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Guerra tarifária entre EUA e China traz incertezas, mas mercado mostra resiliência

Apesar das tarifas, investidores aprendem a filtrar ruídos e mercado financeiro mantém crescimento em 2025

China2Brazil
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Agência

Publicado em 3 de junho de 2025 às 15h00.

A guerra tarifária dos EUA contra a China, iniciada por Donald Trump, continua afetando a economia e a percepção dos investidores. Em maio, o Índice de Incerteza da Política Econômica (EPU), calculado por economistas das universidades Northwestern e Stanford, registrou alta de 28%.

Apesar disso, o VIX, conhecido como "índice do medo" da Bolsa de Opções de Chicago, caiu 19,92% no mesmo período. Os índices S&P 500, Nasdaq e Dow Jones avançaram 5%, 7,84% e 2,64%, respectivamente.

Investidores aprendem a filtrar ruídos das declarações

O mercado financeiro tem mostrado menor sensibilidade às declarações do governo americano. Segundo Marko Papic, estrategista-chefe de geopolítica da BCA Research, os investidores passaram a se acostumar com o estilo de negociação de Trump, caracterizado por recuos estratégicos de última hora. “A resposta a declarações agressivas diminuiu com o tempo. O mercado aprendeu a filtrar esse ruído”, disse Papic ao portal Yicai.

Dan Ives, diretor global de pesquisa em tecnologia da Wedbush Securities, afirmou que o setor financeiro passou a encarar as tarifas anunciadas como medidas limitadas, inferiores às ameaças iniciais. “O mercado entendeu que não é possível intimidar o mercado de ações, de títulos ou o dólar. As ações do governo têm sido mais brandas do que o discurso oficial sugere”, afirmou.

Impactos econômicos e percepção pública

Ives mencionou como exemplo a proposta de Trump de transferir a produção do iPhone para os EUA. “A Apple conhece os limites dessa ideia. A economia americana depende da cadeia produtiva global, incluindo a China. A repetição de ameaças reduziu o impacto das notícias”, disse.

Ele também lembrou que Trump prometeu fechar 90 acordos comerciais em 90 dias, mas entregou menos. Para Ives, o governo criou um ambiente de instabilidade e agora busca reduzir o atrito. “As regras mudam frequentemente. Os investidores começam a se adaptar, mas os custos das tarifas recaem sobre os consumidores americanos.”

Em relatório publicado em 2 de junho, o UBS destacou que o governo americano mostra sensibilidade a riscos de curto prazo e continua motivado a firmar acordos comerciais.

Papic, da BCA, apontou que o principal fator macroeconômico para 2025 será a desaceleração do estímulo fiscal nos EUA. “O dólar já reflete essa mudança. O foco excessivo nas tarifas esconde o movimento de saída de capitais, impulsionado pela queda no ritmo de gastos públicos.” Ele comparou o atual déficit fiscal à redução de velocidade de 120 para 65 milhas por hora e afirmou que isso compromete a atratividade dos ativos americanos.

Segundo Papic, a política tarifária errática também reduz a percepção dos EUA como destino seguro de investimentos. “Esse é o ponto central, mais relevante do que os números isolados sobre tarifas.”

Opinião pública e projeções econômicas

A política tarifária também afeta a opinião pública. Pesquisa da YouGov, divulgada no fim de maio, apontou que apenas 41% dos americanos aprovam o desempenho de Trump, enquanto 54% o desaprovam. O apoio à sua política econômica está em 37%, e à política comercial e tarifária, em 35%. Além disso, 57% dos entrevistados acreditam que Trump foi “longe demais” no aumento das tarifas. No total, 72% classificam a situação econômica como “mediana” ou “ruim”.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) cortou novamente as projeções de crescimento global. A expectativa agora é de que a economia mundial cresça 2,9% em 2025 e 2026, abaixo dos 3,3% previstos para 2024. Para os Estados Unidos, a OCDE estima desaceleração de 2,8% em 2024 para 1,6% em 2025 e 1,5% em 2026.

A inflação deve subir para cerca de 4% até o final de 2025 e continuar acima da meta do Federal Reserve (Fed) em 2026, o que deve adiar cortes na taxa de juros. A organização alertou ainda que restrições à imigração e cortes no funcionalismo público agravam o impacto das tarifas.

Segundo o economista-chefe da OCDE, Álvaro Pereira, a desaceleração global afeta a renda e limita o crescimento do emprego. “A maioria dos países enfrentará perspectivas econômicas mais fracas. É urgente reduzir barreiras comerciais”, afirmou. Pereira acrescentou que, mesmo com uma eventual mudança na política tarifária americana, os efeitos sobre o crescimento e a inflação não seriam imediatos devido à persistente incerteza política.

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