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Da Redação
Publicado em 13 de outubro de 2010 às 21h02.
Quando o assunto é o cenário econômico dos próximos meses, os especialistas do mercado financeiro são unânimes em seu otimismo. Os prognósticos são de queda nos juros, inflação controlada, câmbio valorizado e poucas chances de imprevistos políticos nas eleições. Para eles, a economia brasileira deverá seguir seu fluxo como as águas de um rio tranqüilo, sem expectativa de grandes temporais à vista. "Teremos um fim de ano de temperatura morna", avalia o consultor financeiro independente Fábio Colombo. "O barco pode balançar um pouco devido ao cenário internacional, mas a conseqüência dessa turbulência será limitada." Para o investidor, o efeito mais relevante vem sendo notado nos juros. Há 12 meses, o Banco Central (BC) começou um gradual mas contínuo processo de redução. As taxas recuaram de quase 20% para cerca de 14% ao ano, patamar que deve se manter até fins de 2006. Essa redução vem provocando um inexorável movimento no mercado financeiro, forçando a migração de dinheiro da dívida pública para os títulos privados de renda fixa.
Qualquer movimento nessas aplicações, ainda que milimétrico, provoca profundas mudanças na forma de financiamento das empresas. Segundo o balanço semestral da Associação Nacional de Bancos de Investimentos (Anbid), cerca de 60% dos quase 820 bilhões de reais aplicados em fundos no fim de junho estão direcionados para a renda fixa. A maior parte desse dinheiro destina-se às aplicações em títulos públicos. Só para comparar, o total de empréstimos bancários para as empresas era de 233 bilhões de reais no final do mês de junho, pouco mais de 25% do total de fundos. "O aumento de um único ponto percentual de participação dos papéis privados representa bilhões a mais em dinheiro para as empresas", afirma Paulo Eduardo Sampaio, superintendente da Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (Andima).
Os títulos privados são considerados mais arriscados do que os papéis públicos, com base na convicção de que o governo sempre vai pagar o que deve - ele é o único que pode imprimir dinheiro para honrar suas dívidas. Para compensar o risco adicional, os papéis emitidos por empresas e bancos pagam juros mais elevados. "Isso é irresistível para o investidor neste momento de taxas em baixa", diz Antonio Carlos Teixeira, superintendente-geral da Cetip, empresa pertencente aos bancos e que realiza quase todas as transações com títulos privados no mercado financeiro. Por isso, nomes até então restritos a especialistas - como fundos de recebíveis e debêntures - passaram a freqüentar mais e mais as conversas dos investidores.
Os fundos de recebíveis são um bom exemplo desse novo momento. Batizados oficialmente de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC), eles vêm sendo uma das alternativas de investimento mais bem-sucedidas de 2006. Mesmo restritos aos chamados investidores qualificados - aqueles que têm mais de 300 000 reais para aplicar e, teoricamente, são mais capazes de analisar os riscos que correm -, esses fundos captaram 2,4 bilhões de reais só no primeiro semestre do ano, elevando seu patrimônio total para 14 bilhões de reais.
| As opções do mercado | |||
| Alternativas com mais e menos risco para os investidores | |||
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Menos Risco
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Mais risco
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| Investimento | Fundos DI e de renda fixa | Fundos de recebíveis (FIDC) | Debêntures |
| Característica | Aplicam em títulos públicos e privados | Investem em créditos que a empresa vai receber |
Papéis de longo prazo lançados pela empresa |
| Quem pode investir | Todos | Só quem tem mais de 300 000 reais | Só quem tem mais de 300 000 reais |
| Rentabilidade anual média | 15% | 16% | 18% |
| Fontes: Anbid, Andima e Uqbar | |||
A carteira de um fundo de recebível é composta de títulos que representam contas que uma empresa tem a receber. Podem ser vendas futuras, prestações de financiamentos ou tarifas de serviços. A receita do fundo é formada a partir das faturas que vão sendo pagas e o valor recebido é distribuído aos investidores. A rentabilidade dos fundos de recebíveis depende diretamente do risco que o investidor corre. Quanto melhor a classificação de risco - ou rating, normalmente fornecido por uma empresa especializada -, menor a rentabilidade do fundo.
Atualmente, os fundos com menores riscos pagam taxas de cerca de 106% dos juros de mercado, o que representa uma rentabilidade de 15,5% ao ano. Os fundos mais arriscados rendem 16,25% ao ano. "A maior parte desses fundos representa uma boa alternativa para o investidor, pois eles oferecem riscos de crédito baixos e as taxas são superiores à média de um título público", afirma Ricardo Martins, gestor da corretora Concórdia. Mas é bom saber que os fundos de recebíveis são investimentos de longo prazo - em geral, o investidor tem de esperar 18 meses até começar a receber seu dinheiro aplicado acrescido dos juros.
Outra opção de investimento que vem crescendo significativamente são as debêntures. Esses papéis são títulos de longo prazo, com duração de cinco a dez anos, que são emitidos pelas empresas para captar recursos a preço estável. No ano passado, as emissões desses títulos atingiram 43,5 bilhões de reais, o maior nível em relação aos cinco anos anteriores. Neste ano, esse total já foi batido entre janeiro e julho. De acordo com Sampaio, da Andima, há 26 bilhões de reais em novas emissões à espera de aprovação. "Existe uma grande demanda por papéis privados, mas a maior parte ainda é de investidores institucionais; há poucas emissões voltadas para pessoas físicas", diz. Alguns lançamentos recentes, como os da Ambev, que captou 2,7 bilhões de reais com debêntures, da ALL e da BV Financeira, empresa do Banco Votorantim especializada no financiamento de veículos, contemplaram a possibilidade de vender parte dos papéis a pessoas físicas, mas sua participação ainda é pequena. A maioria dos papéis é emitida com valor de 10 000 reais, pagando os juros de mercado mais um pequeno prêmio.