São Paulo - Controlar a compra e venda de ações na tela do computador pessoal, via home broker, não tem consequências apenas no nível de adrenalina do sangue de quem se torna operador por alguns minutos. Os efeitos da ascensão do pregão via internet podem ser sentidos cada vez mais nos mercados. Um dos primeiros exemplos do poder dos sardinhas - apelido conferido aos investidores pessoas físicas, "peixes pequenos" - é a entrada da Brasil Ecodiesel (ECOD3)  no Ibovespa este ano. 

A empresa está agora na lista das mais negociadas da bolsa com uma base de 90% de investidores individuais, que controlam 50% do capital da companhia. O fortalecimento é mérito do varejo, explica o analista Felipe Miranda, da casa de análise independente Empiricus. "São os investidores dispersos que ditam os preços, forçam o trading e empurram a empresa para a liquidez", aponta. "A dinâmica cria um papel barato, confiável, e com negociação constante".

Em abril, quase cinco milhões negócios foram realizados via home broker na BM&FBovespa, gerando um volume financeiro de 46,81 bilhões de reais. Os investidores pessoas físicas já são  557 mil. Segundo o diretor de relações com investidores da Brasil Ecodiesel, Charles Mann de Toledo, a mudança de perfil do investidor tem influenciado a divulgação das informações da empresa, que se procura ser mais clara e didática. "Temos tentado simplificar a linguagem na divulgação dos nossos resultados ao mercado. É um desafio grande, sempre, equilibrar acessibilidade e detalhamento para os acionistas mais qualificados".

Mesmo com os papéis da companhia sofrendo com as oscilações recentes dos mercados, esse perfil de negócios fortalece a empresa, diz o analista Erik Hood, da SLW Corretora. "O investidor individual é atraído pelo preço e pelas características da companhia. A expectativa é que a Ecodiesel use esse fôlego para se manter no Ibovespa, ainda mais com a perspectiva do crescimento do setor na matriz energética".

Qualidade

A subida ao palco dos investidores individuais pode derrapar na pouca atenção dada à qualificação desses acionistas, ressalta Felipe Miranda. "É um mercado importante, mas ainda não maduro. Mesmo com o crescimento gradativo, pouco se investe em educação financeira dessas pessoas". O resultado, diz, é gente que entra na bolsa confundindo pregão com multiplicação dos pães e peixes. "É preciso ensinar ao mercado brasileiro a enxergar a bolsa como poupança de longo prazo. Ou mais cedo ou mais tarde, esse investidor desiste".

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