Em meio a uma guerra de preços que ameaça a estabilidade da indústria automotiva, o governo chinês convocou os principais executivos de montadoras, como BYD, Geely e Xiaomi, para uma reunião em Pequim nesta semana.
O encontro, promovido pelo Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação, pela agência de regulação de mercado e pelo órgão de planejamento econômico, teve como objetivo principal cobrar autorregulação do setor.
De acordo com fontes ouvidas pela Bloomberg, as autoridades alertaram as empresas para evitarem vender veículos abaixo do custo e parem com os cortes de preços considerados "irracionais".
A pressão do governo surgiu após a BYD iniciar uma nova rodada de descontos no fim de maio, com reduções de até 34%, medida que gerou críticas de entidades do setor e da mídia estatal.
Além disso, as autoridades abordaram práticas como a comercialização dos chamados carros "zero-quilômetro" — veículos novos que são repassados a revendedores ou plataformas de financiamento sem terem sido entregues ao consumidor final, mas contabilizados como vendas. Essa estratégia é vista como uma forma de maquiar resultados, o que tem atraído crescente atenção por parte do governo.
Outro ponto de preocupação são as dívidas crescentes com fornecedores, causadas pela tentativa das montadoras de repassar os custos da guerra de preços à cadeia produtiva. As empresas têm adiado pagamentos por meses, comprometendo o fluxo de caixa dos fornecedores e, na prática, transformando dívidas comerciais em instrumentos de financiamento.
Um levantamento da GMT Research estima que a dívida líquida real da BYD possa chegar a 323 bilhões de yuans (US$ 45 bilhões), bem acima dos 27,7 bilhões registrados oficialmente no fim de junho de 2024.
A ofensiva regulatória, embora não tenha resultado em novas diretrizes, sinaliza um aumento na vigilância das autoridades sobre o setor. Em declarações recentes, o Ministério do Comércio afirmou que continuará trabalhando com outros órgãos para fortalecer a orientação à indústria, garantir competição justa e promover o desenvolvimento saudável do mercado automotivo.
A Associação Chinesa de Fabricantes de Automóveis também se posicionou, alertando que a atual competição desordenada coloca em risco a segurança da cadeia de suprimentos e pode comprometer a imagem internacional dos veículos "Made in China".