Câmera GoPro: as ações serão ofertadas entre US$ 21 e US$ 24 cada (Divulgação/GoPro)
Da Redação
Publicado em 25 de junho de 2014 às 14h51.
Nova York - Se ela anda como uma fabricante de câmeras e fala como uma fabricante de câmeras, por que a GoPro Inc. está se vendendo como empresa de mídia na sua abertura de capital?
Para começar, por US$ 2 bilhões extras em valor de mercado. A GoPro – que fez seu US$ 1 bilhão em receita vendendo câmeras e acessórios de vestir (“wearables”) – está garantindo uma cotação mais em sintonia com empresas de mídia como a Walt Disney Co. do que com seus colegas de hardware para consumidores.
Com quase três anos em material subido no ano passado por clientes que filmam suas façanhas, a GoPro emergiu como uma das marcas novas mais populares, no nível da produtora de vídeos da cultura punk Vice Media Inc., cuja cotação é estimada em até US$ 3 bilhões.
A GoPro está recorrendo a uma geração mais jovem, impulsionada por selfies, na qual esquiadores podem exibir suas corridas mais íngremes e surfistas podem compartilhar suas maiores ondas.
Embora a empresa com sede em San Mateo, Califórnia, ainda não tenha ganhado dinheiro com os conteúdos, ela diz que a mídia acabará funcionando como fonte adicional de crescimento.
Mesmo que a GoPro não possa aumentar a receita com os vídeos, eles funcionam como anúncios que encorajam mais usuários a comprarem o hardware, disse Porter Bibb da Mediatech Capital Partners LLC.
“Trata-se de uma abordagem muito inteligente, pois não está monetizando os conteúdos per se, mas o público a que eles estão chegando”, disse Bibb, sócio-gerente do banco comercial privado com sede em Nova York, especializado em mídia e tecnologia.
“Agora eles estão no espaço certo em termos de cotação”.
Valor de mercado
A GoPro e os acionistas que estão vendendo oferecerão 17,8 milhões de ações a entre US$ 21 e US$ 24 cada na abertura programada para cotação esta noite, arrecadando até US$ 427 milhões.
No extremo superior dessa faixa, a companhia teria um valor de mercado de cerca de US$ 3 bilhões, com base em 123,1 milhão de ações em circulação após a abertura.
Assim, a empresa teria um valor de três vezes suas vendas em 2013, mais em sintonia com empresas como a Disney e a 21st Century Fox Inc. As fabricantes de câmeras possuem cotações de menos de metade, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Se a empresa fosse cotada mais como uma companhia de produtos eletrônicos para consumo, com base nas vendas, seu valor de mercado se aproximaria de US$ 1 bilhão, mostram os dados.
O surfista convertido em CEO Nicholas Woodman, 39, concebeu a GoPro há uma década, quando quis se filmar montando as ondas.
A companhia vendeu 3,8 milhões de câmeras de alta definição no ano passado, quase metade do mercado americano de câmeras digitais, segundo a empresa de pesquisa de mercado NPD Group Inc.
A companhia só começou a transformar-se em uma empresa de mídia neste ano, assinando acordos de conteúdos com a Microsoft Corp. para ter um canal no Xbox Live, com o YouTube da Google Inc. e com a linha aérea Virgin America Inc.
A GoPro diz que não espera que a receita obtida com conteúdos se materialize neste ano.
Mudança onerosa
A transformação para fornecedora de conteúdos será cara: gastos maiores em pesquisa e desenvolvimento já corroeram as margens de lucro. Com a exceção da Apple Inc., poucas companhias fizeram esse tipo de troca, disse Charlie Anderson, analista da Dougherty Co. em Minneapolis.
Além do glamour, a GoPro foi rentável nos quatro anos com dados financeiros divulgados no seu prospecto. Com fundamentos tão fortes, não é tão arriscado assim para a GoPro se expandir para a mídia, segundo James Gellert, CEO da Rapid Ratings International Inc.
“Eles querem investir esses dólares na diversificação do seu fluxo de receita”, disse Gellert, cuja empresa com sede em Nova York emprega modelos quantitativos para dar nota a valores.
“O fato de o produto criado pela GoPro já ser utilizado com fins midiáticos torna muito menor seu salto para criadora de mídia”.