A National Cattlemen's Beef Association pediu que o governo americano tome medidas ainda mais duras contra a exportação de carne brasileira (Mohssen Assanimoghaddam/Getty Images)
Repórter de Mercados
Publicado em 4 de setembro de 2025 às 15h58.
O pedido de veto à carne brasileira, feito por pecuaristas americanos ao governo dos Estados Unidos, reacende e reforça temores que pairam sobre a indústria de proteína animal desde que o presidente Donald Trump iniciou sua ofensiva tarifária contra o Brasil.
Hoje, o Brasil já paga 76,4% de tarifa ao vender carne para os EUA, contra os 26,4% de antes do "tarifaço". Mas a National Cattlemen's Beef Association pede medidas ainda mais duras, como antecipou a EXAME.
A taxa de 50%, segundo a associação, é um bom primeiro passo, mas ainda pequeno para conter as importações de carne bovina do Brasil - que estariam desestimulando a compra de outros parceiros comerciais, como Japão, Irlanda e Reino Unido.
A pressão ocorre dentro de um contexto no qual o rebanho dos Estados Unidos, o maior do mundo, está encolhendo, sendo incapaz de abastecer os frigoríficos locais, que estão cada vez mais dependentes deimportações.
Caso a taxa de fato se endureça contra as exportações de carne bovina do Brasil, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) espera uma queda forte nas vendas.
Segundo Roberto Perosa, presidente da Abiec, uma nova taxa tornaria a exportação “inviável”. A previsão era que o Brasil atingisse US$ 1 bilhão em vendas no segundo semestre em exportação para os EUA.
Em 2024, o Brasil exportou US$ 1,3 bilhão de carne bovina para o território americano, cifra que foi o triplo da de 2020.
E a grande maioria das empresas exportadoras são de capital aberto — JBS (JBSS3), Marfrig (MRFG3) e Minerva Foods (BEEF3).
Levando em conta projeções feitas pelos bancos quando as primeiras tarifas de Trump sobre o Brasil foram anunciadas, Minerva parecia a mais sensível à aplicação de tributos.
O Goldman Sachs chegou a estimar que 18% da receita da empresa viria das exportações aos EUA. A companhia, por sua vez, explicou que o impacto chegaria a, no máximo, 5%. De qualquer forma, operações da companhia em países vizinhos, como Argentina, Paraguai e Uruguai também exportam para os EUA.
Um outro relatório, do Itaú BBA, apontava JBS como menos afetada pela tarifa, já que a companhia tem operações em território americano há 18 anos, beirando 100 unidades produtivas no país. Fora os investimentos bilionários que a companhia tem feito por lá.
A JBS, por outro lado, estaria relativamente protegida, já que apenas 4% de suas vendas são de exportações para os EUA. Isso mostra os benefícios de sua plataforma diversificada, com múltiplos produtos, marcas, destinos e locais de produção globais, afirmam os especialistas do Goldman Sachs.
A Marfrig, em processo de fusão com a BRF, opera a National Beef nos Estados Unidos. A Folha de S. Paulo chegou a noticiar que uma operação da companhia no Mato Grosso teria sido suspensa em função do "tarifaço" de Trump.
A companhia não só desmentiu a informação, como destacou "ausência" de qualquer impacto na receita e rentabilidade da companhia em função da política tarifária americana.
Mas a verdade é que deste o início dessa guerra tarifária, as ações dos frigoríficos brasileiros ganharam valor.
Do fechamento de 9 de julho, quando Trump anunciou as primeiras tarifas contra o Brasil, ao fechamento de ontem, 3 de setembro, as ações BEEF3 acumulavam alta de 11,5%.
Os papéis da Marfrig (MFRG3), por sua vez, sobem 10,7% nesse mesmo intervalo. Já as ações da JBS negociadas na Bolsa de Nova York acumulam ganhos de 20,6%.