Gol: RJ nos Estados Unidos se tornou oficial nesta quinta-feira (Gol/Divulgação)
Redação Exame
Publicado em 25 de janeiro de 2024 às 17h11.
Última atualização em 25 de janeiro de 2024 às 20h32.
A Gol anunciou via fato relevante que está entrando com um pedido de recuperação (Chapter 11, segundo a legislação norte-americana) no Tribunal de Falências dos Estados Unidos. Resumidamente, por meio desse instrumento, companhias conseguem levantar capital, reestruturar finanças e fortalecer operações comerciais, enquanto mantém a operação rodando. Os voos de passageiros, os voos de carga, o programa de fidelidade Smiles e outras operações continuam normalmente.
É o capítulo mais recente de uma novela que começou há cerca de seis meses. A companhia, grosso modo, enfrenta sérios problemas de fluxo de caixa -- uma consequência do período da pandemia -- e está, desde então, tentando uma reestruturação de dívida com arrendadores de aviões e credores financeiros.
Com base nos dados disponíveis referentes ao ano passado, a empresa tinha R$ 20 bilhões em dívidas, cujos principais grupos de credores são financeiros (detentores de títulos de dívida) e os arrendadores de aeronaves. A Gol buscava reestruturar R$ 10,2 bilhões em dívidas financeiras e R$ 9,8 bilhões com os arrendadores das aeronaves.
A busca por uma renegociação vinha principalmente pela escassez de caixa da companhia para honrar essas obrigações. No terceiro trimestre de 2023, a empresa tinha uma relação entre dívida líquida/Ebitda de 7,9 vezes, bastante alta em relação aos seus concorrentes, ainda que estivesse longe das máximas do período de pandemia (de 10,1 vezes).
Antes de entrar formalmente em RJ, a Gol havia contratado em dezembro a Seabury Capital, uma das principais consultorias do setor de aviação, para ajudá-la a melhorar sua estrutura de capital, de olho em reestruturar dívidas e ajustar a frota de curto e médio prazo. No mesmo mês, a companhia também trouxe para dentro de casa a Skyworks, outra consultoria de referência no setor, para ajudar nas negociações com os credores.
Os credores também se cercaram de apoio. No último mês, os bondholders (detentores de títulos de dívida emitidos nos Estados Unidos) contrataram o banco Houlihan Lokey como assessor financeiro nas tratativas com a Abra.
As conversas não foram para frente. E, além disso, nesta semana, a companhia perdeu o crédito junto a distribuidoras de combustível em alguns dos aeroportos mais importantes do país. Basicamente, a companhia tem de pagar à vista para abastecer as aeronaves.
Em um ambiente de forte demanda por aviões no mundo, o poder de barganha da Gol ficou reduzido. Como o INSIGHT apontou na última semana, a perspectiva de ajuizamento do Chapter 11 já era considerada pelos arrendadores de aeronaves (ou lessores, como são chamados no jargão do setor).
Até semana passada, esse grupo tinha ainda pouca visibilidade a respeito de como estava andando todo o processo de renegociação de dívidas. O que estava acontecendo, até então, era uma discussão com cada um dos credores, individualmente.
Ao longo da última semana, a percepção de que uma RJ estaria próxima ganhou força com a entrada do escritório Milbank, mesma assessoria jurídica que representou a Avianca colombiana em sua entrada no Chapter 11, nas conversas. No Brasil, a Gol está sendo assessorada juridicamente pelos escritórios Lefosse e TWK.
A companhia começa o processo com um compromisso de financiamento de US$ 950 milhões, na modalidade debtor in posession (DIP), dinheiro que vem dos bondholders da Abra (controladora da Gol e da Avianca). "O financiamento está sujeito à aprovação judicial e, juntamente com o caixa gerado pelas operações em curso, fornecerá liquidez substancial para apoiar as operações, que seguem normalmente, durante o processo de reestruturação financeira", diz o comunicado.
A Gol afirma que vai utilizar esse processo para reestruturar suas obrigações financeiras de curto prazo e fortalecer sua estrutura de capital para ter sustentabilidade no longo prazo. A companhia espera sair desse processo com um investimento significativo de capital.
"Fizemos progressos notáveis até agora e acreditamos que esse processo permitirá endereçar os desafios gerados pela pandemia, ao mesmo tempo em que mantemos o elevado padrão dos serviços que oferecemos aos clientes. Esse processo permitirá à Gol expandir ainda mais sua posição como uma das principais companhias aéreas da América Latina", diz Celso Ferrer, CEO da Gol, em fato relevante.
No terceiro trimestre, a Gol entregou uma receita operacional líquida de R$ 4,7 bilhões, com crescimento de 16,4% na comparação com o mesmo período do ano anterior. Em dezembro de 2023, a taxa de ocupação atingiu 82,7%, aumento de 4,8% em relação ao mesmo período do ano anterior.