Fundos de pensão: a busca por uma renda estável transformou os fundos de previdência da Europa em todo tipo de coisa, até donos de sex shops holandeses (Ricardo Martins from Gent/ Wikimedia Commons)
Luísa Granato
Publicado em 4 de novembro de 2016 às 15h34.
Londres - Há três anos, o prefeito de Amsterdã perguntou em uma sala cheia de gerentes de fundos de pensão quem estaria disposto a investir na regeneração da famosa zona de prostituição da cidade. Só duas pessoas levantaram a mão.
Hoje, a mesma pergunta poderia ter desencadeado uma guerra de apostas.
“No mercado atual, todo mundo que estava naquela sala teria levantado a mão”, disse Boris van der Gijp, diretor da assessoria de fundos de pensão Syntrus Achmea Real Estate & Finance, que participou do evento.
“Mas, naquela época, não havia tantas partes dispostas nem sequer a avaliar esse tipo de operação.”
Em uma época com juros extremamente baixos e populações envelhecidas, até os investidores institucionais mais avessos aos riscos agora estão comprando ativos que antes pareceriam inconcebíveis.
Como grande parte do ganha-pão deles -- os títulos de governos -- rende menos que zero, a busca por uma renda estável transformou os fundos de previdência da Europa em todo tipo de coisa, de donos de sex shops holandeses e bingos britânicos a investidores em loterias em Gibraltar.
As poupanças para a aposentadoria dos funcionários da BBC estão ajudando a pagar por um novo túnel de esgoto em Londres, e a Pension Insurance Corporation comprou dívida da Virgin Atlantic que tem como garantia slots no aeroporto de Heathrow.
A alemã Versicherungskammer Bayern até pensou em investir em abrigos para refugiados neste ano.
“O que deu certo nos últimos oito anos não vai dar certo nos próximos oito”, disse Ingo Heinen, diretor de vendas de investimentos alternativos da BlackRock em Londres.
Essa busca por rendimentos “é uma continuação da tendência que observamos há alguns anos, mas agora estamos conversando mais do que nunca com nossos clientes e eles estão investindo cada vez mais dinheiro em ativos reais”.
Loterias, bingos
A busca por retornos já acabou mal anteriormente, embora a época atual seja uma exceção, o que significa que surgiram alguns beneficiários incomuns para o dinheiro das pensões.
Um deles é a Lottoland, com sede em Gibraltar, que permite que os jogadores apostem nos maiores sorteios de loteria do mundo, como EuroMillions e MegaMillions.
O CEO Nigel Birrell recorreu aos investidores pela primeira vez em 2015, quanto captou 100 milhões de euros para ajudar a se proteger do pagamento de grandes prêmios.
Outro é o bingo. A M&G Investments, em nome de clientes como o fundo de pensão que representa a Associação de Médicos Britânicos, comprou 52 clubes da Gala Leisure por 173,5 milhões de libras com um rendimento líquido de 8,4 por cento.
O fundo de investimentos imobiliários, administrado pelo diretor de renda imobiliária Ben Jones, já investiu o dinheiro das pensões em clínicas de reabilitação, academias de ginástica e sites de leilão de automóveis.
Jones recebeu a ideia de um analista da divisão de créditos da M&G que fazia empréstimos à Gala há mais de uma década.
“Ao contrário do que as pessoas acham, o bingo não é um setor em declínio”, disse Jones, cuja carteira é composta principalmente por dinheiro de pensões.
“Em primeiro lugar, e acima de tudo, os investidores procuram renda no longo prazo.”