Investidores estrangeiros ingressaram com R$ 9,6 bilhões em ações na B3 no acumulado do mês até o último dia 13, excluindo entradas via ofertas de ações (Agency/Getty Images)
Bloomberg
Publicado em 18 de outubro de 2021 às 17h22.
Última atualização em 18 de outubro de 2021 às 17h30.
Alguns dos maiores gestores de fundos multimercado independentes do país estão aproveitando o pior sell-off em mais de um ano para aumentar sua exposição às ações brasileiras.
Os valuations estão chegando a níveis mais compatíveis com um cenário negativo de Brasil, escreveu a Bahia Asset Management, com sede no Rio de Janeiro, em carta mensal a clientes. A Verde Asset Management disse que está aumentando “seletivamente e com disciplina” sua aposta em bolsa, uma vez que o mercado parece precificar um cenário “bastante inóspito” e uma porção de companhias negocia a valores vistos como interessantes.
O Ibovespa negocia a 8,3 vezes os lucros estimados para os próximos 12 meses, cerca de 30% abaixo da média histórica de dez anos, de 11,8 vezes, de acordo com dados da Bloomberg. O índice acumula queda de 3,7% desde o início do ano, um desempenho inferior ao do Mexbol, do México, e do Colcap, da Colômbia, em meio a preocupações com o quadro fiscal, expectativa de crescimento menor e juros mais altos.
Recentemente, estrategistas do J.P. Morgan disseram que o Brasil era a única recomendação overweight (com exposição acima da média) do banco na América Latina, em razão dos múltiplos “muito baratos” e um cenário global pró-risco. Um dos fundos da XP Asset reduziu posições vendidas em ações locais, enquanto a Grimper Capital também aumentou a exposição ao país, favorecendo ações cíclicas, como a siderúrgica Gerdau e a produtora de petróleo PetroRio.
A visão de que a maior parte das más notícias pode já estar no preço ajudou o Ibovespa a interromper uma sequência de duas quedas semanais seguidas na semana passada, enquanto o fluxo estrangeiro também melhorou. Investidores estrangeiros ingressaram com 9,6 bilhões de reais em ações na B3 no acumulado do mês até o último dia 13, excluindo entradas via ofertas de ações.
Ainda assim, nem todos os gestores de ativos estão ficando mais otimistas. A Ibiuna Investimentos reconheceu que existem “prêmios de risco relevantes” nos ativos locais, mas disse que o potencial retorno ajustado à volatilidade não parece uma boa decisão de investimento neste momento.
Veja um resumo do que alguns dos principais fundos multimercado escreveram em suas cartas de outubro:
Fundos seguem alocados em Petrobras e Vale, mas possuem posição direcional neutra na bolsa brasileira, com a visão de que a taxa de juro contracionista pesará no crescimento da atividade e no desempenho da bolsa. Antecipação por parte do BC da oferta de dólares para suprir a demanda de fim de ano das instituições financeiras e política monetária mais apertada “trazem a real possibilidade de termos uma apreciação da nossa moeda”.
Fundos multimercado administrados pela Bahia Asset continuaram a reduzir a exposição às ações brasileiras no mês passado. Fundo acompanha trajetória da inflação, debate sobre precatórios, crise hídrica, discussões sobre preços de combustíveis e cenário eleitoral.
Ventos externos menos favoráveis só adicionam a preocupações com o cenário local, justificando postura cautelosa em relação ao Brasil. Apesar dos prêmios de risco “relevantes”, o retorno potencial ajustado à volatilidade dos ativos brasileiros não parece uma boa aposta estratégica, disse o fundo.
Brasil provavelmente sofrerá impactos da piora do crescimento chinês e de uma relacionada piora dos termos de troca. Indefinição sobre precatórios e novo programa social do governo, além de quadro eleitoral, exarcebam os riscos fiscais. Fundo reduziu posições compradas e de valor relativo em ações brasileiras e ações globais.
Inflação elevada e com viés de alta, em meio a problemas da cadeia de abastecimento global, tornam atrativa a compra de NTN-Bs curtas e o fundo tem procurado aumentar a exposição a essa estratégia. O Banco Central deve subir a Selic até patamar de 9% em janeiro dado que a inflação segue surpreendendo desfavoravelmente. O fundo mantém posição duplamente vendida em bolsa e dólar.
Bancos centrais globais estão prestes a reverter suas políticas extraordinárias, adotando políticas de enxugamento de liquidez. Inflação pode se mostrar mais persistente e os riscos aumentam por todos os mercados. Fundo segue comprado em inflação implícita e posicionados em desinclinação de curva na parte curta no Brasil, dada a postura mais incisiva do BC.
O mercado acionário brasileiro parece precificar um cenário “bastante inóspito”, com uma série de boas empresas negociando a valores bastante interessantes. Fundo Verde tem aumentado posição em ações Brasil “seletivamente e com disciplina”. As curvas de juros e o Banco Central estão muito focados na inflação corrente, ignorando uma provável desaceleração econômica em curso.