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Gestores projetam fim da sangria dos fundos em 2024, após resgates de mais de R$ 100 bi neste ano

indústria de fundos deve fechar 2023 com captação negativa pelo segundo ano consecutivo; com juros em queda no Brasil e no exterior, a expectativa é de que o cenário se reverta em 2024

Daniel Castro, CEO da Inter Asset (Inter Asset/Divulgação)

Daniel Castro, CEO da Inter Asset (Inter Asset/Divulgação)

Publicado em 20 de dezembro de 2023 às 16h42.

Dias melhores virão em 2024. Essa, ao menos, é a expectativa do mercado para a indústria de fundos. Após acumularem resgates superiores a R$ 100 bilhões neste ano (excluindo estruturados), a perspectiva de gestores é que para o próximo o sinal se inverta para positivo. Parte significativa desse otimismo deriva das expectativas de queda das taxas de juros internas e internacionais.

"Foi mais um ano difícil para a indústria. Mas o momento é de inflexão da política monetária, que, historicamente, há maior fluxo para fundos de maior volatilidade, como de ações e os de renda fixa ativos", afirmou Daniel Castro, CEO da Inter Asset. "Será muito mais um movimento de normalização do que uma aposta em classes de ativos específicos."

Este é o segundo ano consecutivo em que a captação dos fundos brasileiros fica negativa. Em 2022, os resgates líquidos foram de R$ 129 bilhões. A classe que, nesse período, mais sofreu resgates foi a de multimercados. Em dois anos o nível dos resgates bateu R$ 200 bilhões, sendo cerca de R$ 110 bilhões somente neste ano, de acordo com os dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

O elevado nível de resgates, especialmente neste ano, tem relação com o baixo desempenho entregue pelos gestores multimercados. Entre janeiro e novembro deste ano a rentabilidade mediana dos fundos multimercados foi de 7,05%. Isso sem contar as taxas de administração. O percentual é significativamente abaixo do CDI, que foi de 12% no mesmo período. Incertezas elevadas quanto ao ciclo monetário dos Estados Unidos e inseguranças sobre a política fiscal tornaram o cenário mais desafiador, minando a rentabilidade desses fundos aptos a investir em qualquer mercado.

"Como os multimercados tiveram um ano ruim, muitos investidores optaram por sair para diminuir o risco da carteira e buscar conforto em títulos de renda fixa, aproveitando que o juro ainda está alto. O investidor não opera como deveria, sempre olhando o passado para tomar decisões futuras", afirmou Renato Abissamra, CEO da Spectra.

Mas agora, com a taxa de juros caindo, Abissamra espera que os multimercados se tornem uma das principais alternativas. "O ano que vem deve ser melhor em termos de captação, principalmente pelo incentivo da queda de juros. Mas o cenário também está melhor, com menos incertezas. As questões [relacionadas a juros e desaceleração] da Europa e Estados Unidos já estão dadas. O que existe é a realidade, que não é a melhor, mas o mercado tende a se posicionar em fundos de maior risco, dado o cenário de queda de juros, principalmente no Brasil", disse o CEO da Spectra.

Os fundos de ações, que também sofreram grandes resgates em meio às altas de juros, é uma outra classe para a qual há expectativa de recuperação. No ano, sua captação está negativa em R$ 25 bilhões. Mas já há sinais de recuperação. Desde novembro, quando a bolsa brasileira engatou o movimento de alta que levou o Ibovespa de volta para os níveis recordes, investidores colocaram mais de R$ 11 bilhões nesses fundos. A performance recente e expectativa de novos recordes em 2024 tem pesado nessa equação.

"Sempre que a bolsa está em alta há maior atenção sobre os fundos de ações, beneficiados pelo movimento de toda a classe de ativos", diz Daniel Castro. Castro ainda afirma estar otimista com a entrada de investidores estrangeiros nos fundos de ações. "O Brasil tem despontado como uma das principais vias de investimento em emergentes, além da bolsa ainda está barata."

Até mesmo os fundos de renda fixa devem se beneficiar no ano que vem, segundo os gestores. Após terem sofrido fortes resgates no início do ano em meio às turbulências do mercado de crédito privado com grandes empresas entrando em recuperação judicial, esses fundos vem apresentando alguma melhora. A captação desses fundos, que no ano passado foi negativa em R$ 44 bilhões, neste, está positiva em R$ 3 bilhões, depois de ter captado R$ 14 bilhões somente em dezembro.

A perspectiva é que, com os juros caindo, o investidor procure por fundos ativos em busca de retornos mais altos que os obtidos com a compra direta de títulos de renda fixa. "Além disso, os fundos de crédito privado devem se beneficiar da queda do risco de crédito, com a melhora do cenário para as empresas e com a queda de juros", afirmou Marcos Iorio, sócio e gestor dos fundos de crédito privado da Integral Investimentos.

Renato Abissamra, CEO da Spectra (Spectra/Divulgação)

Estruturados: uma ilha no mercado

Os fundos de investimento de renda fixa são os únicos, junto com os de previdência, a acumular captação líquida positiva em 2023. Fora eles, somente os estruturados tiveram captação líquida no ano. Os FIDCs e FIP acumulam captações de R$ 32 bilhões e R$ 46 bilhões, respectivamente.

As expectativas são de que ambas as classes mantenha a captação positiva para 2024. "A nova resolução 175 da CVM irá permitir que mais pessoas tenham acesso aos FIDCs e isso deve permitir um maior volume de captação líquida. São fundos que representam uma pequena fatia da indústria e têm muito espaço para crescer", diz Iorio. Os FIDCs investem em recebíveis, como duplicatas, permitindo acesso a uma diversificação de créditos. Essas operações muitas vezes incluem alguma garantia, que pode reduzir o risco da operação. 

Já os FIPs são fundos de participação, que permitem investimentos em diferentes mercados, inclusive de baixa liquidez. São por meio dos FIPs, por exemplo, que são estruturados os fundos de private equity, destinados a investimentos em empresas de capital fechado. A Spectra, um dos principais players desse mercado, está otimista para o nível de captação dessa indústria no ano que vem.

"Há uma expectativa positiva para a captação dos estruturados em 2024, com fundos de pensão já se posicionando para aumentar as alocações em ativos alternativos em 2024. Investidores estrangeiros, há muito tempo fora de ativos alternativos no Brasil, também devem voltar a olhar para o país, muito devido ao cenário mais desafiador nos Estados Unidos, Europa e Ásia", afirma Abissamra.

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