Para gestores, cenário deve seguir favorável para Bolsa em junho, enquanto o dólar deve buscar patamares ainda mais baixos | Foto: Amanda Perobelli/Reuters (Amanda Perobelli/Reuters)
Guilherme Guilherme
Publicado em 12 de maio de 2021 às 12h10.
Última atualização em 12 de maio de 2021 às 17h40.
O Ibovespa recua nesta quarta-feira, 12, após os dados do índice de preço ao consumidor americano (CPI, na sigla em inglês) aumentarem as preocupações sobre a alta da inflação nos Estados Unidos. Às 16h, o principal índice da B3 caía 2,33%, aos 120.077 pontos.
Divulgado nesta manhã, o CPI de abril subiu 0,8% na comparação mensal, enquanto o CPI anual passou de 2,6% para 4,2%. Os números ficaram muito acima das expectativas de alta mensal de 0,2% e de 3,6% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Com a inflação subindo nos Estados Unidos, o mercado teme que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) tenha que subir os juros antes do esperado para controlar a alta de preços.
"Estamos em uma fase em que o bom é ruim. Em teoria, a inflação é devido ao crescimento. Mas dados de inflação mais fortes vão fazer com que o Fed inicie sua política de cortes de estímulos e também repense sua paciência [sobre a inflação]", diz Jefferson Laatus, estrategista-chefe e sócio-proprietário do Grupo Laatus.
A autoridade monetária tem garantido que as taxas de juros devem se manter baixas até que os EUA alcancem o pleno emprego e que a inflação ultrapasse a meta de 2% por algum tempo. Os novos dados do CPI, no entanto, aumentam as pressões para a elevação de juros. Logo após a divulgação do CPI, o rendimento dos títulos públicos americanos de 10 anos, que ajuda a mensurar a expectativa de inflação no país, subiu quase 3%. Em entrevista recente à Bloomberg, o ex-presidente do Fed de Nova York William Dudley chegou a afirmar que já poderá ser tarde quando o Fed começar a subir juros.
Com o aumento das preocupações sobre o nível da inflação americana e a possibilidade de os Estados Unidos subirem a taxa de juros, investidores do mundo inteiro aumentaram posições em dólar, com o índice Dxy (que mede a variação da moeda americana frente a seus pares) subindo para a máxima do dia. No Brasil, a moeda americana chegou a quase 0,8% de alta, antes de resfriar a valorização.
Na bolsa, ações com múltiplos elevados são as que mais sofrem neste pregão. Isso porque se espera que, com o financiamento mais caro, essas empresas demorem mais para entregar o crescimento esperado. Esse é o caso, principalmente, das companhias com grandes investimentos em tecnologia.
Com participação majoritária de ações do setor, o índice Nasdaq volta a registrar o pior desempenho do mercado americano, operando em queda de mais de 2%, enquanto o Dow Jones, com menor presença de empresas de tecnologia, cai pouco menos de 1,5%.
Além do viés negativo vindo do exterior, a movimentação do Ibovespa repercute a divulgação de resultados corporativos do primeiro trimestre de 2021. Liderando as perdas do índice estão as unitis do Banco Inter (BIDI11), que recuam 8,16% mesmo após o banco ter informado lucro de 20,8 milhões de reais nos primeiros três meses do ano -- alta de 95% da receita total.
“Apesar do resultado em linha com as expectativas do mercado, as units do Banco Inter vão caindo, com investidores embolsando os ganhos acima de 20% apresentados no último mês”, destacam, em nota, analistas da Ativa Investimentos.
Na ponta positiva, as ações da BR Distribuidora (BRDT3), que chegaram a disparar quase 9% pela manhã, sobem 5,31%. Como pano de fundo está o resultado do primeiro trimestre, em que a companhia conseguiu dobrar seu lucro líquido na comparação anual de 234 milhões de reais 492 milhões de reais. Um dos pontos de destaque do balanço foi o aumento de margem com ganhos de estoque.
"As margens sozinhas seriam apenas metade da história se fossem acompanhadas por uma perda de participação de mercado. No entanto, a empresa ganhou 0,5 p.p. de quota de mercado no trimestre. Sua proposta de valor também parece sólida, com 36 adições líquidas de postos de serviço no trimestre e 240 nos últimos doze meses", avaliam em relatório analistas do Credit Suisse.