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Greve do BC: falta de indicadores afeta projeções do mercado antes de decisão do Copom

Banco Central chega ao 44º dia sem boletim Focus, principal pesquisa de expectativas do mercado para Selic, câmbio, inflação e atividade econômica; outros indicadores também foram afetados pela paralisação dos servidores

Cartaz de greve de funcionários do Banco Central em frente à sede, em Brasília (Andressa Anholete/Bloomberg/Getty Images)

Cartaz de greve de funcionários do Banco Central em frente à sede, em Brasília (Andressa Anholete/Bloomberg/Getty Images)

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Guilherme Guilherme

Publicado em 14 de junho de 2022 às 16h15.

Última atualização em 14 de junho de 2022 às 16h17.

A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central inicia com investidores no escuro sobre o que será decidido nesta quarta-feira, 15. A crescente expectativa é de que elevem a Selic de 12,75% para 13,25%, deixando a porta aberta para um novo ajuste para 13,75% em agosto. Mas também há perspectivas de que o ciclo de alta se encerre nesta semana com uma alta para 13,25% ou até para 13,50%. 

A dúvida sobre qual será o fim do ciclo de alta da Selic em meio a revisões de estimativas se torna ainda maior sem o principal documento de projeções de mercado do Banco Central, o Focus. A falta do boletim semanal, segundo economistas do mercado, reduz a previsibilidade para as decisões do Copom.

A ausência do Focus, devido à greve de funcionários do Banco Central por reajuste de salários, chegará a 44 dias nesta quarta, quase o mesmo período entre reuniões do Copom. A paralização se arrasta desde o início de abril, com breve período de retorno aos trabalhos entre o fim de abril e início de maio.

O Focus também faz falta para o acompanhamento das expectativas de câmbio e inflação. Sem o relatório do Banco Central, o mercado tem se virado como pode. Pesquisas privadas tornaram-se uma alternativa e dados divulgados por outras instituições, como IBGE e FGV, ganharam ainda mais relevância.

“A falta do Focus gera certo transtorno. As expectativas fazem parte da projeção de inflação. E é justamente no Focus onde consigo ver isso”, afirmou André Perfeito, economista-chefe da Necton. Sem o fator expectacional, disse, as projeções tendem a ser menos precisas. 

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Para além do Focus

Mas os efeitos da greve têm ido além do Focus, afetando também a publicação de outros dados do Banco Central. O índice de atividade mensal IBC-Br é um deles. Por ter periodicidade mensal, o indicador é utilizado como referência para o PIB, divulgado trimestralmente.

Pelo calendário do BC, o IBC-Br de abril seria divulgado nesta quarta-feira, 15. Mas a última edição publicada foi a de fevereiro, que saiu com atraso no início de maio. Sem o indicador, pesquisas mensais de atividade por setor do IBGE, como as de serviços, consumo e indústria se tornaram a proxy do PIB. 

“O IBC-Br é relativamente novo [de 2003]. Ele ajuda nas projeções, mas o mercado se vira bem sem”, disse Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset. Porém, alguns dados do Banco Central são praticamente insubstituíveis, disse Vieira. 

Esse é o caso dos números mensais de fluxo cambial, apontou o economista, que tiveram sua última divulgação em abril. O mês também foi o último em que foi divulgado o IC-BR, que mostra o comportamento das commodities em reais, considerado relevante para a dinâmica da inflação brasileira e na projeção de inflação de alimentos. “Alguns dados que eram produzidos pelo Banco Central realmente fazem bastante falta.”

Entre as publicações do Banco Central interrompidas pela greve também estão os dados mensais de inadimplência. As estatísticas monetárias e de crédito não são divulgadas desde abril, sendo os últimos dados referentes ao mês de fevereiro. O atraso na divulgação, segundo economistas, implica na falta de um “termômetro” da saúde de crédito do país, o que limita a previsibilidade da atividade econômica. 

A falta dessas informações ganha contornos ainda mais relevantes diante da expectativa de deterioração do crédito pelo aumento das taxas de juros. Até fevereiro, por exemplo, a inadimplência para a aquisição de veículos havia crescido 33% em relação ao ano anterior, quando a taxa básica de juros Selic ainda estava na mínima histórica de 2%. 

A inadimplência do rotativo do cartão de crédito (em que a fatura é paga apenas parcialmente, com a incidência de juros sobre a fatia restante) saltou de 26,3% para 35,1% no período. A tendência é de que o número tenha aumentado, com a economia absorvendo os efeitos das altas de juros anteriores e subsequentes.

Com a alta prevista para esta quarta, a Selic deverá chegar ao maior patamar desde 2016. Resta saber se esta será a última do ciclo de ajustes do Banco Central – e se a greve afetará a publicação do comunicado sobre a decisão, prevista para às 18h30. Se depender do histórico, terá, pelo menos, alguns minutos de atraso.

O Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (SINAL) discute nesta tarde a continuidade da greve', mas segundo a própria entidade, a tendência é de que o movimento continue para "intensificar a pressão" sobre o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto

Veja também:
Fim do ciclo de alta da Selic? Cresce expectativa de novo ajuste em agosto

 

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