Painel com cotações na bolsa brasileira, a B3 (Germano Lüders/Exame)
Beatriz Quesada
Publicado em 13 de junho de 2022 às 17h30.
Última atualização em 13 de junho de 2022 às 17h44.
Ibovespa hoje: apostas de que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) tenha de acelerar o ritmo de alta de juros provocaram um efeito em cadeia nesta segunda-feira, 13. Bolsas de valores caíram no mundo inteiro, enquanto investidores buscaram a proteção do dólar, que valoriza frente às principais moedas do mundo.
O pessimismo internacional se refletiu nos principais indicadores do mercado brasileiro, com o Ibovespa caindo para perto da casa dos 102 mil pontos — o menor patamar desde o final de janeiro — e o dólar sendo negociado acima de R$ 5,11. Foi o sétimo pregão consecutivo de desvalorização do Ibovespa, que acumula queda de 7,9% em junho. No ano, o índice virou para o negativo e agora recua 2,12%.
O forte movimento de aversão a risco foi impulsionado pela alta da inflação. Na última sexta-feira, 10, o Índice de Preço ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 1% em maio e 8,6% no acumulado de 12 meses, o maior nível desde 1981. O CPI atingiu seu maior nível em 41 anos enquanto o consenso era de manutenção do patamar de abril, de 8,3%.
O dado foi divulgado alguns dias antes da decisão monetária do Fed, que será divulgada nesta quarta-feira, 15. "A inflação mais salgada nos Estados Unidos jogou ainda mais pressão para o Fed subir juros". disse Jerson Zanlorenzi, head da mesa de ações e derivativos do BTG Pactual, em morning call desta manhã.
"A grande dúvida é se o Fed deveria continuar subindo juros no ritmo de 50 pontos base, como sinalizado, ou acelerar para 75 nesta reunião, dado que a inflação deu sinais de ganho de força. Esse debate leva os investidores a ficarem fora do mercado de risco, como os de ações, commodities e criptoativos", defendeu.
O ritmo ainda mais intenso da inflação tem feito o rendimento dos títulos do Tesouro americano (treasuries) dispararem. O treasury com vencimento em dois anos avançou 30 pontos-base nesta segunda, para 3,34% — o maior patamar desde dezembro de 2007. O rendimento do treasury com vencimento em dez anos avança para acima de 3,39%, em seu pico desde maio de 2011.
“Em outras palavras, a sensação que vem tomando conta dos agentes é de um eventual período recessivo à frente, com inflação muito elevada, o que seria muito ruim num momento de recuperação pós-pandemia”, afirmou Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da corretora Órama.
O maior pagamento dos títulos do Tesouro americano, considerados os mais seguros do mundo, motivou a venda de ativos considerados de maior risco — como ações. O cenário tem penalizado especialmente empresas com perspectivas de lucro distantes do horizonte de investidores. O índice de tecnologia Nasdaq derreteu mais de 4% nesta segunda-feira.
No mercado local, as perdas foram generalizadas. Papéis ligados ao setor de turismo sofreram as maiores perdas, com Gol, Azul e CVC recuando mais de 10%. Ações de tecnologia também são penalizadas, com destaque para Méliuz e Locaweb.
Na ponta positiva, apenas quatro das 91 ações do Ibovespa operam em alta. O destaque fica com a Cielo, que teve seu preço-alvo revisado pelo BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME). O banco, que via a ação a R$ 4, agora projeta o papel a R$ 5. Ainda assim, os analistas seguem com recomendação neutra para a ação.
A exportadora de celulose Suzano também avançou, acompanhando a alta do dólar. EDP Brasil e Taesa fecham o grupo de altas.