Sede do BTG Pactual em São Paulo | Foto: Leandro Fonseca/Exame (Leandro Fonseca/Exame)
Marcelo Sakate
Publicado em 26 de outubro de 2020 às 10h56.
A aquisição da Necton Investimentos pelo BTG Pactual vai propiciar um importante ganho de escala para o braço de varejo digital do banco, reforçando duas das três frentes estratégicas de crescimento. É o que afirma Marcelo Flora, head do BTG Pactual Digital.
O negócio foi comunicado ao mercado nesta segunda-feira, 26, pela manhã, antes da abertura da bolsa. O valor da operação, que foi antecipada pela EXAME (do mesmo grupo que controla o BTG) no domingo à noite, é de 348 milhões de reais.
"Esse mercado demanda muito investimento em tecnologia e marketing. E ganho de escala é fundamental", diz Flora ao explicar o racional por trás do negócio. O banco já investiu mais de 1 bilhão de reais no BTG Digital desde o início do projeto.
Atualmente o BTG Pactual faz a gestão de mais de 500 bilhões de reais de clientes, incluindo a área de varejo digital e as tradicionais áreas de Asset Management e de Wealth Management (gestão de fortunas).
Com a aquisição da corretora Necton, vai incorporar perto de 16 bilhões de reais em ativos sob custódia, que vão se somar aos 120 bilhões de reais atualmente em custódia.
A aquisição da Necton pelo BTG é o mais recente exemplo de um movimento de consolidação do mercado para o investidor de varejo, em linhas com duas mudanças estruturais: os menores juros básicos da história do país, que tiram a atratividade da renda fixa e aceleram a migração do investidor para produtos mais sofisticados -- é o fenômeno conhecido como financial deepening; e o avanço da digitalização, que simplifica e acelera o acesso a informações e a ferramentas de investimento, como as plataformas abertas com produtos de todo o mercado.
O BTG vai pagar o equivalente a 2% dos ativos sob custódia da Necton, abaixo dos padrões do mercado e sinalizando que foi uma aquisição com preço atraente para o banco -- a conta desconta do valor do negócio cerca de 50 milhões de reais do patrimônio da corretora. As conversas entre as duas partes começaram há cerca de um ano.
Com a Necton, o BTG Digital reforça duas das três frentes de crescimento estratégico: o canal B2C, representado pela plataforma aberta 100% digital, com aquisição de clientes via marketing online; e o canal B2B, com forte atuação de escritórios de agentes autônomos, gestoras e consultores autorizados pela CVM, com tíquete médio mais elevado.
O terceiro canal é de advisors, com assessores que são funcionários e comissionados. A Ourinvest, adquirida no ano passado, atende essa lacuna, com o aumento da capacidade de distribuição de produtos estruturados e imobiliários a um público mais sofisticado.
A marca e a operação da Necton vão continuar a funcionar de forma separada até que o negócio seja aprovado pelo Banco Central, o que se espera que aconteça em menos de um ano. Uma referência foram os dez meses para a aprovação da Ourinvest.
Nesse espaço de tempo, os executivos do BTG vão avaliar como tomar melhor proveito das sinergias e o grau de integração entre as operações.
A Necton, que nasceu há dois anos da fusão de duas corretoras tradicionais do mercado -- a Spinelli e a Concórdia --, cresceu nos últimos anos com aquisições de outros players, como a Coinvalores e a Lerosa, além de forte atuação em marketing.
Os principais acionistas e executivos da Necton vão se tornar sócios do BTG, dentro do modelo de partnership do banco.