Grendene: vendas do clube Melissa (Divulgação/Grendene/Site Exame)
Repórter Exame IN
Publicado em 2 de março de 2023 às 19h45.
Última atualização em 2 de março de 2023 às 22h36.
Depois de trimestres fortes, o último de 2022 foi difícil para a Grendene (GRND3), que fabrica as sandálias Ipanema e os sapatos Melissa, além dos chinelos Rider. O volume vendido caiu 14,9%, para 43,6 milhões de pares no período e a receita líquida ficou 3,3% menor, a R$ 763,7 milhões. "Entramos no trimestre mais otimistas e os números vieram abaixo esperado", observa o diretor de relações com investidores Alceu Albuquerque, em entrevista à EXAME Invest. O lucro líquido do trimestre caiu 12% no reportado, para R$ 202,6 milhões, ou 10,8% no recorrente, para R$ 209 milhões.
No ano, porém, a queda do volume é menor, de 3,8%, enquanto a receita líquida chegou a valor recorde de R$ 2,51 bilhões, com o lucro chegando a R$ 613,1 milhões, 13% maior que um ano anos, desconsiderando o impacto da equivalência patrimonial da Grendene Global Brands (GGB), sua joint-venture com a 3G Radar para explorar o mercado externo. Considerando os ajustes, o lucro líquido caiu 5,5%, para R$ 568 milhões.
Nos últimos meses de 2022, o cenário macroeconômico comprimiu a renda do consumidor, mais uma vez. Se somou a esse fator negativo o fato dos últimos meses do ano terem sido de frio e chuva, o que pesa para o consumo de calçados abertos. No entanto, o maior impacto, diz Albuquerque ainda está na confiança em baixa dos empresários do varejo.
Ainda hoje há incerteza muito grande política e principalmente econômica, então os clientes estão com confiança muito baixa, postergando pedidos e trabalhando com estoques menores, segundo o executivo.
As vendas para o consumidor final, no entanto, estão caindo bem menos, diz ele. As vendas do Clube Melissa e indicadores de outros canais de varejo indicaram que os consumidores estão comprando mais do que o ritmo de pedidos do varejista está crescendo.
"Nossa tese é que esse é um comportamento temporário e vai acontecer recomposição de estoque ao longo do ano. Já vemos melhora marginal no primeiro trimestre em relação ao quarto trimestre. Então, 2023 pode ser um ano de 13 meses ou 12,5 meses, porque o cara vai ter que recompor estoques", afirma Albuquerque. Essa recomposição de estoque, no entanto, deve vir mais a partir do segundo semestre.
No mercado externo, o volume das vendas caiu 20,9% no ano, mas ainda cresceu 2,9%. A companhia, no entanto, conseguiu repor preços. A receita bruta por par por dólar cresceu 20,6% no quarto trimestre e 9,6% no consolidado do ano.
"No mercado externo também vemos desaquecimento da demanda diante da inflação alta, onde a população parece que reage até mais intensamente. Mas os varejistas lá estão com estoques mais elevados e vão demorar um pouco mais para colocar pedidos", diz ele, citando um exemplo: lá fora, varejistas estão transferindo risco de estoque para o fabricante, mais ou menos como funciona um marketplace.
A Grendene vai distribuir o maior dividendo da história da empresa. O conselho a distribuição de R$ 1 bilhão em dividendos que estavam em suas reservas de lucro, um valor de quase 16% do valor de mercado da companhia.
A empresa conseguiu, no fim do ano, vitória judicial em decisão final para a não inclusão de benefícios fiscais concedidos pelo Ceará em sua base de cálculo para IRPJ e CSLL. Os valores estavam represados desde 2016.
Além desses dividendos extras, a empresa vai distribuir R$ 114 milhões brutos referentes aos resultados do quarto trimestre.