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Gripe aviária: o que o episódio da doença de Newcastle em 2024 diz sobre a nova ameaça

Surto de gripe aviária no RS reacende temores no setor de proteínas, mas histórico recente com a doença de Newcastle traz viés otimista sobre contenção regional e impacto limitado

 (Agência Brasil/Divulgação)

(Agência Brasil/Divulgação)

Natalia Viri
Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 19 de maio de 2025 às 17h47.

O primeiro caso de gripe aviária em uma granja comercial no Brasil, confirmado na última sexta-feira, 16, pelo Ministério da Agricultura, gerou forte apreensão entre produtores, exportadores e investidores. A doença foi detectada em uma fazenda na cidade de Montenegro, no Rio Grande do Sul, estado responsável por cerca de 13% das exportações brasileiras de carne de frango.

Apesar do impacto imediato sobre o setor, analistas do BTG Pactual e do Bradesco BBI apontam que o episódio vivido com a doença de Newcastle – conhecida como 'pseudo' peste aviária – em 2024 serve como um referencial importante e relativamente otimista para avaliar os desdobramentos da nova ameaça sanitária.

Naquele episódio, também originado no Rio Grande do Sul, as exportações foram inicialmente suspensas por grandes parceiros como China e União Europeia, seguindo protocolos bilaterais.

Porém, as restrições duraram menos do que o previsto: a China, por exemplo, voltou a importar frango brasileiro em apenas duas semanas, apesar do anúncio inicial de 60 dias. Além disso, os embarques foram redirecionados para outros estados, o que reduziu o impacto para as companhias.

Para os analistas, a resposta eficaz em 2024 evidenciou a capacidade do Brasil de conter focos regionais, mesmo em meio a ameaças sanitárias graves. O país também aprimorou seus protocolos de regionalização desde o início dos casos de gripe aviária em aves silvestres, em 2023. Isso pode ajudar a conter os danos agora.

Ainda assim, há diferenças importantes. Segundo o BTG (do mesmo grupo de controle de Exame), a escala da atual reação internacional é maior: países que já impuseram suspensões abrangentes — como China, União Europeia, México, Coreia do Sul, Chile, Argentina e Uruguai — responderam por cerca de 42% do valor total exportado em 2024, o equivalente a US$ 3,9 bilhões. Estima-se um impacto potencial de até US$ 300 milhões por mês, caso os embargos se prolonguem.

Na visão dos analistas, o principal risco neste momento é justamente a duração das restrições nacionais, já que muitos parceiros ainda não implementaram protocolos regionais. Em contraste, países como Japão, Arábia Saudita, Emirados Árabes e Filipinas já concordaram com uma abordagem localizada, restringindo apenas cargas provenientes da área afetada — um raio de 10 km ao redor da fazenda contaminada.

No mercado acionário, o impacto deve variar conforme o perfil das empresas. A BRF é a mais exposta, pela alta concentração na produção avícola nacional. No entanto, analistas do BTG observam que as ações da empresa devem seguir atreladas à razão de conversão com a Marfrig, diante da proposta de fusão em andamento — o que pode suavizar a reação do mercado. A recomendação segue neutra.

Já a JBS, com maior diversificação internacional, tende a absorver melhor o choque. A Seara, sua divisão de frango, deve ser impactada, mas de forma mais limitada. A recomendação para o papel é de compra.

Se o caso de Newcastle mostrou que o Brasil é capaz de agir com rapidez e eficiência, o desafio agora é evitar que o surto de gripe aviária se transforme em um evento prolongado — ou globalmente penalizante. A resposta nos próximos dias será crucial para o setor mais exportador de proteína de frango do mundo.

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