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Gavekal: inflação machuca, mas é a pobreza o maior problema dos EUA

Charles Gave, fundador da casa de análise, continua reticente sobre investimento na renda fixa norte-americana

Bandeira dos EUA: país enfrenta tendência de alta da inflação, que tem prejudicado especialmente os mais pobres (Alexander Spatari/Getty Images)

Bandeira dos EUA: país enfrenta tendência de alta da inflação, que tem prejudicado especialmente os mais pobres (Alexander Spatari/Getty Images)

Beatriz Quesada
Beatriz Quesada

Repórter de Invest

Publicado em 17 de maio de 2024 às 12h59.

Última atualização em 17 de maio de 2024 às 13h01.

Os brasileiros estão acostumados a encarar a alta da inflação como um problema crônico do País, que, de tempos em tempos, corrói a renda da população – em especial de baixa renda. Nos Estados Unidos, no entanto, a questão tem ganhado mais notoriedade agora, quando o país enfrenta seu maior desafio inflacionário desde a década de 1970. 

A questão é tão “nova” que, para muitos analistas, passa despercebida. Para Charles Gave, fundador da casa de análise Gavekal Research, é preciso olhar além do crescimento da economia para entender os reais efeitos da inflação nos EUA.

“Muitos comentaristas políticos ficam perplexos com o sombrio estado da opinião pública dos EUA, quando o crescimento econômico tem sido tão robusto. Todos entendem que a resposta está enraizada na inflação, mas uma opinião geralmente expressa é que os eleitores não sabem o que é bom para eles. Isso é paternalismo, pois o principal problema enfrentado por muitos americanos continua a ser o flagelo da pobreza”, escreveu Gave em novo relatório da casa de análise.

Cálculos da Gavekal mostram que a parcela mais pobre da população norte-americana não teve um aumento no padrão de vida desde 1970. Para isso, Gave comparou o IPC, principal índice de inflação dos EUA, com o índice de custo de vida do Walmart, uma medida adaptada do preço de referência mais relevante para a vida dos menos favorecidos dos EUA. “Em cada caso de taxas de juros reais negativas, o índice Walmart subiu mais do que o IPC, especialmente no período desde 2009”, apontou.

É uma situação que ficou fora do radar dos Estados Unidos por décadas. “Há algum tempo que isso não acontecia nos EUA, e essa realidade poderia criar grandes problemas políticos se os preços das três principais categorias de consumo [alimentação, aluguel e energia] reacelerassem”, disse.

A conclusão, segundo o analista, é que os déficits orçamentários dos EUA só poderão aumentar a partir daqui. “Essas são perspectivas alarmantes para aqueles que detêm títulos do governo dos EUA e para a estabilidade da sociedade norte-americana.”

Independentemente do que a leitura do índice de inflação mostre hoje, Gave mantém a recomendação de longa data de investir o mínimo possível em instrumentos de rendimento fixo dos Estados Unidos.

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