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Guia completo: como investir na bolsa de valores em tempos de juros e inflação altos

A EXAME ouviu especialistas e reuniu as principais recomendações para montar uma carteira de ações considerando um ambiente de aversão a risco

Painel de cotações da B3: analistas recomendam opções mais conservadora para tempos de volatilidade (Germano Lüders/Exame)

Painel de cotações da B3: analistas recomendam opções mais conservadora para tempos de volatilidade (Germano Lüders/Exame)

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Beatriz Quesada

Publicado em 30 de agosto de 2022 às 06h02.

Última atualização em 30 de agosto de 2022 às 18h38.

A inflação dispara entre as principais economias globais, que estão vendo os preços saltarem para os maiores patamares em décadas. Nos Estados Unidos, a inflação é a maior em 40 anos, enquanto as principais economias da Europa enfrentam uma alta de preços recorde na Zona do Euro

Herança da pandemia e, principalmente, reflexo da guerra entre Rússia e Ucrânia, a inflação está obrigando os bancos centrais ao redor do mundo a elevarem as taxas de juros, mesmo sob o risco de prejudicar a economia. O movimento cria um ambiente global de aversão a risco, com investidores do mundo todo evitando opções mais arriscadas de investimento, como as ações - em especial as de países emergentes. 

A bolsa brasileira, no entanto, tem se apresentado como um oásis para o mercado internacional. A despeito do pior momento no exterior, o Ibovespa acumula alta superior a 9% no ano, enquanto o S&P 500, principal índice do mercado americano, soma mais de 15% de queda. O movimento tem como pano de fundo a valorização das commodities. A oferta comprimida por questões geopolíticas e seu uso como instrumento de proteção (hedge) contra a inflação têm sido gatilhos para o aumento de preços.

Mas sinalizações mais duras do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) serão um teste para o mercado brasileiro, com investidores internacionais cada vez mais pessimistas com o futuro da maior economia do mundo. 

Às preocupações externas, soma-se a maior cautela diante da chegada das eleições presidenciais no Brasil. Grandes fundos e até bancos de investimento já sinalizaram a necessidade de maior prudência em meio às incertezas sobre as eleições e as políticas que serão adotadas pelo próximo governo, principalmente no tocante às questões fiscais.

Para ajudar a compreender as nuances do mercado e a identificar as melhores oportunidades da bolsa, a EXAME Invest conversou com analistas e estrategistas que explicaram como posicionar a carteira para proteção – e ganhos –, considerando a volatilidade dos próximos meses.

Onde investir para se proteger da volatilidade

Quando o objetivo é proteção, a palavra de ordem é cautela. E isso, no mercado de renda variável, se traduz em conservadorismo. Em vez de apostar em negócios com alto potencial de crescimento, analistas e investidores preferem empresas sólidas, com forte geração de caixa, baixo endividamento e resultados resilientes.

Também ajuda se as companhias forem especialmente preparadas para lidar com os dois principais desafios do momento: inflação e juros. “O grande ponto da inflação é se as empresas conseguem fazer um repasse de preços. Já nos juros, o desafio é o controle de custos. Existem setores que, tradicionalmente, têm melhor desempenho nesse ambiente”, explica Guilherme Alves, sócio e analista de ações na Nord.

As principais apostas da casa para um cenário turbulento estão nas empresas consideradas mais resilientes e menos dependentes da economia local. Isso envolve o setor de serviços básicos e essenciais, como energia e saneamento. “Em cenários de dificuldade, a última conta que o consumidor deixa de pagar é a de luz”, argumenta Alves. 

Outras empresas a entrar na lista das ações mais seguras são as chamadas blue chips, as ações mais negociadas da bolsa de valores, que incluem os grandes bancos, papéis que costumam performar bem em cenários de juros altos. 

E, apesar de cíclicas, as exportadoras de commodities também entram na conta pelo já mencionado efeito de hedge - que, a propósito, tem ajudado o Ibovespa nos últimos meses. Papéis ligados ao setor de mineração e siderurgia estão entre os escolhidos pela corretora Ágora Investimentos para lidar com o cenário atual.

“O minério de ferro e o dólar estão apreciados. Para o ano que vem projetamos o preço da tonelada próximo de US$ 110, o que ainda gera um fluxo de caixa interessante. A Vale (VALE3), por exemplo, está sendo negociada a um múltiplo próximo de 3 vezes Ebitda para 2023, contra 4,5 vezes historicamente – o que consideramos como ideal para as ações no atual momento do ciclo do minério”, avalia José Cataldo, diretor de análise de ações da Ágora.

O histórico de bons resultados também é uma característica buscada por Josias de Matos, analista da Toro Investimentos. “O cenário externo está muito complicado, com desaceleração na China, recessão nos Estados Unidos e crise energética na Europa. Devido à grande incerteza, que tem levado investidores a ativos de menor risco, empresas com operação robusta tendem a ser bons ativos para ter na carteira”, afirmou. 

Entre os papéis recomendados pela casa, estão Bradesco (BBDC4) e Suzano (SUZB3), um banco e uma exportadora de celulose. Outras apostas são Ambev (ABVE3), ainda no setor de blue chips, e CTEEP (TRPL4), que tem a resiliência do setor elétrico – um dos mais recomendados pelos analistas quando o mar está agitado.

Onde investir para buscar oportunidades de lucro

Aqueles navegadores mais arrojados, que estão dispostos a correr riscos maiores para obter retornos mais polpudos, podem voltar a olhar para as ações que foram prejudicadas pela alta dos juros e da inflação, com o objetivo de surfar na recuperação desses papéis.

Parte do movimento já tem sido observado desde a última alta da taxa básica de juros, a Selic, em agosto. O Banco Central elevou a Selic para 13,75% ao ano e, desde então,  crescem as apostas no mercado de que a taxa já chegou a um pico.

As estimativas para o crescimento e inflação deste ano voltaram a ser positivamente revisadas no Boletim Focus desta segunda. A projeção para o IPCA, principal índice de inflação do País, saiu de 6,82% para 6,70% e a expectativa para o PIB saltou de 2,02% para 2,10%.

“Estamos em um momento em que o ciclo de alta dos juros está perto do fim e as empresas estão apresentando bons resultados. Com isso em mente, as empresas de consumo discricionário podem ser boas oportunidades para para alocar agora e tentar colher melhores frutos no futuro”, afirmam Victor Penna e Wesley Bernabé, analistas do BB Investimentos.

Com isso em mente, alguns investidores estão retomando as posições em papéis esquecidos durante os tempos de turbulência. O principal exemplo são as ações do Magazine Luiza (MGLU3), que saltam 75% no mês de agosto, acumulando fortes ganhos tanto após a decisão do BC e em reação ao balanço trimestral da companhia.

Os analistas ressaltam, no entanto, que a volatilidade deve continuar presente. “Temos eleições pela frente no Brasil, chance de recessão aumentando cada vez mais nos Estados Unidos, guerra entre Rússia e Ucrânia; são muitos fatores de risco. O cenário que estamos traçando agora pode mudar e essas ações podem voltar a cair no curto prazo”, argumentam.

As recomendações do BB estão na linha das dos demais analistas: empresas de serviços essenciais (utilities) e bancos. Dado o cenário de volatilidade, estas também são as opções defendidas por Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de ações e derivativos do BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME), junto com as exportadoras de commodities.

O analista lembra, ainda, que os papéis estão com preço atrativo. “A bolsa está em um dos patamares mais baixos da história”, afirma.

Utilizando como base a relação entre preço e lucro (P/L) do Ibovespa – um dos múltiplos mais utilizados por analistas para verificar a atratividade dos papéis –, é possível observar que o P/L do Ibovespa projetado para 12 meses segue próximo a 9 vezes, em níveis próximos ao que era negociado na crise de 2008.

“Olhando friamente, a bolsa está muito atrativa para investir. Mas o investidor precisa entrar sabendo que o mar está turbulento”, alerta Zanlorenzi. Em especial porque ainda não se sabe em qual dimensão a inflação global e a elevação de juros nas principais economias do mundo podem respingar no Brasil.

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