Heverton Peixoto, CEO da Wiz (Paulo Negreiros/Divulgação)
Paula Barra
Publicado em 28 de março de 2021 às 13h43.
Última atualização em 29 de março de 2021 às 09h15.
O fim da parceria de 47 anos com a Caixa representa um marco para a Wiz (WIZS3), até pouco tempo conhecida como a corretora de seguros do banco estatal. Embora, no primeiro momento, o mercado tenha de certa forma lamentado o anúncio, feito em fevereiro (tendo em vista que 70% da receita da companhia vinha do balcão da Caixa) - no ano, os papéis acumulam queda de 14% -, “tirar a gravata” vai obrigar a companhia a pensar cada vez mais em novas linhas de negócios para continuar a crescer.
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O desafio é grande. Primeiro, mostrar ao mercado que a Wiz não é mais aquela empresa que nasceu dentro da Caixa, dependente da estatal, mas uma “nova Wiz”, com dinâmica ágil, tecnológica e que tem trabalhado para construir amplas frentes de receitas. Segundo, dar continuidade aos seus planos ambiciosos de expansão.
“Queremos ser, e seremos, a maior gestora de canais de distribuição de produtos financeiros do país. Temos menos apetite por produtos de investimentos, outras empresas já ocuparam esse espaço. Mas quando falamos em seguros e crédito, ainda não existem donos naturais do mercado. Não existe nenhum player estruturado, com capital listado, com o nível de governança que temos. Os players existentes são históricos”, disse Herverton Peixoto, CEO da Wiz, em entrevista à EXAME Invest.
Para atingir esse objetivo, a companhia vem passando por um longo processo de transformação nos últimos dois anos e meio. Isso porque, embora tenha sido encerrado este ano, o acordo com a Caixa sofreu uma renegociação em meados de 2018, o que abriu caminho para a Wiz – que até então podia trabalhar somente com a estatal – expandir suas linhas de atuação.
Nesse tempo, a empresa comprou 40% da Inter Seguros - empresa responsável pela distribuição de seguros para os clientes do banco Inter -, criou uma joint venture com o banco BMG, além de ter concretizado, já nos primeiros meses deste ano, uma parceria com o Itaú para comercialização de consórcios e uma joint venture com a rede de concessionárias Caoa para venda de seguros.
“Estamos muito seguros que essa nova Wiz é mais forte, mais diversificada e mais resiliente do que a antiga Wiz [corretora da Caixa]”, disse Peixoto. “A companhia já vinha se comportando como uma startup, com uma dinâmica diferente da cultura do passado, quando tínhamos só um parceiro. Temos muita ciência de que isso [o fim do contrato] abre ainda mais novos ares para a companhia agora”.
Entre os planos de expansão, Peixoto conta que a empresa está se preparando para entrar no mercado imobiliário ainda este ano. O projeto visa conectar as imobiliárias ao mercado de seguros e crédito, oferecendo para o cliente toda a solução em um só lugar.
“Hoje, se você for comprar um imóvel ou alugar, muito provavelmente a imobiliária vai pedir para que procure por um corretor de seguros ou uma agência bancária para contratar um seguro residencial ou achar um fiador. Provavelmente, vai te direcionar para um banco para pegar um financiamento".
"Vemos isso como falta de comodidade, falta de atendimento ao cliente e perda de receita para essa imobiliária, porque ela mesmo poderia oferecer esses serviços”, comentou.
A ideia, explica, é transformar as imobiliárias em uma espécie de instituição financeira, de forma similar ao que fizeram com a operação de veículos, na qual transformaram as concessionárias em operações de seguros de veículos, com tecnologia e conectividade.
“Vamos fazer isso com as imobiliárias também. Vamos entrar forte nesse mercado para que, no limite, o corretor de imóveis vire um banqueiro”, acrescentou.
Segundo Peixoto, a Wiz tem como primeiro alvo conectar de 5 mil a 10 mil imobiliárias. “Nada na Wiz é feito para ser pequeno. Estamos avaliando o melhor ângulo para entrar nesse mercado, se de forma orgânica ou inorgânica, mas vai ser ao longo deste ano”, disse.
Além de expandir para novos mercados, Peixoto comenta que a empresa vai continuar crescendo também no seu negócio principal, na operação bancassurance, ou seja, parcerias com bancos para a oferta de seguros, como as estabelecidas com o Banco Inter e Banco BMG.
No ano passado, a Inter Seguros viu sua receita mais do que dobrar, enquanto a parceria com o Banco BMG agregou mais 24,2 milhões à receita da companhia no quarto trimestre, que totalizou em 262,5 milhões de reais, avanço de 28% frente ao mesmo trimestre de 2019.
“Estamos otimistas que o mercado ainda não conseguiu ver a Wiz que estamos trabalhando”, comentou o executivo.
Sobre o fim do contrato, Peixoto explica que, embora represente um impacto no resultado da empresa neste e no próximo ano, a Wiz não perderá de uma só vez a receita oriunda da Caixa.
Segundo ele, a empresa ainda terá direito de receber receitas por apólices vendidas na Caixa antes de 15 de fevereiro, e pelo tempo que vigorarem. “Existem linhas de negócios que têm um tempo médio de até 12 anos”, comentou.
Essa carteira remanescente, chamada de “carteira em run-off”, representou um terço da receita bruta da Wiz no acumulado dos nove primeiros meses de 2020.
Além disso, há um tempo de transição. A companhia vai continuar prestando serviços à Caixa até agosto deste ano. Nesse período, a Wiz terá uma redução da alíquota comercial de 100% até 50% no último mês em relação aos comissionamentos sobre vendas de produtos de seguros, previdência e consórcio, de uma base de 90% dos negócios concretizados.
“Obviamente, vamos ter um impacto com a perda de novas receitas, mas o investidor da Wiz pode esperar que já temos um plano muito bem estruturado para recuperar isso em um prazo muito curto, em, no máximo, três anos”, disse.
No começo deste mês, analistas do BTG Pactual comentaram que, por ora, permanecem com recomendação neutra para as ações da companhia, mas reiteraram que estão atualizando o modelo para melhor avaliarem , o que chamaram de "nova Wiz".
Segundo eles, com um valor de mercado de apenas 1,1 bilhão de reais, a ação parece barata em Bolsa. Nas contas dos analistas, somente a participação de 40% que a companhia detém na Inter Seguros pode valer, por si só, mais do que toda a empresa em algum momento do futuro.
No entanto, com tantas variáveis em jogo, "a realidade é que ainda estamos um pouco 'perdidos' sobre como pensar e modelar a nova Wiz", apontaram os analistas.
Ainda assim, eles destacaram que, embora não seja surpresa ver o desempenho negativo dos papéis desde o fim do contrato com a Caixa (dada a relevância para as receitas da Wiz), "outras iniciativas e parcerias estão ganhando relevância de forma muito mais rápida do que o esperado".
"A gestão da Wiz tem mostrado uma capacidade de reinventar seu modelo de negócios. E, se for mantida essa tendência, as ações da Wiz podem se mostrar muito atraentes agora", comentaram.