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Graça na Petrobras, sem mudar programa, sinaliza mais captações

A taxa dos títulos em dólar da Petrobras com vencimento em 2020 caiu 14 pontos-base desde o anúncio de Foster na presidência

Para a Aviva Investors e a Aberdeen Asset Management, a futura nova presidente da estatal, Maria das Graças Foster, vai manter os planos de endividamento recorde (Marcello Casal Jr./ABr)

Para a Aviva Investors e a Aberdeen Asset Management, a futura nova presidente da estatal, Maria das Graças Foster, vai manter os planos de endividamento recorde (Marcello Casal Jr./ABr)

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Da Redação

Publicado em 26 de janeiro de 2012 às 08h51.

Nova York - A maior disparada dos títulos da Petróleo Brasileiro SA em um mês deve perder fôlego. Para a Aviva Investors e a Aberdeen Asset Management, a futura nova presidente da estatal, Maria das Graças Foster, vai manter os planos de endividamento recorde.

A taxa dos títulos em dólar da Petrobras com vencimento em 2020 caiu 14 pontos-base desde o anúncio, em 23 de janeiro, que Graça Foster, como a executiva é mais conhecida, foi indicada para substituir José Sergio Gabrielli na presidência. A queda da taxa seria a maior desde a semana encerrada em 4 de novembro, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. No mesmo período, o rendimento de papéis similares da Petróleos Mexicanos caiu 3 pontos-base, ou 0,03 ponto percentual.

A Petrobras pretende captar US$ 18 bilhões por ano até 2015, principalmente no exterior, para mais que dobrar a produção até 2020 com a exploração dos campos do pré-sal. Apesar de a reputação de Graça Foster como uma executiva eficiente estar impulsionando as ações da companhia, ela não deve reduzir o plano de emissão de dívida, disse Jeremy Brewin, que administra cerca de US$ 4 bilhões em títulos de mercados emergentes na Aviva.

“O risco desconhecido é quanto eles vão ter que acrescentar à atual curva de juros para completar um financiamento bem grande”, disse Brewin em entrevista por telefone de Londres. “Qualquer um que detenha títulos da Petrobras corre o risco de ofertas de papéis a preços mais baixos, prejudicando a carteira atual.”

Os títulos da empresa com vencimento em 2019 pagam 174 pontos-base a mais do que a dívida do governo brasileiro de prazo similar, a menor diferença desde 16 de janeiro, segundo dados compilados pela Bloomberg.

‘Qualquer momento’

A Petrobras captou US$ 9,6 bilhões em títulos no exterior em 2011 e pretende ofertar um valor semelhante este ano, disse o diretor financeiro, Almir Barbassa, em entrevista em 12 de janeiro. A estatal pode vender dívida “a qualquer momento” se conseguir taxa atraente, disse Barbassa.

A Petrobras mantém o plano de investir US$ 225 bilhões no período de cinco anos até 2015, sua assessoria de imprensa afirmou em e-mail enviado em resposta a perguntas da reportagem. A estatal se recusou a comentar o desempenho dos títulos ou planos para novas captações.

A Petrobras quer aproveitar o salto nas emissões nos mercados internacionais, embalado pelo aumento da demanda por ativos de maior rendimento. Emissores de países em desenvolvimento captaram US$ 38,7 bilhões em 2012, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

A disparada nas emissões de mercados emergentes pode reduzir a demanda por uma nova colocação da Petrobras, disse Siddharth Dahiya, analista de crédito da Aberdeen Asset Management.


‘Oferta enorme’

“Não sei o quanto o mercado iria digerir considerando que já houve oferta enorme”, disse Dahiya, que trabalha em Londres. “A visão no mercado é que a operação é iminente. Pode ser em múltiplas moedas. Assim que eles deixarem claro quando vão colocar a transação, se é que vão, o mercado passará a ter uma visão sobre a nova presidente.”

O rendimento dos títulos em dólar da Petrobras caiu 14 pontos-base ontem, revertendo o aumento de quatro pontos-base registrado em 23 de janeiro, quando foi anunciada a indicação de Graça Foster. A promessa feita ontem pelo Federal Reserve de manter os juros baixos nos EUA até pelo menos o fim de 2014 estimulou a demanda por ativos de maior rendimento, segundo Dahiya.

A ação da Petrobras subiu 4,8 por cento nos primeiros dois dias após a indicação da executiva, superando o ganho de 0,3 por cento do Ibovespa.

‘Pessoa certa’

Graça Foster entrou na Petrobras como estagiária em 1978 e, excluindo três anos nos quais trabalhou para o governo, toda sua carreira foi na companhia. Ela teve cargo gerencial em todas as divisões da empresa. Sob a gestão de Graça Foster, o lucro da divisão de gás e energia mais que dobrou nos nove primeiros meses do ano passado, com os esforços de expandir as vendas entre clientes industriais e produtores de fertilizantes.

Lucas Brendler, que ajuda a administrar cerca de R$ 7 bilhões no Banco Geração Futuro de Investimentos, disse que Graça Foster vai ajudar a Petrobras a direcionar o foco para a produção de petróleo.

“Daqui para frente, eles vão focar mais na produção e Foster é a pessoa certa para tocar essa parte do processo”, disse Brendler em entrevista por telefone de Porto Alegre. “Nos últimos cinco anos, a Petrobras só focou em exploração.”

Nova emissões

A estatal planeja instalar quatro plataformas este ano com capacidade para produzir 480.000 barris diários. A companhia não atingiu a meta de produção de 2011 por causa de atrasos com equipamentos e de maiores exigências regulatórias após um vazamento no Golfo do México em 2010.

A perspectiva de novas emissões limita a valorização dos títulos da Petrobras, disse Chris Wilder, que ajuda a administrar US$ 24 bilhões em títulos de mercados emergentes na Stone Harbor.

“Houve rumores do lançamento de uma operação em tranches múltiplas antes do anúncio da mudança de presidente”, disse Wilder em entrevista por telefone de Londres. “A mudança na presidência obviamente adiou a operação, para que o mercado pudesse absorver a informação. Mas eles têm um programa de investimento muito grande, e por isso serão um emissor frequente durante os próximos vários anos. Os títulos não dispararam de forma significativa porque provavelmente haverá mais oferta no curto prazo.”

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