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HRT amplia o trauma do investidor em ações de petrolíferas

Destino da companhia ainda é uma incógnita, enquanto os papéis na bolsa amargam queda próxima de 70% em 12 meses


	A HRT reitera que, neste momento, não está em análise um cenário de liquidação da companhia
 (Divulgação)

A HRT reitera que, neste momento, não está em análise um cenário de liquidação da companhia (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 26 de julho de 2013 às 13h51.

São Paulo – Em outubro de 2010 o mercado ainda brindava os anos dourados da bolsa brasileira. Longe de ser um ano histórico como 2007, quando os investidores testemunharam o recorde histórico de 64 ofertas iniciais de ações (IPO), 2010 ainda pegava carona na onda de otimismo, com 11 lançamentos de empresas no mercado de capitais. Entre eles, estava a HRT Participações em Petróleo (HRTP3).

A empresa pré-operacional batia à porta da Bovespa com um valor de mercado estimado em 5,68 bilhões de reais. No caixa, 2,6 bilhões de reais levantados com a oferta. A promessa da equipe da HRT, formada por geocientistas e ex-engenheiros da Petrobras e da Agência Nacional do Petróleo, era desbravar blocos de exploração em terras brasileiras e no mar da Namíbia.

A partir daí, o mercado comprou a ideia, cruzou os braços e pagou para ver. Em meio a algumas operações de exploração desde então, a empresa anunciou apenas pequenas quantidades de gás na Amazônia e, recentemente, divulgou a conclusão da perfuração de Murombe-1, poço localizada na Namíbia, que foi considerado seco.

As recentes surpresas negativas fizeram a paciência dos investidores diminuir e, consequentemente, o valor de mercado da HRT também encolheu. Os quase 6 bilhões de reais de valor de mercado na bolsa em 2010 derreteram para aproximadamente 740 milhões de reais nos dias atuais.

Apenas nos últimos 12 meses, as ações ordinárias da HRT amargam uma desvalorização de 67%, bem maior que a queda do Ibovespa, principal referência da bolsa brasileira, que perdeu 11% no período.

Além disso, a queda de 65% da HRT desde o início de maio, a deixa com o pior desempenho entre os 111 maiores exploradores de petróleo e gás com sede em mercados emergentes, após a OGX, que caiu 74%, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Com a falta de visibilidade de ativos consistentes e de geração de caixa, não demorou muito para o mercado começar mudar de opinião sobre a empresa e colocá-la na berlinda. O banco alemão Deutsche Bank, por exemplo, mudou recentemente sua recomendação para as ações ordinárias da petrolífera de “manter” para “vender”. “Assim como a OGX, outra empresa pré-operacional de petróleo, a HRT possui pouca disciplina financeira. E o fato de que a produção inicial de ambas ainda não se iniciou coloca as duas em uma situação delicada”, explica o analista Marcus Sequeira.


Segundo ele, a HRT encontrou petróleo em poucos poços, e nenhum com volume que justificasse a exploração. “Os investidores ficarão, provavelmente, relutantes em investir em principiantes brasileiras daqui para frente”. Sequeira acredita que os papéis podem cair ainda aproximadamente 10% de seu patamar atual. O preço-alvo para a HRT é de 1,50 real para os próximos 12 meses.

Mesmo com o fato de a HRT ter garantido algum fluxo de caixa após a aquisição de 60% no Campo de Polvo da BP, que tem produção diária de 13 mil barris por 135 milhões de dólares, a preocupação sobre a viabilidade da empresa só cresce.

“A falta de resultados positivos da Namíbia é tida como uma grande preocupação. É fundamental que a empresa consiga melhorar sua posição de caixa”, diz Conrado Vegner, do Bank of America Merrill Lynch. O banco também tem recomendação equivalente à venda para os papéis da empresa.

Já a equipe de análise do HSBC alerta para a falta de visibilidade dos ativos exploratórios na Namíbia, para a falta de monetização da produção de gás em Solimões no curto prazo, para a produção de água e restrições de caixa em Polvo.

Com esse cenário, fica agora um dos maiores desafios para Milton Franke, que assumiu em maio a presidência da HRT no lugar do Márcio Mello: tornar a companhia financeiramente viável e resgatar a confiança com os investidores.

“Temos dez coordenadores na equipe de transição e a gente acredita que foi um ativo importante que veio para a HRT e pode contribuir de várias maneiras de forma econômica e técnica como uma nova área de atuação da companhia que pode crescer no futuro gerando receita e criando um equilíbrio fiscal melhor entre gastos na exploração e abatimentos possíveis na produção”, disse Franke em entrevista ao blog Mercado em 5 minutos.


O futuro

Dentre os últimos anúncios feitos pela HRT está o do fechamento de contrato para vender seu negócio de logística aérea e o início do processo de alienação de quatro sondas de perfuração e de seu laboratório de prestação de serviços geoquímicos, para fortalecer sua posição de caixa.

Além disso, uma recente reportagem publicada no jornal Valor Econômico destaca que HRT avalia inclusive a sua liquidação. Nos atuais termos, impostos pelas mazelas da marcação a mercado, poderia sim ser uma forma de gerar valor para os seus acionistas. Pela conta que fizemos, ficou um tanto claro que caixa, mais créditos fiscais e ativo fixo por si só oferecem valor substancialmente superior às cotações correntes”, diz Roberto Altenhofen, analisa da Empiricus Research. 

Em comunicado, a HRT informou que seu conselho de administração decidiu estabelecer um novo comitê especial para avaliar as possibilidades de desenvolvimento inorgânico para a empresa, opções estas que incluem, mas não se limitam a vendas potenciais de ativos, combinações estratégicas e fontes alternativas de captação.

"A HRT reitera que, neste momento, não está em análise um cenário de liquidação da companhia. Entre os esforços para o fortalecimento de seu caixa estão as ações divulgadas esta semana em seu Programa Estratégico de Desinvestimento", disse a companhia em e-mail enviado pela assessoria de imprensa.

 

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