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Gestora Adam Capital prevê valorização das ações da Petrobras e da Vale

Com R$ 20 bilhões sob gestão, casa também está comprada em bancos americanos e empresas ligadas à computação na nuvem, como a Microsoft

Márcio Appel, Adam Capital: "talvez eu pareça pessimista, mas são as pessoas que estão otimistas demais" (Eduardo Zappia/Exame)

Márcio Appel, Adam Capital: "talvez eu pareça pessimista, mas são as pessoas que estão otimistas demais" (Eduardo Zappia/Exame)

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Natália Flach

Publicado em 3 de abril de 2020 às 14h32.

Última atualização em 3 de abril de 2020 às 14h40.

Demorou, mas enfim a estratégia deu certo. Desde o ano passado, os fundos da gestora Adam Capital estavam posicionados para ganhar com a derrocada da bolsa americana - o que só veio a acontecer em fevereiro com o impasse dos maiores produtores de petróleo sobre o preço do barril da commodity e com a disseminação do novo coronavírus ao redor do mundo. "O mesmo portfólio que ganhou dinheiro em fevereiro ganhou em março", disse Márcio Appel, um dos fundadores da casa que tem cerca de 20 bilhões de reais sob gestão, durante uma conversa transmitida pela internet com o presidente do BTG Pactual, Roberto Sallouti. O BTG é controlador da EXAME.

Os ganhos nesses dois meses de sangria para quase todos os fundos do mercado vieram principalmente da cesta de moedas e das posições de long short (operação que pressupõe ficar comprado em algum ativo e vendido em outro ao mesmo tempo). "É um portfólio equilibrado que nos rendeu um bom dinheiro. Ninguém tem certeza de nada e ficar posicionado diretamente em apenas um ativo [como ações] é quase uma questão de fé", afirmou. "O real deve se tornar uma das melhores moedas para se investir, por causa da característica do país de ser um grande exportador de commodities."

As incertezas a que ele se refere são provenientes da crise que teve como gatilho a pandemia de coronavírus que levou o mundo a um estado de calamidade pública. "Essa crise pode até ter algumas características parecidas com as demais que já enfrentamos, mas também tem suas diferenças. Entre elas, está o fato de que a causa não é financeira", disse. "O mundo está ficando mais pobre, e dessa vez não vai adiantar somente os bancos centrais mudarem os números de um lado para o outro."

Para Appel, passada a fase mais aguda da crise, boa parte das empresas vai estar moribunda, alavancada e inadimplente, porque se trata de um choque de oferta e - pela primeira vez - de demanda. "A fase da crise financeira já passou com a injeção de liquidez nos mercados, o que diminuiu a volatilidade das últimas semanas. A dúvida agora é sobre a extensão da crise econômica e se teremos inflação ou não quando as pessoas puderem sair de casa."

Nesse cenário tomado de incertezas, o especialista consegue destacar uma certeza: as empresas vão precisar - mais do que nunca - investir em computação em nuvem. "Não sabemos como será o comportamento das pessoas daqui para frente, se vão preferir trabalhar de casa ou se sentirão saudade do contato, de ir ao escritório e de sair ao ar livre. Mas é certo que o investimento em cloud [nuvem] é importante, e as empresas estão se beneficiando disso." Não é para menos que Appel vê possiblidade de valorização das ações da Microsoft que, no ano, registram queda de 2,15% ante um recuo de 22% do S&P 500 no mesmo período.

"Muitas pessoas olham para o setor financeiro no Brasil por estar muito descontado, mas nos Estados Unidos está muito mais. Por isso, estamos comprados em [bancos] Bank of America (BofA) e JP Morgan por estarem muito baratos. Apesar disso, a nossa posição líquida para bolsa americana é negativa."

No Brasil, as queridinhas da Adam são velhas conhecidas do investidor: a mineradora Vale e a petroleira Petrobras. "A bolsa estava muito cara a ponto de motoristas de Uber me perguntar quais ações ele deveriam comprar. Mas, como ninguém fala na mesa do bar que está posicionado em Vale e Petrobras, por não ter apelo, continuam valendo a pena."

Mesmo com a incerteza sobre o preço do barril de petróleo? A resposta é sim. "O atual patamar deve tirar os produtores de shale gas [tipo de óleo extraído principalmente nos Estados Unidos] do mercado por enquanto. Em 12 meses, o preço do petróleo se normaliza, podendo voltar a 30 ou a 40 dólares por barril. Então, nesse momento, a melhor forma de estar posicionado é ter ações da Petrobras."

Mas a recuperação esperada para as ações mais negociadas da bolsa não necessariamente vai levar o Ibovespa de voltar ao patamar de 120.000 pontos. "O fato de termos batido 120.000 pontos não faz com que haja uma obrigação de voltar para 120.000. Sinto muito. Até porque 70.000 pontos é mais caro hoje do que antes", afirmou. "Talvez eu pareça pessimista, mas são as pessoas que estão otimistas demais."

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