A Espanha confirmou oficialmente sua entrada em recessão nesta quinta-feira (Pierre-Philippe Marcou/AFP)
Da Redação
Publicado em 17 de maio de 2012 às 12h38.
Madri - A espera por novas eleições legislativas na Grécia em junho, estipulada na terça-feira, e os sinais financeiros preocupantes enviados pela Espanha, cujo governo tenta evitar um plano de resgate internacional, têm provocado forte sentimento de cautela nos mercados nesta quinta-feira e geram forte insegurança na zona do euro.
A Espanha confirmou oficialmente sua entrada em recessão nesta quinta-feira, ao anunciar uma contração do Produto Interno Bruto (PIB) em 0,3% no primeiro trimestre.
Contudo, a maior preocupação relativa à quarta economia da zona do euro vem da saúde de seu sistema bancário, por sua grande exposição aos chamados "ativos tóxicos" do setor imobiliário.
A taxa de risco - diferença paga com relação ao bônus alemão a dez anos - termômetro da confiança dos mercados na economia do país - se situava aos 493 pontos, após cair na véspera a 480 pontos desde o pico de 507 pontos registrado durante a sessão.
Isso faz com que o rendimento de seu bônus a dez anos fique a 6,319%, em contraste com os 1,463% pago pelo alemão, o que no longo prazo torna insustentável o pagamento de sua dívida.
Apesar disso, o Tesouro espanhol foi capaz de emitir nesta quinta-feira 2,494 bilhões de euros em títulos da dívida a três e quatro anos, a máxima prevista para esta emissão, mas com juros em forte alta.
Nesse contexto, as bolsas europeias operavam com quedas entre 1,3 e 2,5% pela tarde.
O Bankia, quarta maior entidade bancária da Espanha, liderava as perdas em Madri, chegando a recuar 27,49%, mas teve seu recuo limitado. A ação do banco, cujo resgate foi anunciado pelo governo na semana passada, está cotada em torno de 1,364 euros, menos de um terço do preço de estreia em bolsa (3,75 euros), em 20 de julho de 2011.
Segundo o jornal espanhol El Mundo desta quinta-feira, os clientes de Bankia, preocupados com o resgate, retiraram mais de 1 bilhão de euros de suas contas nos últimos dias.
O banco carrega consigo 31,8 bilhões de euros (40,4 bilhões de dólares) em ativos imobiliários problemáticos entre créditos de duvidosos reembolsos e edifícios ou terrenos confiscados em um mercado desvalorizado após o estouro da bolsa imobiliária em 2008.
Segundo a imprensa espanhola, a agência de classificação Moody's prevê reduzir novamente a nota de solvência dos principais bancos espanhóis, após ter revisado para baixo a dos bancos italianos nesta semana.
Nesse contexto, o governo espanhol firmou um empréstimo sindicado (acordo mútuo) de 30 bilhões de euros com 27 entidades bancárias para ajudar a regiões e comunidades autônomas no pagamento de provedores, e que gerará uma importante injeção de liquidez para a economia real.
Ao mesmo tempo, as políticas de austeridade defendidas com unhas e dentes pela chanceler alemã, Angela Merkel, também estão em cheque. O novo ministro da Economia francês, Pierre Moscovici, disse nesta quinta-feira que seu país não ratificará o pacto fiscal europeu se este não incluir medidas que impulsionem o crescimento.
"O que foi dito claramente é que o tratado não seria ratificado tal como está e que seria preciso completá-lo com medidas para o crescimento, com uma estratégia de crescimento", disse Moscovici em uma entrevista à televisão BFMTV.
De Londres, o primeiro ministro britânico, David Cameron, lançou uma nova advertência nesta quinta-feira sobre o futuro da zona do euro, que se encontra, segundo ele, "à beira do abismo", antes de pedir aos dirigentes para que chegassem a um acordo já que "a sobrevivência da moeda única está em jogo".
Cameron prevê participar na tarde desta quinta-feira de uma vídeo conferência com o novo presidente francês, François Hollande, a chefe do governo alemão, Angela Merkel, e o italiano Mario Monti, e as autoridades comunitárias para analisar a situação da zona do euro e a próxima reunião do G8.
O presidente da União Europeia (UE), Herman Van Rompuy, convocou os presidentes da UE para uma reunião informal no dia 23 de maio em Bruxelas.
Na Grécia, o presidente interino nomeou a um novo governo de transição para organizar as eleições do 17 de junho. O Parlamento gerado pelas eleições de 6 de maio, sem maioria, se reúne nesta quinta-feira pela primeira vez e será dissolvido na sexta-feira para permitir o prazo de um mês previsto pela Constituição antes de celebrar os novos comícios legislativos.