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Goldman rebaixa Usiminas e acende alerta sobre pressão prolongada nas margens

Ações da siderúrgica caem 4%, entre os maiores recuos do Ibovespa

Fábrica de aço na China: Importações do país asiático já representam um terço da demanda doméstica e pressionam produtores nacionais (AFP)

Fábrica de aço na China: Importações do país asiático já representam um terço da demanda doméstica e pressionam produtores nacionais (AFP)

Natalia Viri
Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 16 de julho de 2025 às 11h22.

As ações da Usiminas (USIM5) caem cerca de 5% na manhã desta quarta-feira, 16, entre as maiores baixas do Ibovespa, após o Goldman Sachs rebaixar sua recomendação para os papéis da companhia de 'compra' para 'neutro'. O preço-alvo foi cortado de R$ 8,40 para R$ 5,20, o que implica um potencial de valorização de 23% a partir dos níveis atuais.

O rebaixamento reflete uma combinação de fatores estruturais e conjunturais que, na visão do banco, devem continuar pressionando as margens da siderúrgica nos próximos anos, mesmo após a conclusão de um robusto ciclo de investimentos. “Apesar dos ganhos recentes nas ações e da melhora pontual de rentabilidade, a Usiminas ainda enfrenta desafios significativos”, escreveram os analistas Marcio Farid, Emerson Vieira e Henrique Marques.

Há pouco menos de um mês, o Itaú BBA também tinha rebaixado a recomendação para os papéis da companhia. O Safra, por sua vez, é mais pessimista e carrega uma recomendação de venda.

O relatório aponta vários motivos principais para a mudança na recomendação, com destaque para a frustração com os resultados do alto-forno 3, reformado em 2019. O investimento, equivalente a 22% do valor de mercado da empresa à época, não entregou os ganhos esperados em eficiência. Segundo o Goldman, a Usiminas segue operando com desvantagem de custo frente aos pares: a margem de EBITDA por tonelada do aço está 40% abaixo da média da concorrência para o período entre 2025 e 2027.

Outro ponto de pressão é a baixa integração em carvão coqueificável, matéria-prima essencial na siderurgia. Atualmente, 70% do insumo é comprado de terceiros, o que reduz eficiência e eleva os custos. Para reverter esse quadro, seria necessário reativar a planta de coque da companhia, o que demandaria entre R$ 1,5 bilhão e R$ 2 bilhões em investimentos adicionais — um valor equivalente a cerca de 40% do valor de mercado da empresa.

A conjuntura também joga contra. O banco vê a demanda doméstica por aço próxima do pico, com sinais de desaceleração à frente. As importações, principalmente da China, seguem em níveis elevados, representando mais de um terço do consumo brasileiro de aço plano. “O atual sistema de cotas é ineficaz para conter o avanço do aço importado, que segue pressionando os preços locais”, diz o relatório.

Com isso, o preço do aço no Brasil (HRC) caiu 15% desde o primeiro trimestre, para cerca de R$ 3.800 por tonelada, e deve seguir pressionado na ausência de medidas de proteção comercial mais efetivas.

Embora os papéis da Usiminas estejam negociando com desconto frente à média histórica — a 4,0x EV/EBITDA contra a média de 9,3x em 10 anos — o Goldman vê pouco espaço para uma reprecificação no curto prazo. As projeções de geração de caixa livre são baixas: -3% em 2026 e +4% em 2027, segundo o banco.

O relatório também menciona como risco adicional o potencial "overhang" da venda das ações da Usiminas detidas pela CSN. O Cade deu prazo até agosto para que a empresa apresente um plano de desinvestimento. A fatia da CSN equivale a 12 dias de volume médio negociado — o que, segundo o Goldman, pode aumentar a volatilidade dos papéis.

No setor de mineração e siderurgia, o banco mantém preferência por Gerdau dentro do setor, destacando sua exposição ao mercado americano, que ajuda a suavizar os efeitos da pressão de margens no Brasil.

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