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Ibovespa cai 15% após duas paradas e volta a junho de 2018

Pela quarta vez nesta semana, a bolsa acionou o mecanismo de "circuit breaker", que interrompe as negociações para tentar diminuir o pânico

A bolsa brasileira B3: mercado de ações local sofre com as incertezas sobre o coronavírus (Cris Faga/Getty Images)

A bolsa brasileira B3: mercado de ações local sofre com as incertezas sobre o coronavírus (Cris Faga/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 12 de março de 2020 às 10h12.

Última atualização em 12 de março de 2020 às 18h23.

Enquanto a pandemia do coronavírus Covid-19 se espalha rapidamente pelo mundo, a derrocada das bolsas de valores continua. O Ibovespa, principal índice acionário brasileiro, fechou em queda de 14,8% nesta quinta-feira, aos 72.582 pontos. Com a baixa de hoje, a maior desde o aprofundamento da crise asiática, em 1998, chegam a 38% as perdas neste ano do Ibovespa, que voltou ao nível de junho de 2018. O dólar comercial chegou a superar R$ 5 no início dos negócios, mas desacelerou com quatro leilões de venda de moeda pelo Banco Central e terminou o dia com elevação de 1,4%, vendido a R$ 4,786.

As negociações na bolsa B3 chegaram a ser suspensas duas vezes hoje pelo chamado "circuit breaker". O índice de referência chegou a cair 19,5% no patamar mínimo do dia — se recuasse 20%, haveria nova paralisação —, mas a queda arrefeceu após o Federal Reserve, o banco central americano, anunciar que vai injetar 1,5 trilhão de dólares no sistema financeiro.

O "circuit breaker" é um mecanismo que interrompe as negociações por 30 minutos quando a queda do índice chega a 10% em relação ao fechamento anterior e por uma hora quando a baixa encosta em 15% para que os investidores esfriem a cabeça. Se a baixa chegar a 20%, as transações são interrompidas por um período de tempo a ser definido pela B3. Antes de hoje, as negociações na B3 já haviam sido interrompidas no dia 9 e ontem por conta do medo de que a pandemia do Covid-19 faça desacelerar fortemente o crescimento global.

As maiores baixas do Ibovespa têm sido das empresas que sofrem primeiro os efeitos de uma crise de saúde pública global. A ação da companhia aérea Gol despencou 36% hoje, para R$ 9,97, e a concorrente Azul perdeu 33%, a R$ 20,30. A operadora de turismo CVC caiu 29,1%, a R$ 13,64. O IRB teve baixa de 28%, a R$ 9,15, após a Polícia Federal conduzir uma operação de busca e apreensão na sede do grupo ressegurador em São Paulo.

A bolsa de Nova York também acionou o "circuit breaker" pela segunda vez nesta semana hoje, quando o índice de ações S&P 500, que reúne as 500 ações mais importantes do mercado americano, caiu 7%. Ontem à noite, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ordenou o fechamento do país a viajantes vindos da Europa, o que sinalizou para os investidores que o cenário é pior do que o imaginado anteriormente.

O pânico foi refletido no índice de volatilidade VIX. Também conhecido como "índice do medo", o VIX subiu 40% nesta quinta e encerrou em 75,47 pontos - o maior já registrado para um fechamento desde 27 outubro de 2008, quando terminou com 80,06 pontos.

"O mundo está percebendo que a coisa é muita mais feia do que se achava", afirmou Jefferson Laatus, estrategista-chefe e fundador do Grupo Laatus. Segundo ele, os impactos negativos da pandemia na economia que só poderão ser mensurados no próximo trimestre. "Ainda não se vê isso nos dados econômicos. Mas no próximo trimestre vai dar para avaliar o quanto a China sofreu e o quanto os outros países demoraram para sentir os efeitos do coronavírus."

No Brasil, a derrubada, no Congresso Nacional, do veto do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao aumento do BPC (benefício assistencial a idosos carentes e deficientes) impôs uma nova derrota ao governo e elevou a preocupação com a evolução da situação fiscal do Brasil em um momento em que a saúde pública vai demandar mais gastos. "Além do coronavírus tem problemas referentes ao Congresso. O Brasil vai sofrer mais que o resto do mundo", disse Laatus.

André Candreva, sócio da Portofino Investimentos, vê um cenário de "pânico total". "É um processo de liquidação, não tem mais fundamento agora", disse.  Segundo ele, a sequência de altas no mercado americano, que vinha desde 2009, reforçou os efeitos do coronavírus sobre as bolsas. "É igual a uma panela. Vai aumentando a pressão até que uma hora explode", disse.

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