Painel de cotações da B3 | Foto: Germano Lüders/Exame (Germano Lüders/Exame)
Guilherme Guilherme
Publicado em 21 de janeiro de 2021 às 09h57.
Última atualização em 21 de janeiro de 2021 às 18h14.
O Ibovespa caiu nesta quinta-feira, 21, voltando a ter um dos piores desempenhos do mundo pelo terceiro dia consecutivo. No cenário local, pesaram negativamente as incertezas sobre a produção e distribuição das vacinas e a possibilidade de uma nova ajuda fiscal por parte do governo. O índice recuou 1,10% para 118.328 pontos.
Nesta quinta-feira, o candidato à presidência do Senado Rodrigo Pacheco (DEM-MG) disse que irá discutir a possibilidade de renovar o pagamento de auxílios logo na primeira semana de atividade do Congresso, que volta do recesso parlamentar de fim de ano no início de fevereiro.
“Vamos ter que sacrificar algumas premissas econômicas para poder manter alguma forma de socorro a essas pessoas” disse Pacheco em entrevista à Bloomberg. O candidato, apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro, também sinalizou que o país pode desrespeitar o teto de gastos, sua principal âncora fiscal.
“O teto de gastos foi uma medida importante, ele deve ser observado, mas vivemos estado de necessidade absolutamente excepcional com pessoas morrendo e desempregadas -- então, é preciso que o Estado as socorra”, afirmou o candidato. Pacheco informou ainda que as propostas ainda serão alinhadas com o Ministério da Economia.
No campo da vacinação, os insumos necessários para produzir as vacinas no Brasil ainda não chegaram ao país. Além do governo federal, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o governador de São Paulo, João Dória, vem tentando viabilizar a entrega desses itens por parte da China. Mas até agora não houve resultados. "O mercado fica ansioso para que o cenário de vacinação se concretize e comece a acontecer o mais rápido possível", afirma João Vitor Freitas, analista da corretora Toro Investimentos.
Para Régis Chinchila, analista da corretora Terra Investimentos, são três os fatores que puxam a B3 para baixo. "A bolsa não está conseguindo acompanhar o otimismo do mercado internacional por conta das preocupações com vacinação, com o cenário político (eleições na Câmara e Senado) e com as indefinições na agenda econômica (auxílio, reformas e privatizações)”, diz.
No mercado americano, os principais índices de ações oscilaram próximos da estabilidade, após bater recorde na última sessão em meio ao otimismo com o início do governo Joe Biden. O Dow Jones recuou 0,04% enquanto o S&P 500 avançou 0,03%. Já o índice de tecnologia Nasdaq registrou ganhos de 0,55%.
A expectativa é de que com a ampla vitória democrata nas eleições viabilizem novas rodadas de estímulos nos Estados Unidos. Um pacote de 1,9 trilhão de dólares já está sendo discutido.
Internamente, investidores também repercutem a retirada do forward guidance do comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom). O instrumento vinha sendo usado para sinalizar que não haveria elevação de juros tão cedo. Embora tenha mantido a taxa de juros em 2%, na véspera, cresce a pressão para o Copom suba a Selic em resposta à recente alta da inflação.
Sem o forward guidance, o caminho para a alta de juros fica praticamente livre. No mercado, a expectativa é de que até o fim do ano, a taxa Selic chegue a 3,25%, com o início do ciclo de alta de juros previsto para o começo do segundo semestre. “A retirada do forward guidance serve como um ponto de atenção ao mercado, que deve dar maior relevância aos dados de inflação nos próximos meses”, afirma Chinchila.
Uma possível alta de juros tende a ser negativa para a bolsa e positiva para o real, tendo em vista que o aumento de rendimento dos títulos públicos aumenta a atratividade da renda fixa para os investidores estrangeiros e, consequentemente, promove a entrada de dólares no país.
No início do dia, o dólar chegou a cair mais de 1% seguindo o movimento internacional, mas inverteu o movimento, com o aumento dos temores fiscais. A moeda americana encerrou o dia negociada a 5,364 reais, em valorização de 0,98%. Já em relação uma cesta de moedas de países desenvolvidos, medida pelo índice Dyx, o dólar caiu 0,40%. Entre ontem e hoje, o real passou do melhor para o pior desempenho global frente ao dólar diante de uma nova onda de aversão a risco no Brasil, causada por renovadas preocupações fiscais.
Ainda assim, é possível que o real se recupere em 2021. “A apreciação do dólar deve ser reduzida à medida que os juros sejam elevados. Além disso, o movimento [de valorização do dólar] é contrário ao que se vê nos Estados Unidos, com o Fed sinalizando que irá continuar com os patamares de juros atuais [entre 0% e 0,25%] para manter o estímulo monetário e o Biden estimulando a economia com quase 2 trilhões de dólares. É natural que ocorra uma desvalorização do dólar ao longo do ano”, diz Henrique Esteter, analista da corretora Guide Investimentos.