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Fundo de pensão do Canadá quer investir em óleo e gás no Brasil

O desafio é a concentração de mercado nas mãos da Petrobras, que não deu espaço para outras empresas de produção e exploração surgirem, segundo CPPIB

Rodolfo Spielmann, responsável pela operação da América Latina da CPPIB: cerca de 16,4 bilhões de dólares canadenses (12,6 bilhões de dólares) estão investidos na região, o que representa 4% do portfólio total do fundo (CPPIB/Divulgação)

Rodolfo Spielmann, responsável pela operação da América Latina da CPPIB: cerca de 16,4 bilhões de dólares canadenses (12,6 bilhões de dólares) estão investidos na região, o que representa 4% do portfólio total do fundo (CPPIB/Divulgação)

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Natália Flach

Publicado em 21 de janeiro de 2020 às 15h00.

Última atualização em 22 de janeiro de 2020 às 09h32.

São Paulo - Com patrimônio de mais de 410 de bilhões de dólares canadenses (cerca de 314 bilhões de dólares), o fundo de pensão do Canadá quer investir no setor de geração tradicional de óleo e gás no Brasil. No ano passado, o Canada Pension Plan Investment Board (CPPIB), que é um dos maiores do mundo, chegou a integrar um consórcio para comprar a Transportadora Associada de Gás (TAG), subsidiária da Petrobras. O único problema é que quem ganhou a disputa foi o grupo liderado pela francesa Engie.

"Isso [investimento na geração de óleo e gás] é uma área nova, ainda focada nos Estados Unidos, mas podemos trazer para cá em 2020", afirma Rodolfo Spielmann, responsável pela operação da América Latina da CPPIB. O desafio, segundo o executivo, é a concentração desse mercado nas mãos da Petrobras, que não deu espaço para outras empresas de produção e exploração surgirem. "Até existem players internacionais, como a ExxonMobil, mas eles não precisariam do nosso capital para operar. O que buscamos é um parceiro para cuidar da operação e do negócio no dia a dia, enquanto nós entramos com o investimento financeiro", afirma .

O investimento do CPPIB na região, no entanto, não se restringe a um único segmento. No fim do ano passado, por exemplo, o fundo comprou uma fatia da rede de academias SmartFit e já tinha participação em imóveis (em parceria com a Aliansce Shopping Centers e com a Cyrela), em energia e logística com a GLP.

Ao todo, cerca de 16,4 bilhões de dólares canadenses (12,6 bilhões de dólares) estão investidos na América Latina, o que representa 4% do portfólio total do fundo. Já a parcela brasileira é de 6,7 bilhões de dólares canadenses (pouco mais de 5,1 bilhões de dólares).

Confira abaixo os principais trechos da entrevista concedida a EXAME, no fim de dezembro.

EXAME: Quais setores têm chamado atenção de vocês?

Diferentemente de fundos que são mais quadradinhos, nós estamos mais abertos a diferentes tipos de investimentos. No grupo de equities (ações), estamos atentos aos setores que têm maior possibilidade de ganhos com retomada da economia, como educação, saúde, varejo nas suas diferentes formas (e-commerce, cadeias de restaurantes), além do setor de serviços e de tecnologia. É com essa lente de consumo e de crescimento que decidimos comprar uma fatia da SmartFit. Também olhamos para infraestrutura. Nesse segmento, entram rodovias, portos, aeroportos, transmissão de energia, geração de energia renovável, além de parques eólicos.

EXAME: Como é a composição da carteira de vocês?

Na América Latina, a nossa maior fatia é em infraestrutura, já no Brasil é no mercado imobiliário, com cerca de 2 bilhões de dólares canadenses em ativos. Olhamos de cinco a sete teses de investimento de cada área ao mesmo tempo. Dessa análise, pode não sair nada, mas pode sair tudo. Algumas vezes passamos dois anos negociando, especialmente no caso de infraestrutura. É necessário ter muita paciência, porque são muitas instâncias envolvidas no processo, desde ministério da economia até órgãos ambientais.

EXAME: Por falar em governo, o que acha da agenda de concessões?

É uma oportunidade. Muitas vezes, não temos interesse em entrar na concessão diretamente. Mas o grupo vencedor pode precisar se desfazer de um ativo estratégico para ter liquidez para disputar o leilão. Aí podemos dar essa liquidez comprando o ativo. Além disso, acho que o setor de saneamento pode ser interessante. Aí o desafio é mais escala, não é qualquer rede que vai ser atraente para nós. Buscamos investimentos em infraestrutura a partir de 500 milhões a 600 milhões de dólares canadenses.

EXAME: Qual é o peso da América Latina em relação às demais regiões do mundo?

Dividimos o portfólio por geografias. Hoje, temos 20% em mercados emergentes e podemos ter até 33% até 2025. Desse total, a América Latina pode chegar a responder de 7% a 8% do portfólio, que é mais ou menos o seu produto interno bruto em relação ao mundo. Nossa expectativa é chegar a 600 bilhões de dólares canadenses (460 bilhões de dólares) até 2025. Se mantivermos a proporção de 7% a 8%, isso significa que a América Latina poderá ter de 42 bilhões a 48 bilhões de dólares canadenses (ou 32 bilhões a 37 bilhões de dólares). Mas ninguém fala “você precisa ter x no Chile e y no Brasil”, porque isso é perigoso. Faz com que as pessoas tomem decisões só para bater metas. O nosso foco tem de ser no retorno médio de longo prazo de 11%.

EXAME: Várias vezes o senhor citou "longo prazo" durante a nossa conversa. Portanto, qual é a diferença entre um fundo de pensão e um fundo de investimentos tradicional?

Como nosso único cotista é Canada Pension Fund, temos perspectiva de funding de longo prazo, o que nos permite ter 85% do portfólio em renda variável e somente 15% em renda fixa. Se tivéssemos outros cotistas, teríamos que ter liquidez diária.

EXAME: Alguns fundos de pensão só investem em países que têm grau de investimento. Não é o caso de vocês...

O "downgrade" [rebaixamento da nota do país] do Brasil veio um ano depois que abrimos o escritório aqui. Mas não existe necessidade de o país ser "investment grade". O que importa pelo nosso estatuto é risco ajustado pelo retorno.

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