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Gavekal: a inflação ajuda ou prejudica o câmbio?

Nos Estados Unidos, inflação alta tem ajudado desempenho do dólar, na contramão do que acontece no Brasil

Jerome Powell, presidente do Fed: liderança de Powell tem deixado investidores seguros sobre conduta do BC americano (MANDEL NGAN/AFP via/Getty Images)

Jerome Powell, presidente do Fed: liderança de Powell tem deixado investidores seguros sobre conduta do BC americano (MANDEL NGAN/AFP via/Getty Images)

Beatriz Quesada
Beatriz Quesada

Repórter de Invest

Publicado em 3 de maio de 2024 às 16h22.

Última atualização em 3 de maio de 2024 às 16h25.

A inflação sempre foi inimiga do câmbio – ao menos no Brasil. Por aqui, quando os indicadores de preços sobem, o real sofre. Países como Argentina, Turquia, Nigéria e Zimbábue sofrem do mesmo mal, mas, para outros, como os Estados Unidos, a resposta pode ser diferente.

É o que defende Will Denyer, economista-chefe da Gavekal Research para os EUA. “A aceleração da inflação nos EUA este ano tem estado associada à força do dólar americano. Então, a resposta é “depende”. E depende se o seu banco central é ou não considerado sério e confiável.Depende se o seu banco central é ou não considerado sério e confiável”, escreveu Denyer em relatório.

A mudança depende da avaliação do mercado. Isso porque a inflação alta é normalmente lida como um sinal de que o banco central do país precisa apertar a política monetária. Se o BC for considerado confiável, o mercado irá esperar esse aperto, o que deve favorecer a moeda. “ Em contrapartida, se o seu banco central não for confiável, o aumento da inflação será visto como um sintoma de incontinência monetária.”

Para quem investe, Denyer recomenda que sejam feitas duas perguntas:

  1. A tendência da inflação está acima ou abaixo da meta?
  2. O banco central está falando sério ou não?

O exemplo dos EUA

Entre meados de 2021 e a metade de 2022, a inflação nos EUA ficou muito acima da meta. O Fed demorou, mas quando reagiu o fez de forma agressiva. O resultado foi uma recuperação de 25% no índice DXY do dólar americano mesmo com a inflação ainda muito acima da meta.

Depois, quando a inflação enfraqueceu, o dólar acompanhou a fraqueza com os investidores na expectativa de que o Fed seria menos agressivo. “Essa correlação positiva entre a inflação e a taxa de câmbio do dólar americano também ficou evidente este ano; à medida que a inflação reacelerou, o dólar americano subiu. Claramente, o mercado acredita que o Fed leva a sério a concretização do seu objetivo de inflação de 2%”, argumentou.

O Fed está falando sério?

Denyer admite que o assunto é tema de debate dentro da Gavekal. A grande questão é se o Fed vai aceitar um nível de inflação mais elevado no futuro. O economista coloca suas expectativas na conta de Jerome Powell, presidente do Fed.

“Embora Powell tenha demorado a reagir à recuperação inicial da inflação, tudo o que fez nos últimos dois anos indica que está comprometido com a meta de 2%, incluindo as suas recentes declarações de que a inflação voltou a subir”, disse.

Quando o seu mandato terminar, em maio de 2026, existe o risco de Powell ser substituído pelo que Denyer chama de “lacaio político”. “Até lá, o Fed pode ser considerado confiável. Isso significa que a inflação acima da meta tenderá a ser positiva para o dólar americano, com uma inflação mais fraca apontando para uma moeda mais fraca”, completou.

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