos foram João Cox Neto, Nivio Ziviani, Paulo Cesar de Souza e Silva e Omar Carneiro da Cunha Sobrinho.
Já os bancos registraram altas entre 1% e 2,5%, com destaque para Itaú (ITUB4), que registrou o maior avanço entre as grandes instituições financeiras. “O boletim Focus de hoje mostrou que o mercado vê a Selic mais alta, com a perspectiva saindo de 5% ao ano para 5,25% ao ano. Taxas mais altas impulsionam o setor financeiro”, afirma Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.
Do outro lado, lideraram as perdas da Eletrobras (ELET3; ELET6), seguidos por Azul (AZUL4) e Eztec (EZTC3), com desvalorizações entre 2,8% e 1,5%. No quarto pior lugar, apareceu os papéis da Copel (CPLE6), com baixa de 1,3%. Na semana passada, a elétrica anunciou, que até o dia 20 de abril, detentores dos papéis ONs e PNs da companhia poderão convertê-los em units, que será formada por uma ação ON e quatro PN classe B.