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Grendene: Receita cresce com repasses de preços, mas lucro líquido cai 16,3% no 3º tri

Na linha final do balanço, custos e despesas maiores pesaram enquanto portfólio de produtos de maior margem não cresceu

Grendene: Portfólio de marcas mais populares, como Ipanema, teve melhor desempenho (Divulgação/Exame)

Grendene: Portfólio de marcas mais populares, como Ipanema, teve melhor desempenho (Divulgação/Exame)

O ambiente econômico complexo do terceiro trimestre e as temperaturas abaixo da média pesaram sobre o desempenho da Grendene (GRND3), fabricante das marcas Melissa e Ipanema. Embora tenha conseguido avanço de receita, o lucro líquido da companhia ficou em R$ 174,2 milhões, 16,3% a menos do que um ano antes, pressionado pelo avanço dos custos por produto e por despesas maiores.

No terceiro trimestre deste ano, a receita líquida da companhia avançou 6,3%, para R$ 713,9 milhões, com as vendas no mercado interno avançando 11,8% em receita e 2% em volumes de pares. Foram justamente as vendas das marcas mais populares que se saíram melhores, conta diretor de relações com investidores, Alceu Albuquerque, em entrevista à Exame Invest.

O volume total ficou praticamente estável, avançando apenas 0,7%. Segundo o executivo, o incremento da receita foi muito mais por reajuste de preços do que por mix, uma vez que os produtos que mais venderam foram os de menor tíquete.  "A Divisão 1, como Ipanema, cresceu em volume e receita, enquanto a Melissa cresceu em receita e caiu em volume."

Albuquerque lista algumas razões para um crescimento disforme das vendas: inflação e juros altos e nível de endividamento elevado comprimindo a renda do consumidor estão entre eles. "Nosso produto diretamente relacionado a renda", diz, acrescentando, porém, que "produto certo vende mesmo com a renda pressionada", o que ajudaria a explicar o crescimento justamente dos produtos de maior exposição às classes mais baixas. A coleção foi acertada, garante ele.

Mas o "sell in", como é chamada a venda para o varejo, ainda foi em ritmo misto. Começou o trimestre com mais fôlego e foi perdendo tração conforme se aproximava do período eleitoral, que trouxe incertezas. "Incerteza política causa muita insegura pelos clientes, que postergam ao máximo a colocação de pedidos. Também há um custo maior de carregar estoques em ambiente de juros mais altos", explica. Entre os canais de venda, o de autosserviço, ou seja supermercados e atacarejos, foi o que teve melhor desempenho, com ganhos de participação de mercado para a marca Ipanema. 

Fim da primeira incerteza

Uma das razões para acreditar que o quarto trimestre será positivo é que uma incerteza chegará ao fim: a eleitoral, já que o segundo turno para a eleição presidencial acontece no domingo, 30. "Vemos cenário de crescimento, recuperação de margens, volume e receita. Deve ser um trimestre positivo mesmo com o cenário desafiador que existe."

Na perspectiva de melhoria de margem está a projeção de redução de custos, que neste trimestre ainda aceleraram 14,5%. O composto de PVC, que é a principal matéria-prima da empresa há tem queda acima de 18%, mas ainda insuficiente para anular o avanço acumulado acima de 60% desde 2020. Isso também acontece porque, devido à quebra da cadeia de suprimentos durante a pandemia, a empresa aumentou seus estoques de 30 a 60 dias para algo entre 60 e 90 dias. Ou seja, o estoque, até agora, ainda foi comprado a preços maiores. Conforme vai diminuindo, a empresa tem reposto a preços melhores, mas ainda não foi suficiente para fazer efeito no custo por produto.

"Queda deve bater de forma mais intensa a partir do quarto trimestre, quando devemos ter uma recuperação forte das nossas margens. Outros componentes fabris estão no mesmo nível de consumo da receita líquida ou até consumindo menos", diz.

As despesas também cresceram 23,7%, mas essa é outra linha que deve diminuir a pressão mais à frente. A companhia tem internalizado operações como as plataformas de varejo-online e a gestão das franquias do Clube Melissa, processo que exigiu muitas contratações e que só deve ter implementação concluída em fevereiro. "A partir daí vão trazer mais receita e impactar menos."

Mercado externo

Depois de impulsionar as vendas da Grendene por trimestres seguidos, o mercado externo mostrou desaceleração. Segundo o executivo, a  queda de 5,2% nos volumes vendidos, para 7,4 milhões de pares, está atrelada ao cenário macroeconômico. "A população [nos Estados Unidos e Europa] não está acostumada com inflação e está tentando deixar de consumir o que não é essencial. Durante a pandemia, houve quebra das cadeias e muitos varejistas ficaram sem produtos pra vender. Assim que voltou, botaram pedidos grandes, mas, com cenário recessivo e inflação alta, o consumo não se confirmou e varejistas ficaram com estoques muito grandes e o volume de pedidos de reposição ficou enfraquecido", explica. A receita, porém, ainda foi 8,5% maior, para R$ 168,7 milhões, ou 8,1% maior em dólares. 

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