Invest

Focus: Por que a Selic não cai nas projeções dos economistas?

Mesmo com a queda da inflação, do PIB e do dólar, projeções mantêm juros em 15% diante de incertezas fiscais

A leitura entre economistas é de que a incerteza fiscal continua pressionando a política monetária, dificultando a redução dos juros, mesmo com o alívio em outros indicadores. (AndreyPopov/Thinkstock)

A leitura entre economistas é de que a incerteza fiscal continua pressionando a política monetária, dificultando a redução dos juros, mesmo com o alívio em outros indicadores. (AndreyPopov/Thinkstock)

Publicado em 25 de agosto de 2025 às 11h59.

Pela décima terceira semana consecutiva, as projeções do mercado para a inflação de 2025 sofreram recuo, de acordo com o Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira, 25, pelo Banco Central. Também houve queda nas estimativas para o PIB e o câmbio. A exceção é a taxa Selic, que virou uma espécie de ponto de resistência nas projeções, permanecendo em 15%.

A leitura entre economistas é de que a incerteza fiscal continua pressionando a política monetária, dificultando a redução dos juros, mesmo com o alívio em outros indicadores.

A mediana das projeções para o IPCA, índice que mede a inflação, recuou de 4,95% para 4,86%. A expectativa de crescimento do PIB caiu de 2,21% para 2,18%, e a taxa de câmbio foi revisada para baixo, de R$ 5,60 para R$ 5,59.

Segundo Bruno Corano, CEO da Corano Capital, a expectativa de deterioração fiscal e o aumento do risco-país ajudam a explicar a resistência na Selic.

“A cada ano, os gastos obrigatórios consomem uma fatia maior do orçamento público, o que tende a estrangular a capacidade de ajuste fiscal do governo”, afirma.

Expectativas seguem desancoradas

Para Luis Otavio de Souza Leal, economista-chefe da G5 Partners, dois fatores explicam a resistência dos economistas em reduzir a previsão para a taxa básica de juros.

O primeiro, é a sinalização do próprio Banco Central de que os juros devem permanecer altos por um período prolongado. O segundo, o fato de que, mesmo com a queda das expectativas de inflação para 2025, 2026 e 2027, elas ainda estão significativamente acima da meta oficial de 3%.

“O Banco Central tem dado ênfase à importância de reancorar as expectativas inflacionárias. Isso limita qualquer otimismo com cortes de juros ainda este ano. Entretanto, se os juros nos Estados Unidos caírem e isso levar a uma valorização do real, talvez vejamos algum movimento na Selic nas próximas semanas”, aponta Leal.

A combinação das incertezas fiscais locais com riscos externos, como a política tarifária do presidente Donald Trump, mantém o mercado cauteloso, explica o economista André Perfeito.

“Acredito que o mercado será forçado a revisar para baixo a Selic ainda neste ano, mesmo diante do cenário desafiador”, diz.

Os analistas da XP consideram que as expectativas de inflação em queda, a desaceleração da atividade econômica e a apreciação da taxa de câmbio abrem espaço para corte de juros já no início do ano que vem.

Já o BTG Pactual (do mesmo grupo de controle de EXAME) vê probabilidade de um corte ainda em dezembro.

“Mantemos nosso cenário de início do ciclo de afrouxamento monetário no primeiro trimestre de 2026, mas a melhora da inflação na margem e a perda de fôlego da demanda doméstica elevam a chance de um início já em dezembro, desde que haja uma reancoragem parcial das expectativas”, afirmam os analistas do banco.

O Banco projeta que a Selic ao final de 2026 e 2027 esteja em 12% e 10,50% ao ano, respectivamente, mas há viés de baixa — com espaço para que a taxa básica entre na casa de um dígito em 2027.

A economista Zeina Latif reforça que o grande desafio do Banco Central permanece sendo a credibilidade.

“O nó está no comportamento das expectativas inflacionárias de médio e longo prazo. A percepção de que o BC não está plenamente comprometido com a meta de 3% acaba mantendo os juros elevados por mais tempo”, afirma.

Acompanhe tudo sobre:SelicTaxasBanco CentralInflaçãoIPCADólarTarifas

Mais de Invest

Consignado CLT: Lei estende modalidade a autônomos, mas interesse dos bancos ainda é restrito

Ibovespa opera em alta com mercado repercutindo Boletim Focus

Investidor está mais otimista com a bolsa brasileira - não o bastante para aumentar investimentos

Bolsa Família: confira calendário para pagamentos em agosto de 2025