Google divulga resultados acima do esperado (Jason Alden/Bloomberg/Getty Images)
Repórter
Publicado em 4 de fevereiro de 2025 às 18h22.
Última atualização em 4 de fevereiro de 2025 às 18h55.
A Alphabet (GOOGL), controladora do Google, divulgou resultados fortes nesta terça-feira, 4, impulsionados pela inovação em inteligência artificial (IA) e pelo fortalecimento dos negócios principais da empresa.
O lucro operacional subiu 31%, impulsionando a margem operacional para 32%, um aumento de 5 pontos percentuais. Já o lucro líquido avançou 28%, enquanto o lucro por ação (EPS) teve alta de 31%, atingindo US$ 2,15.
As ações caíam 7,55% no pós-mercado, logo após a divulgação dos resultados, para US$ 191,13.
A receita consolidada da empresa no último trimestre atingiu US$ 96,46 bilhões, um aumento de 12% em relação ao mesmo período do ano anterior. O mercado esperava uma receita de US$ 96,56 bilhões.
Os resultados, no entanto, não foram inteiramente positivos para os analistas de Wall Street. O Google reportou vendas de US$ 81,6 bilhões no último trimestre, excluindo os pagamentos a parceiros. O resultado ficou abaixo das projeções de analistas, que estimavam US$ 82,8 bilhões, segundo dados compilados pela Bloomberg. Após a divulgação, as ações da empresa caiam mais de 6%.
O CEO Sundar Pichai destacou, em comunicado, o impacto da IA na performance da companhia, mencionando avanços como o AI Overviews e o Circle to Search, que melhoraram a experiência do usuário no Google Search.
O segmento de Google Services, que inclui receitas com anúncios no Google Search e YouTube, registrou um aumento de 10% no faturamento, totalizando US$ 84,1 bilhões.
Já o Google Cloud apresentou uma expansão de 30%, alcançando US$ 12 bilhões, com destaque para o crescimento em produtos como Google Cloud Platform (GCP), infraestrutura de IA e soluções de IA generativa.
Com esses avanços, o Google Cloud e o YouTube encerraram o ano de 2024 com um run rate anual de receita de US$ 110 bilhões, consolidando-se como pilares estratégicos para o futuro da Alphabet.
Para sustentar o crescimento, a empresa anunciou que pretende investir cerca de US$ 75 bilhões em capital em 2025, com foco em inovação e expansão da infraestrutura de computação para IA.
Além disso, a Alphabet iniciou um programa de dividendos, distribuindo um total de US$ 2,4 bilhões aos acionistas no último trimestre, evidenciando sua estratégia de retorno financeiro aos investidores.
O Google encerrou 2024 com uma série de mudanças estratégicas e sinalizações de crescimento, impulsionado pela expansão de sua divisão de inteligência artificial (IA) e pelo avanço da Waymo, sua subsidiária de carros autônomos.
No entanto, a companhia também enfrenta cortes de custos, desafios regulatórios e uma crise interna de confiança entre seus funcionários.
No quarto trimestre, a Alphabet demonstrou confiança na comercialização de sua tecnologia de veículos autônomos, ampliando o serviço de robotáxis para Los Angeles, São Francisco e Phoenix, totalizando mais de 500 milhas quadradas de vias públicas cobertas.
Em dezembro, a empresa anunciou planos de lançar a Waymo comercialmente em Austin, Texas, e na plataforma Uber em Austin e Atlanta, já em 2025. A empresa também iniciará testes no Japão, marcando sua primeira expansão internacional, com operações previstas em Tóquio.
Embora esteja investindo pesadamente em IA e mobilidade autônoma, o Google mantém uma política agressiva de cortes de custos.
Durante o terceiro trimestre, a nova diretora financeira da Alphabet, Anat Ashkenazi, afirmou que pretendia “ir um pouco mais longe” na redução de despesas, equilibrando os gastos crescentes com infraestrutura de inteligência artificial.
Essa postura levou a incertezas internas, e funcionários começaram a pressionar os executivos por detalhes sobre as demissões previstas para 2025. Em janeiro, um grupo de colaboradores chegou a circulá um abaixo-assinado interno chamado "segurança no emprego", segundo a CNBC.
Antecipando cortes, a empresa começou a oferecer pacotes de demissão voluntária para funcionários da unidade de Plataformas e Dispositivos, que conta com mais de 25 mil empregados em tempo integral e abrange produtos como Android, Chrome, ChromeOS, Google Photos, Google One, Pixel, Fitbit e Nest. A medida reforça um padrão recente do Google: enxugar sua estrutura para financiar a corrida da inteligência artificial.
A corrida pela inteligência artificial se intensificou após o lançamento do ChatGPT, da OpenAI, no final de 2022. Desde então, Microsoft, Meta e startups emergentes, como Perplexity, lançaram produtos inovadores que ameaçam a hegemonia do Google na busca e em serviços baseados em IA.
A resposta da empresa veio com o rebranding de sua família de modelos para "Gemini" e o lançamento de diversas ferramentas baseadas em IA. No entanto, algumas dessas iniciativas não saíram como esperado.
Em fevereiro de 2024, o Google lançou o Imagen 2, ferramenta de geração de imagens por IA. Quase imediatamente, usuários detectaram erros históricos, como representações de soldados alemães de 1943 com etnias diversas, desconsiderando o contexto da Segunda Guerra Mundial. O produto foi retirado do ar e relançado apenas seis meses depois como Imagen 3.
Outro tropeço aconteceu em maio, com o AI Overview, uma funcionalidade que sintetizava respostas diretamente na busca do Google. Um dos exemplos mais marcantes foi um erro que viralizou na internet: ao ser perguntado “quantas pedras uma pessoa deveria comer por dia?”, o sistema citou supostos especialistas recomendando “ao menos uma pequena pedra diária”.
A falha levantou preocupações sobre a precisão dos produtos de IA do Google e colocou Sundar Pichai sob escrutínio. Apesar desses problemas, a empresa conseguiu consolidar sua posição com o lançamento do Gemini Flash, um modelo leve e ágil que se tornou popular entre desenvolvedores, além da ferramenta de geração de vídeos Veo 2 e o aprimoramento da IA em seu serviço de anotações, NotebookLM.
Além dos desafios internos, a Alphabet segue no centro de disputas regulatórias. O Departamento de Justiça dos EUA (DOJ) solicitou em novembro que o Google fosse obrigado a se desfazer do navegador Chrome, após uma decisão de agosto que classificou a empresa como monopolista no mercado de buscas.
A justificativa do governo é que a remoção do Chrome poderia criar um campo de competição mais justo para rivais de pesquisa online. A Alphabet ainda pretende recorrer da decisão, o que pode prolongar a batalha legal por anos.
Além disso, o Google ainda enfrenta uma ação antitruste separada relacionada à sua dominância na tecnologia de publicidade online. Em outubro, a empresa sofreu um revés quando um tribunal determinou que a Alphabet deveria permitir alternativas à Google Play Store nos dispositivos Android.
As dificuldades do Google em 2024 não foram apenas externas. Internamente, a empresa viu um aumento na insatisfação dos funcionários, que expressaram frustração com cortes de custos, aumento na carga de trabalho e decisões estratégicas questionáveis.
A saída de Prabhakar Raghavan, chefe da divisão de buscas e anúncios, foi uma das principais mudanças internas. Seu substituto, Nick Fox, terá o desafio de recuperar a confiança da equipe e acelerar a inovação no setor.
A crescente influência de Demis Hassabis, líder da DeepMind, também foi um dos pontos de mudança em 2024. Com a transição da equipe do Gemini para a divisão DeepMind, a Alphabet sinaliza que vê essa unidade como o motor central de sua estratégia de IA.
Ainda assim, Sundar Pichai segue sendo alvo de críticas internas. Muitos funcionários questionam sua liderança e o veem como um executivo conservador, que evita tomar riscos significativos.
Um engenheiro da Google chegou a publicar no LinkedIn que a empresa "não tem um líder visionário", um post que recebeu mais de 8.500 reações.
Os protestos contra o Projeto Nimbus, contrato de US$ 1,2 bilhão do Google com o governo israelense, resultaram na demissão de mais de 50 funcionários, aprofundando a crise interna.
Executivos justificaram as demissões alegando que os protestos haviam gerado um ambiente de trabalho inseguro, mas documentos internos revelaram que a empresa já previa um impacto negativo para sua imagem antes de fechar o contrato.
Nesta terça, a China retaliou as tarifas impostas ao país por Donald Trump. Entre um dos principais pontos apresentados por Pequim, está uma investigação antitruste contra o Google.
A China alega uma possível violação da Lei Antimonopólio da República Popular da China e, embora os detalhes ainda não tenham sido totalmente divulgados, especula-se que o foco será a dominância do sistema operacional Android e seu impacto sobre fabricantes locais de smartphones, como Oppo e Xiaomi.
Diante da concorrência crescente, regulações mais rígidas e expectativas elevadas sobre seus produtos de IA, a Alphabet entrou em 2025 com uma mensagem clara de Pichai: “É muito importante internalizarmos a urgência deste momento. Precisamos nos mover mais rápido como empresa. Os riscos são altos.”
Para o Google em 2025, segue o desafio de equilibrar inovação, corte de custos e estabilidade interna, sem perder a confiança do mercado e de seus próprios funcionários.