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Fundos de pensão reduzem retorno com queda da Selic

O BC cortou a taxa básica de juros em 400 pontos-base desde agosto, a maior redução entre as 20 nações mais ricas

Outros fundos de pensão devem rever suas metas depois que o Banco Central reduziu a taxa Selic para a mínima histórica de 8,5% (Agência Brasil)

Outros fundos de pensão devem rever suas metas depois que o Banco Central reduziu a taxa Selic para a mínima histórica de 8,5% (Agência Brasil)

DR

Da Redação

Publicado em 6 de junho de 2012 às 08h28.

São Paulo - A queda da taxa básica de juros está levando os fundos de pensão a reduzirem suas metas de retorno.

A Fundação Cesp, quarta maior do país, pode cortar sua meta de rendimento real para até 5 por cento, disse Euzebio Bomfim, diretor de aposentadoria da fundação. Outros fundos de pensão devem rever suas metas depois que o Banco Central reduziu a taxa Selic para a mínima histórica de 8,5 por cento na semana passada, disse José de Souza Mendonça, presidente da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar.

O BC cortou a taxa básica em 400 pontos-base desde agosto, a maior redução entre as 20 nações mais ricas, para estimular o crescimento. Com isso, o rendimento dos títulos do Tesouro caiu. Os fundos de pensão terão de se voltar para títulos de dívida corporativa de mais alto rendimento e investimentos em private e venture capital para garantir retornos, disse Mendonça.

“Os juros estão tendo uma queda consistente, então achamos que é uma queda estrutural”, disse Bomfim em entrevista por telefone de São Paulo. “Você tem que fazer novos cálculos baseados nos juros.”

O rendimento das Letras do Tesouro Nacional com vencimento em 2013 caiu 322 pontos-base, ou 3,22 ponto percentual, desde agosto para 8,05 por cento, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A taxa da dívida doméstica do governo mexicano com prazo similar recuou oito pontos-base no mesmo período para 4,45 por cento. O Ibovespa acumula queda de 7,5 por cento neste ano após uma valorização de 18 por cento em 2011.

Apostas nos juros

Investimentos em ações responderam por 3o por cento das carteiras dos fundos de pensão brasileiros em 2011, de acordo com dados da Abrapp. Investimentos em renda fixa corresponderam a 61 por cento.

O Comitê de Política Monetária baixou a Selic em meio ponto percentual na semana passada, citando a “fragilidade” externa que está exercendo pressão “desinflacionária” sobre a economia brasileira. Os contratos de juros futuros indicam que os operadores apostam que o presidente do BC, Alexandre Tombini, vai reduzir o juro básico para 8 por cento no mês que vem.

Um representante do BC se negou a comentar.

Em 1 de maio, a presidente Dilma Rousseff disse considerar inadmissível o Brasil continuar com os juros mais altos do mundo. A taxa com ajuste para inflação está em 3,4 por cento, a segunda mais elevada entre os países do Grupo dos 20, atrás da Rússia.

Os fundos de pensão “terão que aceitar metas reduzidas”, disse Mendonça em entrevista por telefone de São Paulo. “Estamos num momento de mudança radical. Temos que mudar nosso pensamento. Há 10 anos, os títulos públicos pagavam inflação mais 11 por cento. Já não existe isso.”


Fundos da Previ

A Fundação Cesp é o fundo de pensão dos funcionários da Cia. Energética de São Paulo, a segunda maior empresa de eletricidade do Brasil por valor de mercado. As metas de retorno para 10 fundos da Fundação Cesp variavam de 11,39 por cento a 11,92 por cento em termos nominais no ano passado, de acordo com o website da Cesp. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo fechou 2011 em 6,5 por cento.

A Previ, fundo de aposentadoria dos funcionários do Banco do Brasil SA e maior do país na categoria, deixou de cumprir as metas prometidas para seus dois maiores fundos no ano passado. O retorno sobre os investimentos do Plano 1 caiu de 12,4 por cento em 2010 para 7,7 por cento no ano passado, liderado pelas perdas com ações. A meta era de 11,38 por cento. O retorno do fundo Previ Futuro diminuiu de 9,3 por cento em 2010 para 4,6 por cento no ano passado. A meta do plano é 11,91 por cento.

Um representante da Previ se negou a comentar.

Maurício da Rocha Wanderley, diretor de investimentos do fundo de pensão dos empregados da Vale SA, conhecido como Valia, vem se preparando para os cortes de juros e não espera que seus fundos tenham retorno inferior ao objetivado.

“Temos diversificado nossa carteira, e a queda de juros vai dar sustentação a nosso movimento em direção à economia real, a ações, private equity e imóveis”, disse Rocha em entrevista por telefone do Rio de Janeiro.

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