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Ibovespa cai 1% com pandemia, piora em NY e Argentina; Carrefour salta 13%

Dólar dispara mais de 2% e fecha perto da máxima do dia, em R$ 5,64; nos EUA, os principais índices acionários encerram em terreno negativo

Painel com cotações na bolsa brasileira, a B3  (Germano Lüders/Exame)

Painel com cotações na bolsa brasileira, a B3 (Germano Lüders/Exame)

BQ

Beatriz Quesada

Publicado em 24 de março de 2021 às 09h18.

Última atualização em 24 de março de 2021 às 19h36.

Quadro geral do dia:

  • Ibovespa cai 1,06%, aos 112.064 pontos
  • Dólar comercial avança 2,25% e é negociado em 5,64 reais
  • EUA: Dow Jones recua 0,01%, S&P 500 cai 0,55% e Nasdaq tem baixa de 2,01%
  • Europa: STOXX600 fecha em leve variação positiva de 0,02%
  • Rendimento dos títulos americanos de 10 anos tem leve recuo de 0,02 ponto percentual e chega a 1,61%

Depois de subir cerca de 1,4% na máxima do dia, o Ibovespa intensificou queda nesta tarde e fechou na mínima do dia, na sua terceira sessão consecutiva em terreno negativo. O movimento ocorreu em meio às preocupações dos investidores com a pandemia e piora do mercado americano. O S&P 500 e Dow Jones reverteram a alta registrada mais cedo e encerram no vermelho, enquanto o Nasdaq ampliou perdas. Já o dólar comercial acelerou valorização frente ao real, fechando perto da máxima do dia, cotado em 5,64 reais.   

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"O aumento da aversão ao risco no mercado local ocorre em meio às preocupações com a pandemia no país, diante de sinais de endurecimento das medidas restritivas nos principais estados do Brasil. Somado a isso, o mercado lá fora também perdeu força, o que contribuiu para a piora do índice", comentou Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de ações e derivativos do BTG Pactual digital.

O economista-chefe da Messem Investimentos, Gustavo Bertotti, acrescentou que, além da piora no exterior e temores quanto ao avanço da pandemia no país, a piora do mercado ocorre também em meio à notícia de que 16 governadores entregaram ao presidente da Câmara, Arthur Lira, uma carta pedindo a elevação do auxílio emergencial para o valor de 600 reais.

"Isso tudo causa uma maior aversão ao risco no mercado doméstico, uma vez que as discussões sobre o nível de endividamento do país e respeito ao teto dos gastos, que é extremamente importante, voltam à tona. Com isso, vimos o dólar ganhar muita força", comentou.

Ele apontou ainda que a fala da vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, de que o país pode não pagar a dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI) adicionaram ainda mais estresse ao mercado. Ao jornal La Nación, Kirchner disse que o país não tem dinheiro para pagar a dívida de 45 bilhões de dólares que o país tem com o FMI.

"Essa notícia sobre um possível calote da Argentina adiciona ainda mais preocupação em torno dos emergentes. Tivemos o caso da Turquia recentemente que abalou os mercados e pesou sobre a percepção de risco dos emergentes em relação à saída da crise. Agora, temos um país vizinho ao Brasil, que tem uma relação muito forte com a gente falando que pode não ter condições de pagar sua dívida. Isso ajuda a pressionar ainda mais no nosso mercado", disse Bertotti.

Destaques de ações

Com a cautela dos investidores, apenas 15 das 82 ações do Ibovespa registraram alta hoje. Lideraram os ganhos, as ações do Grupo Carrefour Brasil (CRFB3), que subiram 13% após o anúncio, nesta madrugada, da aquisição do Grupo BIG por 7,5 bilhões de reais.

O BIG (antigo Walmart Brasil) é dono de marcas como BIG, Super Bompreço, Maxxi Atacado, Walmart e Sam's Club no Brasil. A estimativa é que a combinação crie um negócio com vendas brutas de cerca de 100 bilhões de reais. 

“Com o negócio, a companhia será a maior do segmento de varejo alimentar no Brasil. O papel é muito atrativo, negocia a um múltiplo de preço/lucro [P/L] de 15x para 2021. Vale a pena ficar de olho”, afirmou Bruno Lima, head de renda variável da Exame Invest Pro, na live Abertura de Mercado nesta manhã de quarta-feira (veja o programa).

Na esteira, como a segunda e terceira maior valorização, figuraram os papéis de Suzano (SUZB3), que informou que pretende elevar os preços da celulose para EUA, Europa e China em abril, e Gol (GOLL4). Essas ações avançam, cada, mais de 2%.

Ao fim do pregão, a Gol informou que elevou, pela segunda vez no dia, a oferta para os acionistas da Smiles (SMLS3), na tentativa de realizar a deslistagem da companhia de programa de fidelidade e incorporá-la em sua estrutura societária. A nova proposta inclui um preço implícito de 27,00 reais por ação da Smiles (ante 26,14 reais da proposta lançada mais cedo, ou um aumento de 3,3%).

Ao preço atualizado, a oferta prevê que os acionistas da Smiles podem por optar por receber uma parcela em dinheiro no valor de 9,14 reais por ação e 0,6601 ação preferencial da Gol ou, como uma segunda opção, o valor de 22,54 reais em dinheiro e 0,1650 ação preferencial da companhia aérea. Fora do Ibovespa, as ações da Smiles subiram 8,8%.

Do oposto do índice, os papéis da IRB Brasil (IRBR3), que puxaram os ganhos ontem, tiveram dia de realização de lucros e recuaram 6,2%, como a maior queda deste pregão. Na sequência, Via Varejo (VVAR3) e Magazine Luiza (MGLU3) caíram, cada, mais de 5%.

Pandemia no Brasil

Por aqui, a pandemia continua no foco do mercado. Ontem, o Brasil superou a marca de 3 mil mortes diárias por Covid-19 pela primeira vez desde o início da crise, segundo dados do Ministério da Saúde. 

O avanço da pandemia prejudica o desempenho do real frente ao dólar, que também sofre com o fortalecimento da moeda americana no exterior.

Ainda assim, o presidente Bolsonaro anunciou nesta tarde que será criado um comitê de coordenação para ações na saúde junto aos governadores, liderado por Pacheco, presidente do Senado, e que se reunirá semanalmente com especialistas.

O anúncio foi realizado após uma reunião com governadores e autoridades de Legislativo e Judiciário para discutir os rumos da pandemia, em que se pretendia passar uma mensagem de união no combate à pandemia.

Na véspera, Bolsonaro fez um pronunciamento em rede nacional, mudando o tom do discurso para uma mensagem favorável às vacinas. Segundo ele, em poucos meses, o Brasil será autossuficiente na produção dos insumos e 2021 será "o ano da vacinação".

"A fala ontem do presidente em rede nacional de TV traz certo alívio uma vez que ele está ciente e comprometido em vacinar o mais rápido possível. Somente a vacinação pode dar o alívio necessário a esta situação", comentou em nota André Perfeito, economista da Necton Investimentos. 

Nos Estados Unidos, o rendimento dos treasuries, usado como medida de expectativa para a inflação no país, fica próximo à estabilidade nesta quarta-feira em meio ao segundo dia de discursos do presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, e da secretária do Tesouro, Janet Yellen, no Congresso americano. As audiências fazem parte de uma avaliação econômica trimestral.

Em comentários semelhantes aos feitos na véspera, Yellen e Powell disseram acreditar em uma forte recuperação para a economia americana, alimentada pelo progresso contra a pandemia, na esteira da distribuição de vacinas e da aprovação de um pacote de 1,9 trilhão de dólares para alívio econômico. As falas impulsionam os índices americanos.

Na Europa, os indicadores de atividade econômica surpreenderam. O PMI da zona do euro avançou de 48,8 em fevereiro para 52,5 em março -- o maior nível em oito meses. No mesmo período, o PMI do Reino Unido subiu de 49,6 para 56,6 e, o da Alemanha, passou de 51,1 para 56,8.

Apesar dos bons dados, os investidores continuam temerosos com as novas medidas de lockdown sendo adotadas pela Europa, não permite que as bolsas se recuperem completamente e os mercados operam em direção mista nesta tarde. Nos últimos dias, França e Alemanha endureceram as restrições de circulação para tentar conter o vírus.

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